A antecipação do pagamento do Bolsa Família pela Caixa Econômica Federal é hoje a principal linha de investigação sobre as origens do boato de encerramento do programa, disseminado há duas semanas.
Os investigadores da Polícia Federal passaram a apontar erros internos cometidos pelo banco estatal como o mais importante foco do caso depois que os primeiros sacadores do benefício foram ouvidos em depoimentos nos 13 Estados onde ocorreram as corridas às agências.
Os primeiros saques foram feitos nos dias 18 e 19 de maio.
Nesses depoimentos à PF, os agentes descobriram que após a liberação antecipada do pagamento, expressiva quantidade de beneficiários do programa passou a ir aos bancos retirar o dinheiro.
Por não comportar o volume de sacadores, as agências ficaram sem dinheiro. o que, segundo os investigadores, pode ter sido o gatilho para o início do boato replicado depois por rádios comunitárias e na internet de forma viral.
O inquérito da PF corre em meio ao acirramento das declarações de conteúdo político estimulado tanto por setores do governo como da oposição. Nos bastidores, agentes da corporação reclamam que a politização do caso dificulta a coleta de provas.
ENTENDA O CASO
Rumores sobre a suspensão de pagamentos do Bolsa Família e também sobre um inexistente bônus pelo Dia das Mães levaram milhares de beneficiários a procurar no final de semana lotéricas e agências da Caixa Econômica Federal, o que gerou filas e tumultos em pontos de saque em 13 estados.
Nesses estados, beneficiários correram às lotéricas e agências após o boato de que o recebimento de valores do programa só seria feito até este sábado. Foram registradas longas filas e tumultos em diversos pontos de saque, principalmente em cidades do Nordeste e do Norte.
CRONOLOGIA
Em um primeiro momento, a Caixa informou que liberou o benefício após a confusão provocada pelos boatos, e com o objetivo de aplacar o pânico dos beneficiários.
Após a Folha revelar que dona de casa em Fortaleza (CE) conseguiu retirar seu pagamento de forma antecipada, o banco admitiu que houve mudança no calendário de repasses na véspera da eclosão das falsas notícias.
A polícia ouve pessoas atendidas pelo programa social em todos os Estados nos quais se registrou corrida aos bancos. Os agentes esperam concluir os depoimentos nesta semana para responder se a difusão do boato ocorreu de maneira articulada ou não.
Outras linhas de apuração ainda não estão descartadas, como a que envolve suposta empresa de telemarketing com sede no Rio de Janeiro. A tese, contudo, está cada vez mais frágil na corporação.
O BOLSA FAMÍLIA NO PIAUÍ
Um dos programas mais populares do governo Lula, o Bolsa Família, é alvo de críticas constantes. Criado em 2003, beneficiando mais de 13 milhões de brasileiros, sendo 446.493 pessoas somente no Piauí (segundo o balanço mais atualizado do programa referente ao mês de abril deste ano), o programa pagou, no último mês, R$ 842 apenas para uma família – este foi o maior valor pago pelo programa em maio na capital.
Os dados são da Secretaria Municipal do Trabalho, Cidadania e de Assistência Social (Semtcas) de Teresina que é responsável pelo cadastramento das famílias na capital piauiense. Segundo Luiza Marilac, gerente de Renda Mínima da Semtcas, o citado valor é resultado da soma do benefício do Bolsa Família (PBF) mais o Benefício para Superação da Extrema Pobreza na Primeira Infância (BSP), que é destinado para quem já recebe o PBF, tem crianças entre zero e seis anos de idade e a renda per capita não chega a R$ 70 por mês.
Conforme destaca a Coordenação Estadual do Cadastro Único (CadÚnico) e do Bolsa Família no Piauí, Roberto Oliveira, o repasse deste benefício no Piauí, durante o mês abril, alcançou mais de R$ 75 milhões. O impacto dessa transferência direta de renda pode ser mensurada através do tumulto que o boato da extinção do Bolsa Família e do suposto pagamento extra pela passagem do Dias das Mães causou no mês passado.
Fonte: Folha de São Paulo