Vitor de Athayde Couto

Parabéns à Parnaíba, pelo seu aniversário!

Os vaqueiros da sorte, da quarta e da partilha sempre deram muito trabalho aos estudiosos da sociedade brasileira. A paga em bezerros é salário ou não é salário? A discussão sem fim em torno dessa questão rola até hoje, mesmo com a tendência à extinção dessa relação de trabalho, conhecida como renda-produto. A sua compreensão continua a ser um desafio. Mas o objeto desta crônica é o herói parnaibano do dia.

Esse herói-vaqueiro nordestino, e, por extensão, parnaibano, já foi mais importante no passado. No entanto, o aprendizado do manejo do gado importa até hoje. Nas condições ambientais específicas dos tabuleiros, a transferência das técnicas é feita de pai para filho.

Os empregados assalariados nas fazendas, agora tecnificadas, são descendentes de raimundos jacós, tão heróicos quanto anônimos, sem direito a placas nem monumentos. Já não vestem mais gibão de couro, nem correm nos sabiazais espinhentos do litoral. Cavalgando bizes com mais de cem cavalos, o vaqueiro vê Alma, foge das Vespas, faz a sua Honda, Yamaha o gado (aff, quanto trocadilho idiota – discupaê, galera, mas não resisti, haha).

O gado, já sem nome, atende por um chip ou código de barras preso na orelha. A rês com baixa produtividade vai direto pro “Curre”. Todos os seus descendentes serão descartados. Ficarão para sempre fora da curva de produção. Já não existe afeição entre a vaca Malhada e o seu vaqueiro. Sem conversa, sem aboio, sem assunto, o nosso herói acumula certificados de cursos sem fim que o capacitam a encharcar o gado de vacinas e antibióticos produzidos pelos laboratórios patrocinadores dos cursos.

Agora, só restam as lembranças e as histórias dos últimos heróis-vaqueiros ainda ativos. Felizmente a sua memória permanecerá viva naquele impressionante salão dos vaqueiros do Centro “Dragão do Mar”, em Fortaleza, capital do Ceará. Lá, os turistas do mundo inteiro encontram Cultura e História, com maiúsculas. Em vez de escravocratas, o Centro, por seu nome, homenageia o herói-jangadeiro que se recusou a transportar negros sobreviventes dos porões dos navios negreiros, para serem vendidos como escravos. Que os cearenses sejam sempre bem-vindos em Parnaíba. Eles trazem outra mentalidade em meio ao “silêncio eloquente”.