OS TRÊS MESTRES
Vitor de Athayde Couto
Era uma vez três mestres: o mestre do litoral, o mestre do vale e o mestre da montanha.
O MESTRE DO LITORAL
Naquele tempo, ninguém sabe quando, disse o mestre do litoral:
– Um dia, o maluco ficou doido de pedra. Espremeu sem sucesso os seis lados de um paralelepípedo de granito que se soltou do calçamento. Mas não queria morrer sem antes ter certeza de que as pedras são mamíferas.
– Como assim? – perguntei.
– É que, desde criança, ele ouvia as pessoas dizerem que tiram leite das pedras.
– Pra quê?
– Pra fazer sopa.
– Sopa?
– Sim, sopa de pedra.
– Nunca ouvi falar.
– Eu sei – disse o mestre. – Você é muito jovem e já não se fazem mais professoras como antigamente.
– Por quê?
– Porque o governo extinguiu uma das maiores instituições nacionais, cantada em verso e prosa.
– Que instituição é essa?
– A normalista.
– Normalista? O que é isso?
– Oxente! Pense uma moça vestida de azul e branco, séria, capaz de desempenhar qualquer atividade com perfeição. De um tudo. A sua competência vai desde fazer atendimento psicológico familiar complexo, até interpretar o mapa celeste da sua região, identificando constelações e estrelas.
– E agora?
– Agora só tem professores formados em curso superior de curta duração, mais conhecido como jajá, que se conclui com muita solenidade, sabe, essas grandes festas de empresas de eventos. Mas esses professores não sabem nem trocar uma fralda.
– Mestre!
– Sim?
– Finalmente!
– Finalmente o quê?
– Finalmente entendi por que tá todo mundo cagado.
O MESTRE DO VALE
Naquele tempo, ninguém sabe quando, disse o mestre do vale:
– Filho, vejo o teu semblante preocupado.
– Hum…???
– O que te aflige, nobre discípulo?
– Mestre…
– Sim, meu filho. Fale.
– Mestre… qual é o sentido da vida?
O mestre fechou os olhos, pensou por um bom tempo e disse:
– Filho, o sentido da vida está no movimento dos gnus. Pra onde quer que eles estejam indo, devemos segui-los.
– Ié, é?
– Oxente! E né não? – gritou o mestre, já duvidando de si mesmo.
– E pra onde vai todo esse gado?
– Pra Cuba… Venezuela… seguindo o verde dos pastos… sei lá, não enche o meu saco, não gosto de política.
O MESTRE DA MONTANHA
Naquele tempo, ninguém sabe quando, disse o mestre da montanha:
– O tempo é o espaço em movimento.
– Até quando, mestre? – perguntei.
O mestre cofiou a barba, pensou e refletiu. Mirando a paisagem montesa, olhou firme nos meus olhos e respondeu, com muita sabedoria, atirando pedras e xingando as cabras montesas que se aproximavam:
– Oxente! Sei lá! E vou dizer mais: tenho raiva de quem sabe! Xô, cabra! Sai pra lá, nojenta!
Enquanto isso, fiéis seguidores declamam o salmão da montanha:
– Rio arriba, o salmão desova pensamentos de gelo.
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