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O objetivo central dessas adaptações é suscitar em crianças e jovens o desejo pela leitura de obras.

“A adaptação literária para crianças e jovens: Robson Crusoé no Brasil” é o título do último livro lançado pelo professor Diógenes Buenos Aires, coordenador do mestrado em Letras/Português da Universidade Estadual do Piauí (Uespi).

O livro é resultado da tese de douturado de Diógenes, defendida na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), em 2006, e concentra sua pesquisa na adaptação de obras literárias para crianças e jovens, com suporte teórico da Estética de Recepção e da Sociologia da Leitura. O objetivo central dessas adaptações é suscitar em crianças e jovens o desejo pela leitura de obras que necessitam uma análise apurada para seu entendimento e que, por isso, poderiam criar um desinteresse no público infanto juvenil.

“A adaptação literária faz parte da gênese da literatura infantil, porque os primeiros textos criados para este público foram adaptações de clássicos do folclore nos séculos XVII e XVIII”, afirma o pesquisador. “Aqui no Brasil, as primeiras obras para crianças também seguiram este padrão. Mas, nas adaptações que chegavam aqui de Portugal, era possível observar as diferenças entre o português lusitano e o falado aqui no país”, complementa.

Segundo o professor, essas diferenças constituíam uma perda importante na compreensão da história original quando adaptada para o público infantil. “As adaptações não significam necessariamente obras de má qualidade, mas não gozavam de grande respaldo entre os leitores. Então os adaptadores solicitavam o apoio de grandes escritores. Assim, autores renomados escreviam o prefácio e a introdução, com o objetivo de chancelar a qualidade do trabalho realizado pelos adaptadores”, explicou.

Em seu estudo, Diógenes analisou as adaptações da obra inglesa “A vida e as aventuras de Robison Crusoé” (1917), de Daniel Defoe, que, entre 1882 e 2004, teve 40 adaptações no Brasil. O pesquisador fez uma análise comparativa das adaptações realizadas pelos escritores Carlos Jansen (1885), Monteiro Lobato (1931) e Ana Maria Machado (1995).

“Na adaptação do Carlos Jansen, é retirada a caraterística de um diário das aventuras do Robison Crusoé. Ele também reprova as ações deste por desejar viver aventuras e sair pelo mundo viajando. Já a adaptação de Lobato mantém o narrador como primeira pessoa, e foca no sujeito empreendedor que  Crusoé se torna. No final do século, Ana Maria Machado retoma o foco no aventureiro”, pontua.

Ao final da tese, o professor Diógenes Buenos Aires conclui delineando que as adaptações literárias mudam de acordo com as demandas do público leitor, do contexto histórico em que a adaptação foi redigida, perfil do adaptador e as editoras que produzem tais obras.

Fonte: Ccom