No início de dezembro, com muita honra, recebi autografado o livro de contos “Em busca de uma rede na varanda”.
Sugestivo, o nome do livro, de início, pareceu-me tratar de um personagem que poderia estar à procura de novos horizontes e de uma vida mais tranquila. Não encontrei exatamente esse personagem. Mas, deparei-me com histórias do cotidiano que ensinam a valorizar as chamadas “pequenas coisas”, na realidade grandes e essenciais para se atingir a plenitude humana, como ensinou Nietzsche.
No dia 15 de dezembro, o autor do livro, Desembargador Oton Lustosa, comunicou, no Plenário do TJPI, que se aposentará voluntariamente até o fim do recesso forense. Teria mais dez anos de exercício da função jurisdicional, que é manifestação do Poder do Estado, mas, sabiamente, preferiu abrir mão para ter tempo de “cuidar mais da saúde, estar mais presente no cotidiano da família e se dedicar às leituras e à produção literária”.
Trabalhei alguns anos com o juiz Oton Lustosa, quando exerci os cargos de juiz leigo e conciliador no Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Parnaíba, época em que aprendi muito, sobretudo quando conversávamos, no final do expediente, sobre literatura e direito.
Por conhecê-lo, confesso que não me surpreendeu a decisão do Des. Oton Lustosa de aposentar-se antecipadamente, pois além de magistrado, trata-se de um escritor experiente, de muita sensibilidade, que “sabe compreender as coisas verdadeiras e não aspira da terra as glórias passageiras”, como diria Alarico da Cunha na poesia “Ode à Mendiga”.
Dr. Oton Lustosa tem extenso currículo e reconhecidos conhecimentos jurídicos, porém, mais do que isso, admirável é a sua virtude de compreender que a “felicidade se acha é em horinhas de descuido”, como ensina Guimarães Rosa.
A atitude determinada e magnânima do Des. Oton Lustosa ainda me faz lembrar Renato Russo, na música “Índio”: “quem me dera ao menos uma vez Que o mais simples fosse visto como o mais importante”.
Duas décadas depois de trabalharmos juntos no Juizado Especial Cível e Criminal de Parnaíba, não imaginei que fosse continuar aprendendo com o Dr. Oton Lustosa. Desta feita, as maiores lições sobre o segredo da felicidade: ser simples, estar presente no cotidiano da família e dedicar-se à leitura.
É isso, vivendo e aprendendo. Ao encerrar esse texto, vou em busca de uma rede na varanda, para reler “O Pescador de Personagens”, outro livro de Oton Lustosa, e dele extrair mais lições. Afinal de contas, quero ser feliz!