A rotatividade intensa de professores nas salas de aula afeta a qualidade do ensino (Foto: Divulgação)

Dados da Sinopse Estatística da Educação Básica 2012, estudo feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) com base no Censo Escolar, mostram que 44.351 mil professores do Piauí trabalham em mais de uma escola. Em 2011, o número era ainda maior. Cerca de 45 mil docentes de todas as redes de ensino davam aulas em duas ou mais instituições.

Para especialistas, a rotatividade intensa de professores nas salas de aula afeta a qualidade do ensino e o trabalho de muitos educadores, dificultando dessa forma a gestão escolar e colocando o modelo de escola adotado no país em xeque, já que a aprendizagem requer um trabalho focado e que seja motivador para os professores.

“O processo avaliativo envolve o acompanhamento dos avanços na aprendizagem de cada aluno em observações diárias ao longo do ano letivo. Esses avanços estão ligados tanto à didática do professor, sua prática de sala de aula, quanto ao vínculo de afetividade estabelecido entre alunos e professor. Ao contrário do que se imagina, esse vínculo é importante ao longo de todo o período de escolaridade, não apenas nas turmas dos anos iniciais”, explicou Cristina Luiza Garbuio, supervisora pedagógica de Matemática do Instituto Qualidade no Ensino (IQE).

As justificativas para um profissional pedir transferência vão desde razões práticas, como a vontade de trabalhar perto de casa, até problemas graves, como condições de trabalho, violência ou ameaças. Existe ainda a aprovação em concurso público como um dos motivos de migração dos professores. Assim, as principais consequências da rotatividade são a queda na produtividade e mudanças de comportamento dos alunos.

A especialista Cristina Garbuio aponta que para os professores, assumir as aulas de uma turma no meio do período letivo causa insegurança pelo fato de receberem a responsabilidade de dar prosseguimento a um trabalho do qual, na maioria das vezes, não têm informações precisas.

“O retrato do professor vinculado a uma única escola, com um período diário remunerado destinado a estudos e preparação das aulas está longe da realidade brasileira. Todo o trabalho fica comprometido quando o educador leciona em mais de uma escola e tem muitas turmas sob sua responsabilidade. Na Coreia do Sul, por exemplo, país que está entre as primeiras colocações no PISA, o professor trabalha com regime de dedicação exclusiva e tem direito a quatro horas diárias para preparar suas aulas e atender os estudantes”, comentou Gaurbuio.

Longe de alcançar esse nível no sistema educacional, ela lembra, entretanto, que professores brasileiros se desdobram para cumprir jornadas impensáveis em outros países. Sob esse ponto de vista, Cristina Garbuio explica que docentes que lecionam em duas ou mais escolas podem e devem desenvolver vínculos de colaboração com seus grupos de trabalho, mesmo que sejam com menor frequência.

“O uso das novas tecnologias tem facilitado enormemente essa comunicação. Atualmente, é bastante comum que o professor troque ideias e atenda a dúvidas de alunos através de mensagens eletrônicas, nos períodos em que não está na escola. Esse procedimento acaba por aumentar o número de horas em que o aluno permanece estudando, incentivado pela acessibilidade do professor”, ressaltou a supervisora do IQE.

Do mesmo modo, os projetos da escola podem ser discutidos em reuniões presenciais e pelos meios eletrônicos, facilitando a integração entre todos os educadores, que dificilmente podem se encontrar num mesmo dia e horário. “Cabe, entretanto, a equipe gestora e coordenador da escola fazer a integração de todas as ações e seu acompanhamento”, frisou.

Mayra Bastos/ Icone Comunicação