BRASÍLIA — O lobista João Augusto Rezende Henriques começou a fazer depósitos que totalizaram US$ 1,3 milhão em uma conta do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no mesmo mês em que participou de um negócio de US$ 34,5 milhões da Petrobras no Benin.
Em 3 de maio de 2011, a estatal brasileira pagou este valor para adquirir 50% do direito de exploração de um campo de petróleo no país africano. Henriques confessou em depoimento na Operação Lava-Jato ter participado do negócio e ter repassado recursos para a conta como retribuição a informações privilegiadas que recebeu e que ajudaram a viabilizar o negócio. Só depois, porém, soube que a conta pertencia a Cunha.
O empresário Idalécio de Oliveira era o dono do terreno em que ficava o campo e firmou um contrato em 2010 para que Henriques o ajudasse a fechar o negócio. Após a Petrobras realizar o pagamento, US$ 31 milhões foram repassados pela Companie Beninoise des Hydrocarbures Sarl (CBH) para a Lusitania Petroleum Ltda, ambas empresas de Oliveira. A Lusitania, então, repassa, em 5 de maio de 2011, US$ 10 milhões para a Acona Internacional, de Henriques, como “taxa de sucesso” pelo negócio.
Da conta da Acona no banco BSI é que saem os repasses para a conta da offshore Orion SP, de titularidade de Cunha, no banco Julius Baer, na Suíça. Foram cinco repasses feitos por Henriques para a conta de Cunha, entre 30 de maio e 23 de junho de 2011, totalizando 1,311 milhão de francos suíços, o equivalente a R$ 5,1 milhões. Os quatro primeiros pagamentos ocorreram nos dias 30 de maio, 3 de junho, 8 de junho e 16 de junho e são de 250 mil francos suíços cada. O último, de 23 de junho, é de 311,7 mil francos suíços.
De titularidade de Cunha, a conta da offshore Orion SP foi aberta em 20 de junho de 2008 e encerrada em 23 de abril de 2014, um mês após a deflagração da primeira fase da Operação Lava-Jato, que levou para a prisão o ex-diretor Paulo Roberto Costa e expôs o esquema de corrupção na Petrobras. Dessa conta foram feitos posteriormente repasses a outras duas contas de empresas offshores de Cunha e a uma da mulher de Cunha, Cláudia Cruz.
Em depoimento à Polícia Federal no mês passado, Henriques afirmou ter feito repasses para a conta de Cunha na Suíça por indicação de Felipe Diniz, filho do ex-deputado Fernando Diniz, já falecido. O ex-deputado era aliado de Cunha e é apontado como padrinho da indicação de Jorge Zelada para a diretoria internacional da Petrobras, área que fechou o negócio no Benin.
O lobista justificou o pagamento dizendo ter recebido informações privilegiadas sobre interesses da Petrobras na costa da África. Foi então que Henriques procurou Idalécio e firmou a parceria que lhe renderia menos de um ano depois a comissão. Ele disse que quando indicou a conta para pagamento Felipe teria lhe mencionado dificuldades financeiras. Henriques afirmou que não sabia na época dos repasses que a conta indicada era de Cunha. Diz que somente neste ano recebeu essa informação.
Cunha já foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF) por outro negócio envolvendo a Petrobras. Ele foi acusado pelo lobista Julio Camargo de receber propina de US$ 5 milhões pela compra de dois navios sondas pela estatal junto a Samsung Heavy Industries, um negócio de US$ 1,2 bilhão.
Fonte: O Globo