O julgamento do goleiro Bruno Fernandes foi desmembrado e adiado para 4 de março de 2013, segundo decisão da juíza Marixa Fabiane, anunciada nesta quarta-feira (21), no Fórum de Contagem, em Minas Gerais. O goleiro foi retirado do plenário para ser levado novamente para a penitenciária Nelson Hungria. O júri continua para dois outros réus no processo: Luiz Henrique Romão, o Macarrão, e Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do goleiro.
O adiamento foi concedido pela juíza a pedido da defesa de Bruno. O advogado Francisco Simim, que defendia o goleiro, apresentou um documento transferindo seus poderes a outro defensor, Lúcio Adolfo. Chamado de substabelecimento sem reserva de poderes, o documento pediu a substituição de Simim por Adolfo, que alegou não conhecer o processo para pedir o adiamento.
O corpo de defesa afirmou logo no início da sessão, por volta de 9h40, que o novo defensor precisa de prazo para ler o texto da ação. “Eu preciso de mais tempo para estudar esse processo”, disse Adolfo no plenário.
Na terça-feira (20), o goleiro Bruno já havia tentado adiar o júri, com um pedido de destituição de seus advogados Rui Pimenta e Francisco Simim. A juíza Marixa aceitou o pedido de saída de Pimenta, após o jogador alegar que não se sentia seguro para continuar com ele, e negou o de Simim.
A juíza afirmou que “não obstante haver claras evidências de manobra, por outro lado também é verdade que o documento que foi apresentado a mim foi de substabelecimento”, justificando sua decisão. “Estou acolhendo o pedido da defesa para conceder ao advogado prazo para o conhecimento do processo”, disse ela.
O promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro afirmou que o pedido dos advogados de Bruno foi uma manobra para adiar o júri e que eles atentam “contra quem quer trabalhar”. O Código Penal, lembrado pelo promotor, prevê multa de dez a 100 salários mínimos por abandono de processo que não for por motivo imperioso.
Castro criticou a medida adotada pela defesa do goleiro em plenário. “Algumas das defesas, sob a capa da astúcia e da bravata, só manobram”, disse. O promotor pediu ainda que os advogados “dignifiquem a advocacia” e “respeitem a Justiça”.
Para o novo advogado de Bruno, a ação não foi uma manobra. “Eu tomei conhecimento do processo hoje, a juíza autorizou que eu pegasse uma cópia do processo. Vou me dedicar e vou me preparar para uma defesa que vá de encontro com as necessidades” do goleiro, disse ele.
Questionado pelos jornalistas, Adolfo perguntou: “Vocês acham que neste ambiente tenso é possível se fazer um julgamento justo?”, referindo-se ao júri instalado desde segunda-feira.
Estratégia, sim
Segundo Simim, a mudança, que implicou no adiamento do júri do goleiro, foi uma estratégia. “É estratégia sim, porque a gente precisava de mais tempo para estudar o processo”, disse o advogado.
Na opinião de Simim, o desmembramento valeu para “ganhar prazo, porque tem um habeas corpus para ser julgado”, se referindo ao pedido de soltura impetrado pela defesa do goleiro no Supremo Tribunal Federal (STF), e ainda não julgado. Segundo o advogado, o novo defensor será o único representante de Bruno no plenário, a partir de hoje. Mas, nos bastidores, Simim disse que toda a equipe continua trabalhando pela defesa do goleiro.
O novo advogado contradisse Simim, ao afirmar que a substituição não é uma estratégia da defesa. “Absolutamente. Não é uma estratégia, é uma necessidade”, afirmou. Adolfo disse ainda que a juíza foi “compreensiva” ao lhe conceder o prazo de dois meses para a leitura do processo. “Vou me debruçar sobre o processo. (…) O prazo é bom. Não é manobra. Não vou forçar um adiamento”, completou.
Em entrevista na porta do Fórum de Contagem, o novo advogado disse não conhecer nada das 15 mil páginas que integram o processo, e que o prazo era necessário para a leitura dos autos. “Fui chamado para participar da defesa do Bruno hoje. Não conhecia o processo. Pedi à juíza um prazo para que eu pudesse analisar a matéria junto com o doutor Tiago Lenoir e o doutor Francisco Simim. E vamos fazer isso.”
Lucio Adolfo ainda se defendeu a respeito das várias trocas de advogados na defesa do goleiro, dizendo que é preciso respeitar “o que é legal”. “Essa é uma estratégia legal de trabalho. Se beneficiar o Bruno, qual o problema? Você acha que eu faria algo para prejudicá-lo? Acabei de falar com ele e ele está tranquilo, vai voltar para o presídio tranquilo”.
Destituição
O goleiro argumentou, na terça-feira (20), que pediu a destituição de Simim por ele representar sua ex-mulher, Dayanne Rodrigues, ré na ação. A magistrada entendeu que o goleiro pretendia adiar seu julgamento e negou a solicitação, mas Bruno negou esse objetivo e alegou que não queria prejudicar a defesa de Dayanne.
O promotor do caso pediu para que Dayanne, que responde à ação em liberdade, tivesse mais tempo para ser defendida por outro advogado. Bruno, réu preso, tem preferência de julgamento. A juíza seguiu este entendimento e determinou que Dayanne seja julgada em outra data, possivelmente junto com Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que conseguiu o desmembramento do júri.
Fonte: G1