Foto: José Cruz/ABr
Foto: José Cruz/ABr

A 67 dias da eleição, o MDB oficializou nesta quinta-feira, 2, a candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles à Presidência sem ter fechado qualquer aliança. Até agora, tudo indica que o partido, à frente do Palácio do Planalto desde o impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff (PT), em 2016, irá sozinho para a disputa, com chapa pura e um candidato que tentará associar sua imagem à do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato. Com 419 votos a favor, os delegados do MDB aprovaram a candidatura.

A senadora Marta Suplicy (SP) é um dos nomes cotados para ser vice na chapa. Ex-petista, ela ainda não tomou uma decisão sobre seu futuro político e não compareceu à convenção.

Após votar na convenção, o presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR), confirmou que a indicação do vice de Meirelles não está fechada. “Vamos delegar à Executiva Nacional do partido a aprovação do vice, nos próximos dias”, afirmou Jucá.

Estacionado em 1% das intenções de voto, Meirelles está à procura de uma mulher para compor a chapa. O eleitorado feminino representa 52% do eleitorado nacional e é responsável pela maioria dos votos em branco e nulos indicados em pesquisa de intenção de voto. A campanha avalia que Marta, ex-prefeita de São Paulo pelo PT, ajudaria o ex-ministro a crescer em pouco tempo para cerca de 5% da preferência do eleitorado.

Toda a campanha está sendo montada para que Temer fique distante do palanque de Meirelles em virtude da alta rejeição do presidente, hoje na casa dos 82%. Pesquisas do MDB indicam que a presença do presidente contaminaria não apenas a candidatura de Meirelles como quem dele se aproximar.

É por esse motivo que o ex-ministro tenta se aproveitar da passagem pelo governo Lula para obter apoio. Nas redes sociais, ele divulgou recentemente um vídeo no qual o ex-presidente o elogia. “Sou um homem que tenho muito respeito pelo Meirelles e devo a esse companheiro a estabilidade econômica e o respeito que o Brasil tem hoje no mundo”, afirmou Lula.

Na convenção foi exibido um vídeo em que aparecem manchetes de jornais com declarações de políticos em apoio ao economista. O primeiro é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seguido pela presidente cassada Dilma Rousseff. Um locutor diz que eles elogiaram as atuações de Meirelles à frente do Ministério da Fazenda.

O vídeo cita ainda o presidente Michel Temer, o ex-prefeito de São Paulo e candidato ao governo do Estado, João Doria (PSDB), e os candidatos à Presidência Ciro Gomes (PDT), Alvaro Dias (Podemos), e Geraldo Alckmin (PSDB). Ao final, o locutor diz: “todos eles concordam que, na hora da crise, é melhor chamar o Meirelles”, citando o bordão da campanha.

Dissidência

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) chegou à convenção anunciando que será o porta-voz dos emedebistas contrários à candidatura de Meirelles. “Não podemos homologar uma candidatura que só serve para atrair a rejeição universal do Temer”, disse Renan, em uma referência ao presidente Michel Temer, que conta com alto índice de impopularidade.

“Não dá para condenar ninguém a apoiar Meirelles. Isso é um mico e não podemos pagar esse preço”, emendou o senador. Aliado do PT em Alagoas, Renan pedirá que o partido “fique livre” na campanha, deixando os diretórios estaduais fazerem os arranjos políticos que julgarem mais convenientes.

Meirelles vai se apresentar aos correligionários como um gestor de resultados, um homem capaz de promover a “transformação” do País. “Ele é um outsider na política, um radical de centro”, comparou Jucá.

O senador Jader Barbalho (MDB-PA) reafirmou seu apoio à candidatura de Henrique Meirelles e garantiu que irá referendar a indicação de Meirelles. O ex-ministro da Fazenda será importante no palanque de Helder Barbalho, filho de Jader, e candidato ao governo do Pará.

A aproximação de Meirelles e Jader começou há algum tempo, quando o presidenciável precisou começar a compor suas alianças.

Apesar de ser uma espécie de fiador da governabilidade desde a redemocratização, o MDB não apresenta candidato próprio à Presidência há 24 anos, mas três vices já ocuparam o cargo. Antes de Temer, que assumiu o Planalto após o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, o partido comandou o País com José Sarney (1985 a 1990) e com Itamar Franco (1992 a 1994), que retornou ao então PMDB depois da queda de Fernando Collor.

Os marqueteiros do MDB montaram um painel com a projeção da foto do economista sobre a silhueta de Ulysses Guimarães (morto em 1992), parlamentar histórico do partido e opositor da ditadura militar. A montagem que junta a sombra projetada de Meirelles à de Ulysses, dando uma ideia de continuidade, foi instalada num painel na entrada do auditório. Também foi montado um pôster de Ulysses com a Constituição de 1988, da qual foi um dos artífices. Não foram colocadas imagens de Temer no auditório.

Fonte: Estadão