Lara (Lívia de Bueno) e Érika (Nathalia Dill) em cena do longa

Documentarista premiado por “Estamira” (2004), o diretor carioca Marcos Prado esboça em sua primeira ficção, “Paraísos Artificiais”, um retrato de geração de jovens em busca de utopias pessoais e de prazer, embalados por drogas sintéticas e música eletrônica.

Um elenco jovem e promissor, escolhido em exaustivos testes e preparado por Fátima Toledo, sustenta na tela um grupo de personagens que buscam permanecer em estados alterados de consciência o máximo possível, às vezes por dias seguidos, em raves ou praias paradisíacas onde o tempo parece ser sempre o presente – enquanto durar o efeito do ecstasy.

Esses personagens são Nando (Luca Bianchi), que perdeu o pai (Marcos Prado, numa ponta), Érika (Nathalia Dill), Lara (Lívia de Bueno), Patrick (Bernardo Melo Barreto), uma geração pós-yuppie e sem vocação para ser o executivo de sucesso – alguns deles são, na verdade, recrutados como “mulas” para contrabandear drogas entre a Holanda e o Brasil. Suas procuras estão no prazer sensorial, que o filme materializa num belo trabalho de fotografia de Lula Carvalho, montagem de Quito Ribeiro e edição de som de Alessandro Laroca, Eduardo Virmont Lima e Armando Telles Jr.

Se há um vazio na tela, ele pertence à própria identidade de uma geração que absorve informações em ritmo alucinante e fragmentado, através de celulares, ipads, notebooks, muitas vezes sem conseguir prestar atenção a nada por mais que alguns minutos. Jovens que, na febre de definições da mídia, já foram chamados de “geração T”, por serem pessoas que testemunham as coisas, sem mergulhar em nenhuma.

Para que o retrato de geração se afirmasse mais consistente, falta um pouco mais de dramaturgia em alguns detalhes – como o impacto da morte do pai sobre Nando, seu irmão Felipe (Cesar Cardadero) e a mãe dos dois (Divana Brandão, atriz de “A Dança dos Bonecos”, de Helvécio Ratton,voltando ao cinema 26 anos depois).

Em todo caso, neste elenco estão vários atores novatos a que prestar atenção. O trabalho técnico do filme é todo de primeira, criando na tela essa espécie de universo paralelo dos delírios dos personagens, sob ação de substâncias sintéticas. Nem por isso o filme faz nem apologia nem discurso moralista sobre o seu uso, limitando-se a acompanhar as consequências de algumas escolhas na vida de cada um.

Filmado em várias locações, entre Amsterdã, Rio de Janeiro, Pernambuco e Alagoas, o filme tem sequências belíssimas servindo como cenário para as experiências dos personagens. Como uma “viagem” de peiote, numa praia alagoana com falésias, para onde foram transportados búfalos e um grande iguana que não pertenciam ao local, com a devida autorização do Ibama.

Fonte: G1