O Ministério da Educação (MEC) confirmou nesta quinta-feira (05/09) que adotará regras mais rígidas na correção da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2013.
A medida já havia sido anunciada em maio, logo depois que vieram à tona textos da edição 2012 do exame em que os participantes haviam introduzidos em suas dissertações receitas de macarrão e até hinos de clube de futebol — obtendo, a despeito disso, notas consideradas razoáveis.
Segundo as regras do Guia do Participante, todos os candidatos que fugirem ao tema proposto para a redação terão suas provas anuladas. No ano passado, casos como esse chegaram a receber 500 pontos, metade da nota máxima.
O guia apresenta, em detalhes, os critérios de correção adotados pelo MEC e esclarece dúvidas comuns dos candidatos, como a quantidade mínima de linhas para a elaboração do texto e as exigências quanto à aplicação do acordo ortográfico e ao respeito ao tema proposto. O material enumera, ainda, as cinco competências avaliadas pelos corretores, como a capacidade de organizar um argumento em defesa de um ponto de vista e de construir um texto com a aplicação de conceitos de diversas áreas.
AS 5 COMPETÊNCIAS AVALIADAS NA REDAÇÃO DO ENEM
DOMÍNIO DA NORMA PADRÃO DA LÍNGUA
O título da primeira competência avaliada pelos examinadores pode parecer complexo à primeira vista. Trata-se, na verdade, de um conceito simples. O que o Enem busca avaliar aqui é a capacidade dos estudantes de diferenciar os registros oral e escrito da língua. Um exemplo simples: no cotidiano, usamos a expressão “pra” (contração da preposição “para” e do artigo “a”).
Ela pode se adequar perfeitamente a nossas conversas diárias, mas não fica bem quando precisamos fazer um discurso na formatura do colégio ou ainda ao escrever uma carta para a direção da empresa na qual trabalhamos. Nessas situações, deve-se primar pela clareza e pela precisão, possíveis graças à norma culta da língua. O examinador do Enem quer saber se o candidato conhece essas diferenças – e se sabe escrever usando o português correto.
Comentário do professor:
“É imprescindível obedecer às regras gramaticais no Enem. Não há espaço para brincadeiras aqui”, afirma Tiago Fernandes, professor de redação do CPV Vestibulares.
COMPREENSÃO DA PROPOSTA
Um dos erros mais frequentes – e graves – em redações de vestibulares e do Enem é a inadequação ao tema proposto. É o que acontece quando o candidato “foge do tema”, como se costuma dizer. Trata-se de uma falta grave porque sinaliza que o estudante sequer conseguiu entender a proposta da prova (na verdade, o erro é fatal: quem não demonstra essa competência ganha nota zero na redação).
CAPACIDADE DE ORGANIZAR E RELACIONAR
Além de apresentar o tema de redação, o Enem oferece aos candidatos textos de apoio, que podem servir de subsídio à reflexão a ser desenvolvida. Esses textos ajudam o exame a avaliar a capacidade do estudante de selecionar e interpretar essas informações e as relacionar com outras, previamente conhecidas por ele. É avaliada ainda a capacidade de organizar todo esse conhecimento em defesa de um ponto de vista pessoal.
Comentário do professor:
“Essa competência exige especialmente atenção, durante a leitura dos textos de apoio, e lógica, na redação”, afirma Francisco Platão Savioli, coordenador de língua portuguesa do Anglo Vestibulares
CONSTRUÇÃO DA ARGUMENTAÇÃO
Os aspectos avaliados nessa competência dizem respeito à estruturação do texto e apresentação da argumentação. O estudante deve demonstrar que sabe usar o idioma para desenvolver suas ideias sobre o tema proposto de maneira clara e lógica. Dessa forma, será bem-sucedido na tarefa de comunicar a mensagem pretendida.
Comentário do professor:
“Aqui, o avaliador busca uma dissertação que não exponha apenas os fatos, mas se comprometa a sustentar um ponto de vista com base em bons argumentos”, afirma Francisco Platão Savioli, coordenação de língua portuguesa do Anglo Vestibulares.
ELABORAR PROPOSTA DE INTERVENÇÃO AO PROBLEMA
A última competência busca avaliar se o candidato tem condições de propor alguma ideia para solucionar um problema. É fundamental detalhar os meios que seriam utilizados para a solução do problema. O próprio MEC ressalta que as propostas devem ser feitas respeitando-se os direitos humanos, o que implica não romper com valores como cidadania, liberdade, solidariedade e diversidade cultural.
Comentário do professor:
“Ainda que não seja preciso prová-lo, é fundamental que a proposta seja minimamente factível”, diz Roseli Braff, supervisora de língua portuguesa do Sistema COC de Ensino.
MAIS INFORMAÇÕES
Os candidatos encontrarão também exemplos de redações que obtiveram nota máxima no Enem 2012, com a exposição do texto e a análise dos corretores. Apesar de ter endurecido as regras de correção, alguns tipos de erros serão permitidos. Em um dos exemplos do guia, uma candidata escreveu a palavra “espanhóis” sem acento após, em duas situações anteriores, ter usado a grafia correta. A desatenção foi poupada pelos corretores.
“Um jovem que está fazendo o Enem está em um processo de domínio pleno da norma culta e tem de considerar as cinco competências que dão a qualidade da redação que ele está desenvolvendo. Quando houver um erro excepcional, específico, o candidato perderá ponto. Nesse caso ele repete a palavra corretamente e depois esquece, o que demonstra domínio da norma. É um caso limite”, afirmou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, Luiz Cláudia Costa, ressaltou que o exemplo de desatenção foi colocado no guia com “finalidade pedagógica”.
Para a edição 2013 do exame, o número de corretores de redação cresceu quase 70%. A ampliação do quadro de avaliadores passou a ser necessária após as discrepâncias na nota total acima de 100 pontos passarem a exigir um terceiro corretor – em 2012 a nova avaliação ocorria apenas com diferenças a partir de 200 pontos. Todos os profissionais passaram por avaliação on-line e tiveram de apresentar desempenho superior a 7, em uma escala de 0 a 10, para serem classificados.
As inscrições para o Enem terminaram em maio e receberam 7,1 milhões de participantes. Os candidatos serão avaliados em quatro provas objetivas e uma de redação.
GESTANTES
Outra situação que recebeu atenção especial do MEC foi a possibilidade de partos justamente no dia da prova — como aconteceu na edição do ano passado, quando uma candidata deu à luz durante a avaliação com ajuda de uma fiscal de prova. O ministério fez um levantamento entre as mulheres para checar quantas gestantes prestarão o exame.
Em outubro, mês da aplicação da prova, serão 3.108 grávidas, segundo pesquisa do MEC. Dessas, 517 candidatas têm o parto previsto entre os dias 20 e 31 de outubro – o exame será aplicado nos dias 26 e 27. “Precisamos colocar um suporte para a eventualidade de ter um novo parto e uma estrutura para chegar a tempo”, afirmou Mercadante.
Fonte: Veja