Apontada como uma das prioridades do Governo petista no Piauí, a Segurança Pública passa por uma série de reformulações, dentre a mais polêmica está o fim do Ronda Cidadão. Em entrevista a O DIA, o Comandante Geral da PM, Carlos Augusto, afirma que tal polícia é uma filosofia e não apenas um segmento. Para ele, essa mesma filosofia da aproximação e respeito com a comunidade deve ser extensiva a todo e qualquer segmento da polícia. Carlos Augusto também comentou sobre a presença da Força de Segurança Nacional, que tem contribuído, em sua opinião, sobretudo para dar uma sensação de segurança à população. Segundo o comandante, atualmente o principal problema junto à população é justamente esse sentimento de medo e instabilidade.
Qual foi o maior desafio quando o senhor assumiu este cargo?
O maior desafio, tenho dito nas comunidades onde ando, não foi o efetivo reduzido que nós temos. Não foram as dívidas de custeio da Polícia, em torno de R$ 10,3 milhões. O maior desafio continua a ser a situação de medo, como encontrei toda a população do Piauí. Medo de sair de suas residências. Medo nas escolas, de entrar em uma farmácia, de abastecer seu carro no posto. E isso não só em Teresina, mas em todo o Estado. Temos trabalhado muito para vencer essa sensação de insegurança nas comunidades, escolas e cidades. Temos buscado otimizar e recompor as condições de trabalho da Polícia Militar do Piauí. São 220 viaturas a mais rodando hoje no Piauí e adquirimos mais 80. Estamos em regime de mutirão. E isso evita que o policial faça o bico fora da corporação. Na semana passada estive em Picos com o Secretário de Segurança entregando viaturas. Entregamos também para Simões, Marcolândia, Fronteiras, São Miguel do Tapuio, Cajueiro da Praia, todo esse entorno, onde nós vamos atuar fortemente nos próximos meses para concluir o trabalho de reestruturação nestas cidades que fazem fronteira. Temos um plano de segurança que se inicia pela entrada das pessoas em precisam ser abordadas ao entrar no Piauí. O que traz a certeza de que vão entrar com drogas é o fato não serem abordados. Foi assim que encontrei o Piauí. Posso garantir que o pior já passou. Estive fazendo visitas às comunidades na Vila Irmã Dulce e em todo entorno e as pessoas elogiam, quer dizer, já houve uma mudança na vida das pessoas.
Porque o senhor acredita que se chegou a essa situação, de medo extremo?
Não tem segredo. Se não há investimento… houve um descaso à Segurança Pública. Mas principalmente porque se deixou de investir. Não tinha combustível para colocar nos carros, por exemplo. As viaturas vão quebrando e vão parando, perdendo a capacidade operacional. E os bandidos percebem isso facilmente porque também trabalham com inteligência.
O senhor falou em débito de 10 milhões de custeio. Pode dar detalhes sobre esse débito?
Uma grande parte de combustível e manutenção, outra grande parte, por exemplo, com a empresa de monitoramento que passou o ano passado todo sem receber. Por isso, a gravidade. Quando acontecia um problema eles não iam consertar. Mas isso já foi restabelecido ainda em janeiro. Estamos pagando nossas contas em dia e o resto o Estado está renegociando.
O senhor falou de uma redistribuição de policiais no Interior. Como resolver o caso de cidades que às vezes têm apenas um ou dois policiais?
Na verdade, a cidade tem um policial de plantão, às vezes três, mas existe o regime de serviço. A gente tem mudado a escala de serviço porque ninguém tira serviço de 24h, não aguenta. Mas quando você oferece condições de mobilidade… um exemplo aconteceu em Simplício Mendes, onde instalei a companhia que já havia sido criada por lei. Lá são nove cidades que se ligam à cidade e possui 36 policiais. Se olhar individualmente vai dizer que não tem segurança, mas quando você integra o efetivo, todas as nove cidades têm viatura. Ele consegue estar mais presente e ser mais visto.
Como o senhor avalia a vinda da Força de Segurança Nacional aqui no Piauí?
A Força Nacional trouxe um efeito psicológico muito bom na população. Mas para não enganarmos a população temos que explicar: são dez viaturas a mais que nós temos e é composta por policiais militares de outros estados. Nós do Piauí temos policiais que servem também em outros estados em intercâmbio. Foi importante para o momento de situação de insegurança, como já disse da questão psicológica da pessoa, o medo de sair de casa.
Quando eles saírem, o que ficará de legado, além do material que fica, por exemplo, algumas armas?
Na verdade, por onde a Força passa ficam alguns equipamentos, mas isso não é o mais importante. O restabelecimento do psicológico da população, da sensação de segurança, é o que vai ficar, cabe a nós manter.
A presença da Força de Segurança Nacional nos primeiros meses do ano seria por conta de uma falha da PM em prestar segurança à população?
Não diria falha, o que havia mesmo era uma falta de condições. Por exemplo, no Promorar, em dezembro, foram 23 homicídios; em janeiro ainda, antes da Força chegar, foram cinco, em fevereiro nenhum, em março também nenhum e em abril um. Então, o determinante foi que lá tinha duas viaturas e hoje são doze. Nós mandamos a viatura reforçando com mais 26 policiais. Nós implementamos também aqui o policiamento rural. Hoje temos oito viaturas circulando nessas regiões, permitindo que a população possa ir e vir de suas propriedades, e os resultados são muito bons. Lá estava abandonado, as pessoas cometiam crimes na cidade e se refugiavam na zona rural.
Fonte: Jornal O Dia