Cinco meses depois do surgimento das primeiras manchas de óleo no litoral brasileiro, a origem do maior desastre ambiental do país ainda é desconhecida. A Marinha e a Polícia Federal coordenam a investigação.

As primeiras manchas de óleo surgiram em agosto de 2019. Com o tempo, as notificações se acumularam. O óleo atingiu os arrecifes da Praia de Muro Alto, em Ipojuca, litoral Sul de Pernambuco. As manchas atingiram pelo menos quatro praias de Porto Seguro, na Costa do Descobrimento.

Os nove estados do Nordeste, também o Espírito Santo e o Rio de Janeiro, registraram manchas de óleo, ao todo, 1.004 localidades, segundo o balanço mais recente do Ibama, divulgado no dia 23 de janeiro.

De acordo com o levantamento, 570 praias já estão limpas e 434 ainda têm vestígios esparsos de contaminação. Quase 160 animais marinhos — tartarugas, aves e mamíferos — apareceram cobertos de óleo.

Voluntários deram as mãos e passaram a limpar as praias. Depois, a Marinha enviou reforços para ajudar na limpeza e começou a investigar a origem do vazamento.

A partir de modelos matemáticos, especialistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) identificaram uma mancha inicial de petróleo cru a aproximadamente 700 quilômetros da costa brasileira no fim de julho de 2019. Isso permitiu localizar um navio petroleiro, o único que navegou pela área suspeita na data provável do vazamento. A embarcação estaria levando óleo da Venezuela rumo a Singapura.

Cinco meses depois do surgimento das primeiras manchas, a Marinha e a Polícia Federal continuam as investigações, mas ainda não sabem dizer com precisão a origem do óleo. O principal suspeito continua sendo um navio-tanque de bandeira grega, o Bouboulina.

Paulo Horta, do departamento de Botânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFRSC), no entanto, diz que faltam organização e transparência nas informações sobre o vazamento.

“Faltou clareza na divulgação, abrangência dessa divulgação, para que nós tenhamos convicções da onde veio este óleo. As respostas tardaram muito. Nós não tivemos uma resposta imediata. Nós precisávamos ter utilizado o plano de contingenciamento. A gente demorou muito para lançar mão de algumas ações presentes no plano”, afirmou.

Os investigadores dizem que enfrentam dificuldades em fazer a perícia no navio por causa das viagens constantes. Eles já fizeram três pedidos de cooperação jurídica internacional, mas não tiveram resposta dos donos do navio.

“Em conjunto com a Polícia Federal, ainda permanecemos levantando dados. O suspeito não quer dizer indiciado. Nós estamos na fase ainda de apuração dos dados. Temos alguma dificuldade de obtenção de documentos, em função de acordos internacionais onde o navio atraca, mas nós fazemos devidas investigações. Sem dia para terminar, nem ano, nem século. O que for necessário, a Marinha vai se debruçar sobre isso”, explicou o comandante da Marinha, almirante Ilques Barbosa Junior.

Fonte: G1