NUNCA ACEITE CARONA

 

Vitor de Athayde Couto

 

Carona oferecida? Desconfie!

Muita gente sabe que garçom cearense é metido a gaiato. Pra ser gaiato nem precisa ser garçom, basta ser cearense. Aliás, nem precisa ser cearense, basta se comportar como cearense, ou seja, não pode pegar o ar.

Se alguém zoa com um cearense, ele nunca se irrita. Pelo contrário, ele também zoa na hora, com mais perfeição. Portanto, muito cuidado! Na hora de zoar com cearense, tem que ter a manha.

Velame, um garçom cearense que trabalha no restaurante Peixada com Pirão, na praia do Meireles, em Fortaleza, conhece todos os clientes fiéis à casa. Quando alguém pede uma cerveja estupidamente ele sempre fala o seguinte:

– Meu patrão, se o senhor vai dirigir, não beba. Mas, se vai beber, me convide.

A piada é velha e besta, mas os clientes ainda riem. Fico me perguntando se riem da sem graceza da piada ou da cara do Velame. Tem gente que é assim, tem a cara tão engraçada que justifica aquela pergunta “Que foi? Tá rindo da minha cara?” Pois é, quando o gaiato tem cara de caricatura, principalmente um narigão imoral, é risada garantida.

Velame é muito inteligente e observador. Ao perceber que um cliente chegante não consegue estacionar o carro e pede ajuda ao manobrista, vai logo preparando uma zoeira:

– Bom dia, meu patrão, fique à vontade.

O cliente recém-chegado responde “bom dia, Velame!” – e pede o cardápio. Ao trazer a carta, Velame lasca esta:

– Doutor, se o senhor vai beber, não dirija. Mas, se não beber, também não dirija, meu patrão. Pelo amor de Deus! – e faz o sinal da cruz.

Acontece que o cliente tem a manha. Ao ver o garçom zoar, não pega o ar, faz cara de abestado e lasca:

– Não se preocupe, Velame, hoje eu lhe dou carona.

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Ouça o áudio com a narração do autor: 

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