ESTRUPO
Vitor de Athayde Couto
– Não seria estupro?
– Não. Estupro todo mundo conhece, Brasil afora, inclusive em alguns setores da imprensa que ainda têm coragem de noticiar fatos reais.
– Mas a imprensa não existe pra isso? Pra noticiar fatos reais? Não é esse o compromisso do jornalista com a verdade?
– Deveria, né? Mas, infelizmente, a imprensa mais abrangente é comprometida, ideológica, política e economicamente, com uma espécie de fakejornalismo.
– Notícias falsas?
– Sim, acho mais honesto falar assim.
– Então, estrupo, estrupo… o que seria então?
– Um estrupo ocorre quando se estupram os ouvidos das pessoas e de certos animais muito sensíveis, a exemplo dos cães, nossos melhores amigos.
– Eita, eu tenho três melhores amigos…
– E assim começamos a entender por que há mais mistérios entre as diferentes cidades e regiões do que imagina a nossa vã geografia cultural brasileira. E o resto é barulho.
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Eu, brasileiro, confesso meu orgulho: nunca critico nada nem ninguém. Prefiro elogiar e corromper Santo Agostinho, sentado no trono de um apartamento, em frente ao telão, com a boca cheia de pipoca. Enquanto a copa do mundo não vem, a minha alma senil e covarde torce para os adolescentes mudarem o mundo.
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