Em Londres, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira (30) que assumiu mandato como presidente da República de um país como o Brasil com o desafio de acabar com certos dogmas, como a crença de que o salário não podia aumentar porque causava inflação e não poderia haver transferência de renda sem crescimento da economia. Ele ainda enalteceu diversos pontos do seu governo, como a diversificação dos parceiros comerciais, especialmente países da América do Sul.
“Eu tinha consciência que eu não teria uma segunda chance. Tinha consciência que um operário, ao chegar à Presidência da República, ou acertava ou saía do governo e nunca mais voltava a se eleger. Fazer o melhor e acertar era quase que uma obrigação moral. O resultado, depois de 8 anos, é termos 39 milhões de pessoas ascendendo à classe média e 28 milhões saindo da pobreza.”
Lula chegou com cerca de 20 minutos de atraso para participar de um seminário promovido pela revista “The Economist” sobre mercados de alto crescimento.
Após uma breve apresentação feita por Mike Reid, editor de Américas da “The Economist”, Lula, discursou sobre o tema “The necessity and inevitability for global economic change” “A necessidade e a inevitabilidade de mudança econômica global”, em tradução livre).
O ex-presidente foi convidado a falar durante a conferência “The High-Growth Markets Summit” (Encontro Sobre Mercados de Alto Crescimento), que foca na discussão sobre as possibilidades de investimento em mercados como o Brasil e a Índia. Esse é o seu último compromisso antes de embarcar de volta para o Brasil nesta sexta, após uma semana participando de eventos nos Estados Unidos e na Europa.
Críticas a União Europeia pela crise econômica
“Vivi a minha vida inteira em crise, sei como lidar com isso. Aprendi na minha vida de marido e filho que não se pode gastar mais do que se ganha e não se pode endividar mais do que o nosso salário pode pagar. É preciso seriedade”, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante palestra em Londres nesta sexta-feira (30), ao criticar novamente os países da União Europeia pela crise econômica — dias antes, na França, ele já havia feito críticas ao rumo da crise. “Quem imaginou que os bancos da Alemanha estavam emprestando mais do que tinham? Ou da França”, questionou. “Quando se trata de economia, não se pode subordiná-la aos interesses eleitorais de um candidato ou de um partido político. Economia não tem mágica.”
Lula afirmou ainda que “a União Europeia tem 27 países, mas quem tem poder de decisão são poucos e que precisam assumir a responsabilidade. A crise se resolve com decisões políticas e não econômicas. É a hora de os dirigentes que foram eleitos de tomaram atitudes. A conquista da União Europeia é um patrimônio da humanidade e não se pode permitir que acabe por uma questão política. É só ver o quanto custou para ser construída e o quanto vai custar para ser destruída”.
Em meio à seriedade do tema, houve um momento de descontração durante a palestra: ao se servir de água durante o seu discurso, Lula chegou a brincar que, na época em que era presidente, sempre havia alguém para lhe servir de água, o que arrancou risos da plateia.
Lula chegou em Londres na quinta-feira (29), quando fez uma palestra para investidores estrangeiros durante encontro do grupo espanhol Santander no Museu de História Natural. O tema foi “crescimento econômico e desenvolvimento social: a experiência do Brasil”.
A sua viagem internacional começou na sexta passada (23), quando foi a Washington (EUA) dar também uma palestra. Em seguida, viajou a Paris, onde, na terça, recebeu o título de doutor honoris causa do Instituto de Estudos Políticos (SciencesPo, na sigla em francês), o maior da França. Na ocasião, o ex-presidente chegou a fazer críticas à falta de ação política dos líderes europeus para resolver a crise econômica no bloco europeu.
Na quinta-feira (29), pela manhã, Lula esteve em Gdansk, na Polônia, onde se encontrou com Lech Walesa, ex-presidente polonês, sindicalista e prêmio Nobel da Paz, para receber um prêmio “em reconhecimento aos seus esforços para conseguir uma cooperação pacífica e a compreensão entre as nações (…) e por sua contribuição para redução da desigualdade social”, segundo nota da fundação Lech Walesa.
Fonte: uol.com.br