O governo federal divulgou recentemente a maior pesquisa já feita no Brasil no que se refere ao consumo de crack. Foram, na verdade, dois estudos conduzidos pela Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz, encomendados pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, a Senad.
Uma das pesquisas traça estimativas sobre o número de usuários nas capitais brasileiras. A outra apresenta um perfil do dependente de crack em âmbito nacional.
De acordo com o levantamento da Fiocruz, as capitais concentram 370 mil usuários regulares da droga ou similares– sendo que quase 40% estão na região Nordeste, um universo de 148 mil pessoas. Os 370 mil dependentes de crack representam 35,7% do total de usuários regulares de drogas ilícitas estimado em 1 milhão nas capitais brasileiras.
A deputada federal Iracema Portella (PP-PI), mostrou-se bastante preocupada com um dado extremamente preocupante, que diz respeito ao consumo de crack por menores de 18 anos de idade. Dos 370 mil usuários regulares, 50 mil são crianças e adolescentes. Sua proporção, entre os usuários estimados, também é maior na região Nordeste.
Iracema Portella destacou também que a pesquisa da Fiocruz mostrou que ainda existe um precário acesso aos serviços e à prevenção de doenças transmissíveis. Quase 80% dos entrevistados relataram a vontade de buscar tratamento. No entanto, menos de 7% procuraram um CAPS AD e menos de 5% buscaram uma comunidade terapêutica para se tratar,
“Esse é um dos achados mais importantes do estudo, pois revela o fosso existente entre os dependentes químicos que precisam de recuperação e os serviços disponíveis no País para acolhê-los”, explicou.
Outro dado alarmante da pesquisa é o conjunto dos usuários entrevistados que apresentou taxas mais elevadas de doenças transmissíveis por sexo desprotegido ou por instrumentos cortantes. Totalizando altos índices do HIV e Hepatite C.
Entre as mulheres usuárias, houve aumento de gravidez desde que iniciaram o uso da droga; algumas engravidaram quatro vezes ou mais desde o início do consumo.
O levantamento mostrou ainda que, entre os usuários brasileiros de crack e/ou drogas similares, em torno de 40% vivem nas ruas. E cerca de 80% dos usuários utilizam a droga em espaços públicos.
“As pesquisas da Fiocruz, esperadas há pelo menos um ano e meio, são de fundamental importância para a nossa luta diária contra as drogas. Finalmente, temos em mãos um instrumento concreto sobre o número de usuários de crack nas capitais brasileiras e o seu perfil”, declarou a deputada piauiense.
Segundo a parlamentar, isso certamente ajudará a aprimorar as políticas públicas voltadas para os dependentes químicos. Os estudos da Fiocruz mostraram claramente que temos grandes problemas a serem enfrentados. Assusta o número de usuários entre crianças e adolescentes – explicou.
Para Iracema, as mulheres também estão em situação de extrema vulnerabilidade: sofrem violência sexual, estão desprotegidas, têm filhos nessas condições, consomem um número maior de pedras por dia em relação aos homens e, infelizmente, hoje não existem muitos serviços especializados no atendimento à população feminina. “Precisamos, portanto, olhar para elas com mais cuidado e um atendimento diferenciado”, disse.
“Com essas pesquisas, demos mais um significativo passo na luta contra as drogas. Mas é primordial que continuemos a avançar na adoção de estratégias e ações capazes de acolher essas pessoas, tratá-las com carinho e atenção, dando todo o suporte necessário para que se livrem das drogas e possam trilhar o caminho da saúde, do bem-estar e da qualidade de vida”, conclui Iracema Portella.
Fonte: Ascom