O som se fazia inconfundível, e por vezes até ensurdecedor… Black Dog, um cover ledzepeliano, se mostrava com toda sua força e genialidade, numa noite de sexta-feira, 26 de junho de 2009, no ambiente do Sesc – Beira Rio. Embora, acredito que, muitos ali, nem mais conseguissem distinguir as notas e arranjos, emitidos pelas guitarras furiosas e experientes, de uma banda que, com toda certeza, carrega a bandeira e o espírito de seus ídolos, o famoso grupo de rock inglês Led Zeppelin. E era tão perfeita a entrega da plateia que ali se encontrava, imersos na aura setentista, mergulhados nas profundezas do que muitos chamariam de “O bom e velho rock and roll”, que estes indivíduos já não mais enxergavam uma banda à sua frente, nem tão pouco escutavam os acordes distorcidos dos instrumentos amplificados pelos auto-falantes, mas sim um universo paralelo, uma outra dimensão de cores e formas infinitas, que a todo instante se sobressaíam, umas às outras, produzindo mágicas melodias que viajavam por todos os sentidos, fazendo com que surgissem emoções, das mais variadas… Ao meu lado, um amigo, Israel Galeno Machado, colega de escola desde a época das séries iniciais, conversávamos sobre nossa juventude, no início dos anos 90, e lembrando de inúmeras situações e pessoas pelas quais havíamos passado, acabamos por recordar do tempo em que descobrimos os sons de Iron Maiden, Metallica, Guns and Roses, Aerosmith e Bon Jovi, para não citar várias outras bandas de rock que, aos 12 anos de idade, escutávamos à exaustão, como que numa maneira de expurgar todos os problemas e questionamentos surgidos no período da adolescência… No meio da conversa nostálgica surge em nossa frente, de forma apressada e com uma mochila nas costas, simplesmente o organizador do evento, o roqueiro e professor Paulo Roberto Rocha Bastos, o Paulim, como costumo chamá-lo.
Nascido em 11 de julho de 1961, na cidade de Fortaleza (Ceará), mas mudando-se para Parnaíba aos 4 anos de idade, trazido pelos pais Francisco Ferreira Bastos e Cosma Rocha Bastos, Paulim, que se considera de fato parnaibano, pois residiu nos últimos 45 anos nesta cidade, estudou em diversos colégios, tendo concluído o ensino médio na escola estadual Lima Rebello. Formado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Piauí, onde atualmente é professor, e servidor do estado há 21 anos, detém hoje, além de algumas especializações e cursos, o cargo de diretor da escola estadual Cândido de Oliveira. Porém não é apenas o ofício do magistério que faz com que Paulo Bastos seja reconhecido e elogiado pelos quatro cantos da “velha Parnaíba”, mas também sua paixão exacerbada pelo rock, nascida desde ainda muito jovem, em meados dos anos 70, quando escutou em um programa do locutor Bernardo Silva, chamado “O som nosso de cada dia”, da Rádio Educadora de Parnaíba, uma canção da banda Led Zeppelin, intitulada Black Dog – sim, caro leitor, Black Dog, o mesmo nome que, décadas depois, uma banda cover do Led pegaria emprestado e, certo dia, faria um show em Parnaíba, que este humilde escritor acabaria por comentar no início deste artigo. Depois de ter escutado o rock da banda inglesa, Paulo Bastos foi tomado pela essência deste estilo e desde então, nunca o abandonou. Na década de 80, já tendo aprendido a tocar violão, montou um grupo de Heavy Metal chamado Condutores de Cadáver, onde a formação tinha: Paulo Bastos (Guitarra), Nilson Borges (Voz e Baixo) e Netinho (Bateria). A banda não durou muito, mas serviu para Paulim conhecer várias pessoas ligadas à música na cidade, e principalmente aqueles que pertenciam ao gênero roqueiro. O rock em Parnaíba, como em todo Brasil, estava em alta durante os anos 80, em decorrência do surgimento de várias bandas nacionais de destaque, como também do festival ocorrido em 1985, no Rio de Janeiro, no qual Paulim teve o prazer de ser espectador, evento este que trouxe para o nosso país nomes como Scorpions, AC/DC, Ozzy Osborn e Withesnake – logicamente, caro leitor piaguiense, que estou falando da primeira edição do Rock in Rio.
Entre o fim de 80 e início de 90, Paulim teve que deixar de lado a cena roqueira, ao menos profissionalmente, para trabalhar como professor da rede estadual de ensino, porém nunca esqueceu o rock, como ele mesmo afirma: “Nunca deixei minhas raízes”. E foi com esse pensamento que Paulim teve a ideia, em 1994, de montar uma loja de artigos de rock, chamada Metal Vídeo. Vendas de camisas e cds, gravações de fitas-cassete (e posteriormente cds) era no que Paulo trabalhava, ao mesmo tempo em que exercia o cargo de professor, tanto do estado como, também, já nesse período, da Universidade Federal do Piauí. Dois anos depois, em 96, casa-se com Ligia Thomaz Bastos, de onde surgiram os dois filhos, Samuel (12) e Gabriel (9), ambos fãs de rock e que já tocam violão e guitarra, mesmo com a pouca idade. A loja Metal Vídeo, que se situava na Rua Padre Castelo Branco, em 1998 teve sua mudança para o endereço localizado à Rua Caramuru, que depois se tornou também locadora. Em 2004, ainda não satisfeito, começa a promover festivais de rock na cidade, trazendo bandas de vários lugares do Brasil, como foram os casos de: Dark Season (Teresina), Paradise in Flames (Belo Horizonte), Andrals (São Paulo) e Desgrace and Terror (Pará), para não citar outras. Foram sete eventos já realizados em diversos palcos de Parnaíba, fortalecendo, assim, a cena roqueira da cidade nos últimos anos.
O último evento, realizado em 2009, que trouxe a banda carioca Black Dog e que tive o prazer de presenciar, significou um dos pontos altos, segundo o próprio Paulo Bastos, em sua jornada como propagador e incentivador do rock em Parnaíba. Sempre na busca de ajudar tanto veteranos quanto grupos recém-formados, ele segue, assim como o vi naquela nostálgica noite, de forma apressada e com uma mochila nas costas, mochila esta que traz uma bagagem rica de conhecimentos e atitudes, de alguém que soube amadurecer e envelhecer, sem nunca deixar de lado os anseios de quando era apenas um jovem, igual a muitos, igual a mim ou a vocês, rebeldes, sentimentais, inseguros, sonhadores, indomáveis, inesquecíveis, e muitas outras coisas…
Claucio Ciarlini (2010)