Uma série de irregularidades no transporte escolar coloca crianças e adolescentes em risco na Zona Rural de Cocal, região Norte do Piauí. Cerca de 100 estudantes são transportados diariamente sem as mínimas condições de segurança. Os dois ônibus disponibilizados pela Prefeitura de Cocal apresentam bancos quebrados, janelas que não fecham, assento improvisado, falta do cinto de segurança, além de falhas mecânicas.
O G1 acompanhou o trajeto que os veículos realizam diariamente levando alunos de três comunidades da zona rural para a Unidade Escolar Chico Monção e para a Escola de Ensino Médio Deputado Pinheiro Machado. Em uma das viagens, a equipe de reportagem ficou cerca de 20 minutos parada porque um dos ônibus apresentou falha no motor. Alguns estudantes aguardavam do lado de fora do ônibus enquanto o motorista consertava o problema.
Durante o percurso constatamos que os ônibus que pertencem ao senhor Manoel de Sousa Carvalho, conhecido como Oliveira Canoa, não deveriam transportar estudantes, já que não atendem às normas de regulamentação do Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
O Código diz que veículos especialmente destinados à condução coletiva de escolares somente poderão circular com a quantidade de cintos de segurança em número igual ao de passageiros, no entanto, o G1 flagrou estudantes sem o equipamento, além disso, por conta da lotação alguns alunos fazem o percurso em pé.
“É muito ruim ter que andar nesse ônibus. Não temos nem um pouco de conforto ao circular nele. Quando chegamos na escola estamos sujos por conta da poeira que entra no ônibus. Ninguém se preocupa com nossa situação. Tem dias que demoramos meia hora parados porque o veículo quebra”, disse a estudante Micaela de Araújo.
A maioria das ruas por onde o ônibus passa não tem asfalto e é justamente aí que a situação dentro do veículo fica ainda mais difícil, porque as crianças são jogadas de um lado para outro, principalmente na parte de trás, onde não há assentos.
“Às vezes o motorista freia e somos jogados um pouco para frente. Teve uma menina que bateu a cabeça em uma destas freadas bruscas”, relatou Franciane Nascimento, estudante da 6ª série na Unidade Escolar Chico Monção.A lataria do transporte escolar está enferrujada. A pintura de uma faixa horizontal na cor amarela e com nome ‘Escolar’, como determina o Código de Trânsito Brasileiro, também não existe nos dois veículos. Logo, é difícil identificar os ônibus como transporte escolar quando eles estão circulando e isso é motivo de preocupação para os pais dos estudantes.
“Fico aflita quando meu filho de 14 anos vai para a escola. Não deveria ser assim, mas como o ônibus que faz o transporte dos estudantes está em condições precárias, a preocupação só acaba quando ele chega em casa. Quando vejo que ele chegou bem”, diz Maria do Nascimento.Manoel de Sousa Carvalho é proprietário dos veículos e também trabalha como motorista em um dos ônibus. Ele disse ao G1 que os ônibus foram comprados na década de 90 e também explicou que passou a fazer o transporte escolar dos estudantes após ter sido contratado por uma empresa cearense que ganhou a licitação realizada pela Prefeitura Municipal de Cocal, no início de 2013.“Desde fevereiro trabalho conduzindo estas crianças até a escola. Não tenho condições de investir no ônibus porque o que ganho da empresa que me contratou é muito pouco. Eles pagam apenas R$ 2,40 pelo quilômetro rodado e percorro R$ 72 Km por dia para levar os estudantes de casa para a escola e vice-versa”, afirmou.
A assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal de Cocal informou que não compactuar com a postura da empresa que ganhou a licitação do transporte coletivo na cidade. “Não concordamos com a postura da empresa em conduzir os estudantes em ônibus velhos e sucateados, por isso há 20 dias notificamos esta empresa. A prefeitura solicitou a troca imediata dos dois veículos e caso a determinação não seja feita vamos reincidir o contrato”, disse a assessoria.
Fonte: G1 Piauí