– E a culpada foi a cobra… ou, talvez, o culpado foi quem transmitiu a Bíblia oralmente… ou quem a transcreveu, traduziu, autorizou, editou, interpretou, publicou, ilustrou o livro sagrado com foto de ministro da educação, sabe-se lá.
– Por quê?
– Veja bem, nenhuma versão da Bíblia, nem mesmo as genéricas, refere-se à maçã do amor.
– Nem goiabeira? Nem macieira?
– Que macieira, rapá?! Se você ler o capítulo 3 do Gênesis com atenção, verá que não existe macieira.
– Nem goiaba, nem maçã?
– Claro que não. Nem maçã. Pois, se não existe goiabeira ou macieira, não pode existir goiaba, nem maçã. Maçã é mais uma invenção desses pastores farialimers – não demora, vão pronunciar farialáimers, basta alguém começar, o povo é muito doido.
– Verdade, bote doido nisso.
– Sim, é tão doido que faz música de carnaval com o texto sagrado. Quem mais sofreu foi a pobre da Eva. Também, quem mandou ela vir depois de Adão? Lembra de “Eva coava meu café”?
– Lembro, sim. Tem também aquela “Eva, me leva, pro paraíso agora. Se eu tou com pouca roupa, eu jogo a roupa fora”.
– Haha, e o papai Adão que um dia já foi o tal? “Hoje é Eva quem manobra e a culpada foi a Bíblia, ops, a cobra, e a culpada foi a cobra”. No auge da carreira do nosso rei do futebol, o povo cantava “Aiai, Adão, me conta como é que é. Se a Eva era branca, como é que nasceu Pelé?”.
– Verdade, a galera nunca perdoa, e terminava cantando “A história não tem razão, ou então, no paraíso, a macieira também dava jamelão” (ouça aqui). Viu como é? Ninguém lê a Bíblia direito, e a galera fica insistindo na macieira.
– E o que a Bíblia diz?
– Ora, a Bíblia só fala em árvore e fruto. Mas ninguém sabe o que é isso. A Filosofia nos diz que árvore e fruto são puras abstrações, não passam de ideias construídas em torno de realidades concretas. Qual é o tamanho da árvore? Qual é a cor do fruto? Viu? Ninguém sabe, árvore e fruto não existem. O que existe de verdade, que a gente pega, mata e come são mangueiras, cajueiros, mangas e cajus etc. etc.
– E daí?
– Daí que a Bíblia é só mistério. Baseado nisso, um cara muito esperto inventou uma tal de maçã do amor e começou a vender na Disney. Como o amor é outra abstração cercada de mistério, a maçã melecada, difícil de morder, fez o maior sucesso e o cara ficou rico. Por aí se vê como o povo é doido.
– Doido e abestado. E bote doido nisso!
– Mas isso não é nada. Acabaram de inventar o morango do amor. Enquanto existirem frutas diferentes, o amor não terá limites, pois o amor é infinito. Pense numa goiaba do amor, uva do amor, pitomba do amor, carambola do amor, jaca dura do amor, banana do amor, abacaxi do amor, haja amor e dentaduras.
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