O progresso que desumaniza
Capitulo Final
Porta de casa
O passado.
Os balões, a música, a correria danada, sem freio, nem sermão…
A casa, inundada de amor, amizade e tantos outros sentimentos que ajudam a preencher, guiar e a estruturar um ser humano, que mal aprendeu a cantar as canções românticas da rádio, que acha que o mundo dele será apenas de alegria e compreensão, de momentos enfeitados e coloridos, como os desenhos animados de He-man, Caverna do Dragão e Thundercats, que passam na Xuxa, todos os dias, como também quantos filmes da sessão da tarde, ele possa assistir, deitado no sofá e frequentemente despertado pela sua avó, mãe, vomãe!
Os amigos, a cada hora, chegando com presentes, que variam de brinquedos a roupas, mas é claro, que a preferência é dos brinquedos, que o ajudam na imaginação, de tantos contos e histórias, a se perder pelo tempo, que para ele nem existe.
Da porta de casa, arrumado e ansioso, ele, eu, recebo os amigos que se atrasaram… Sempre com um sorriso no rosto.
Até que uma voz conhecida me chama para a sala.
Uma pose para a foto, pouco antes dos parabéns, e a minha vomãe, ao mesmo tempo em que me abraça, com todo o carinho e ternura de sempre, aponta em direção do flash… Mal houve tempo de pensar!
Os dias atuais.
De frente para a minha antiga casa, repleta de recordações, tento conter as lágrimas ao lembrar, do tanto que mudou e do tanto que eu perdi…
Observo a porta de casa, do lado de fora, pois não é mais a minha casa, e sim de um desconhecido qualquer, que nem ao menos pagou adequadamente por ela…
Quem eu amava… Quem eu tanto amava, minha vomãe, já não mora mais nesta casa, nem nesse mundo…
Esse mundo cada vez mais desumano, que parece me devorar a cada noite, em que caminho pelos destroços de acidentes, puxadas de tapete, relatos de homicídios, construções inacabadas e tantos sonhos perdidos… Tento me manter forte, para que a insensibilidade não tome conta da minha alma, me agarrando forte no que me resta de família e amigos, esposa e filhas (meus grandes amores), apoiando-me também na minha escrita, e no meu trabalho, com meus alunos, que também são grandes amigos…
E desta forma eu vou vivendo, em meio ao progresso que desumaniza, tentando lutar, mesmo sabendo que sou muito pouco, a falar para uma pequena parcela, que muitas vezes nem lê, ou talvez nem mais sinta…
Toda uma angustia que aqui, eu revelo.
Claucio Ciarlini Neto