Depois das lutas pela Independência do Brasil, muitos piauienses ficaram com a conta pela ousadia do patriotismo. Um destes foi Simplício Dias da Silva, que teve seus bens, oficinas de couro e charque, navios e fazendas depredados pelas tropas do sargento português João José da Cunha Fidié, que vieram conter o brado de liberdade do Brasil, no Norte do Piauí. Depois da Proclamação da Independência em Parnaíba, os patriotas se passaram para o Ceará em busca de apoio para consolidá-la. Fidié invadiu Parnaíba, e com as suas tropas este militar conservou-se por três meses no litoral do Piauí, abatendo e consumindo as rezes destinadas às charqueadas dos Dias da Silva. O conjunto de empresas citado fazia girar o motor econômico de São João da Parnaíba e do Piauí. Com a delapidação deste patrimônio e a morte de seu principal empresário Simplício Dias da Silva, em 1829, a vila outrora opulenta, entrava em grande decadência, situação que só veio a se modificar no alvorecer do século XX, quando Parnaíba retomou seu vigoroso comércio, mas também com o ciclo da cera de carnaúba. Parnaíba, na primeira metade do século que inspirou, contou com grandes gestores que a fizeram progressista. Um destes foi Constantino de Moraes Correia.
Embora tenha ficado na gestão da cidade apenas dois anos, Constantino Correia foi um grande parnaibano, daqueles que sempre zelam pelo progresso de sua terra natal. Nasceu no dia 11 de agosto de 1872, filho do tenente-coronel Francisco Severiano de Moraes Correia e sua esposa Maria Cleofas de Moraes Correia. Foi contador, comerciante, jornalista, político, intendente de Parnaíba. Entre estudos e trabalho, além da sua terra, residiu em São Luís, Fortaleza, Rio de Janeiro e Sobral, aonde contraiu núpcias com a senhora Consuelo de Andrade. Em São Luís, no ano de 1909, o governador Benedito Leite deferiu-lhe a incumbência de reorganizar a escrituração do Tesouro Estadual. De volta ao Piauí, Constantino Correia estabeleceu-se em Floriano, sócio da firma Mota & Correia. Retornando a sua cidade, foi intendente municipal entre os anos de 1912 e 1913, deixando a cidade para, na Europa, cuidar da saúde de sua esposa. Foi sócio, em Parnaíba, do irmão Francisco de Moraes Correia, na firma comercial Moraes Correia & Cia.
Mesmo em tão curto tempo como prefeito, Constantino Correia nos deixou, entre suas obras, o esboço do espetacular bairro Nova Parnaíba, antigo Caatinga de Cima. No seu projeto de uma Parnaíba moderna, contemplou a cidade com um bairro de artérias largas, com ruas de 20 metros e avenidas com 30 metros de largura. Deixou, a espera do futuro, a boca da atual e majestosa avenida São Sebastião. Para Constantino Correia, a cidade deveria ser sempre projetada com bases iluministas, com ruas retas e direitas, sempre se antecipando ao avanço do crescimento da cidade.
Na renomada Associação Comercial de Parnaíba, Constantino Correia foi presidente no biênio 1927/1928. Como ilustre parnaibano, capitaneou a Campanha do Figueiroa, aqui descrita no livro Associação Comercial de Parnaíba – Lutas e Conquistas do saudoso professor Iweltman Mendes: A cidade foi surpreendida com atos arbitrários e afrontosos do inspetor da Alfândega Federal, senhor Waldemar Figueirôa, o qual, sob a justificativa de coibir contrabando e irregularidades, ofendeu comerciantes e magoou famílias parnaibanas. A reação à violência e à arbitrariedade foi manifestada pela ACP, através de seu presidente, o qual dirigiu notável Campanha Cívica, identificada como Campanha do Figueirôa (…). Durante a Campanha, foram tomadas várias providências: artigos em jornal, distribuição de boletins, reuniões, memoriais, telegramas; os estabelecimentos comerciais, atacadistas e varejistas permaneceram com suas portas fechadas, em sinal de protesto durante os dez primeiros dias de setembro de 1927; o senhor Waldemar Figueirôa foi afastado do exercício de suas funções. Durante esta campanha, o valor de cidadão de Constantino Correia falou alto. Como diz Caio Passos no seu livro Parnaíba- Cada Rua, Sua História: O homem de coração bom, sempre aberto ao bem, naquela conjuntura difícil, não esqueceu os humildes. É que, com a paralização do comércio, os trabalhadores da estiva ficariam sem ter como sustentar suas famílias; mas o justo presidente não os desamparou, e continuou com os pagamentos regulares, mesmo com os estivadores impedidos de trabalhar. A secura de Figueirôa caía sobre os preciosos impostos que o comércio da Parnaíba gerava, e que sumiam rumo a capital do estado, sem retorno de nenhum benefício para a cidade litorânea.
Durante a gestão profícua de Constantino Correia à frente da ACP, a cidade recebeu dois grandes centros de educação: o Ginásio Parnaibano, e o Grupo Escolar José Narciso. No jornal Nortista, partiu em defesa do Delta do Parnaíba como sendo piauiense, mas em litígio com o estado do Maranhão, e a construção do Porto de Amarração, importante equipamento para o vigoroso comércio parnaibano de então. Lutou pela construção do primeiro trecho de ferrovia no Piauí, de Amarração em direção a Parnaíba, trecho que foi financiado pelos comerciantes parnaibanos e que chamaria a atenção dos governos estadual e federal para a importância da construção do almejado porto marítimo do Piauí. Constantino de Moraes Correia deixou para a história parnaibana, uma grande lição de compromisso com a sua terra natal, a sua querida Parnaíba, que lhe viu partir para os braços do Criador, no triste dia 14 de abril de 1941. Hoje, como desrespeito a sua memória, a praça da qual é patrono, é conhecida pelos parnaibanos, como Praça da Mulher do Pote.
Nota importante: em 2016, o trecho de ferrovia citado acima, completou o seu primeiro centenário, sendo o início da história ferroviária no Piauí, e que nossas autoridades e professores não tiveram atenção nenhuma para este importante fato histórico. Outra data negada e sem celebração em 2016, foi os 300 anos da morte do índio Mandu Ladino. Parnaíba perde muito por não dar valor as suas datas e bens simbólicos.
Diderot Mavignier