A doação de órgãos é um ato de amor e remete a decisões complicadas, que exigem bastante informação e conscientização. Todo o ano, milhares de pessoas têm suas vidas transformadas após a realização de um transplante.
Mudança que se reflete no seio familiar, nos níveis de relações sociais, em âmbito profissional e acadêmico; ou seja, se dirige para diversos pilares e amplia os horizontes.
Pensando nesse resgate e na difusão de informações em torno do procedimento, a Semana Nacional de Incentivo à Doação de Órgãos está sendo realizada em Teresina até o dia 27, promovendo várias ações importantes, abrangendo até mesmo homenagens a transplantados piauienses.
Segundo a gerente estadual da Central de Transplantes, Lourdes Veras, o momento é para agradecer. “Vamos homenagear os doadores e as famílias dos doadores, é também o momento de confortá-los e ver que o ato que tomaram naquele momento ajudou os pacientes”, revela.
Essa sensibilização passa pelo conhecimento. “As pessoas, quando não doam, é porque não conhecem o processo. O transplante é um renascer para a vida e esse é o nosso trabalho”, conta.
Com um trabalho desenvolvido desde 2001, a profissional garante que a curva de pessoas atendidas é ascendente. “Estamos implementando cada vez mais a nossa equipe, já que é uma ação de alta complexidade”, explica.
O objetivo para os próximos anos é ampliar ainda mais o sistema no Piauí. “Hoje a retirada de múltiplos órgãos só é feita no HGV (Hospital Getúlio Vargas); queremos desenvolver, implantar o programa na rede pública.
A perspectiva para 2015 é que possamos iniciar o transplante de fígado, fazíamos o de coração até 2008 e pretendemos voltar a realizá-los, para isso primeiramente estamos montando uma estrutura”, garante Veras. De acordo com a gerente, apesar das limitações, os pacientes não deixam de realizar o procedimento.
“Nós agendamos os que não são realizados aqui para outros Estados e arcamos com todas as despesas”, confirma. A atuação sistemática e conjunta das centrais em todo o Brasil são de suma importância para que nenhum órgão doado fique sem destinação.
“Quando eles não são compatíveis a piauienses, os disponibilizamos a nível nacional. Só este ano já foram realizados oito transplantes de fígado em outros Estados com órgãos retirados aqui”, limita.
O recomeço
A assistente social Jocélia Siriaco, há cinco anos, realizou um transplante de rim, antes da cirurgia ela vivia reclusa e sofria com as sessões frequentes de hemodiálise. “Fiz durante quatro anos e quatro meses e foi algo muito complicado, era muito doloroso”, detalha.
As mudanças ocorridas após o procedimento fizeram com que situações básicas pudessem ser retomadas. “Foi um recomeço, tenho uma vida praticamente normal atualmente, consegui estudar, me formar na faculdade e hoje trabalho ajudando a divulgar a importância da doação de órgãos”, diz.
Siriaco relata que já tinha quase perdido as esperanças após quatro tentativas frustradas, mas o sentimento ao ganhar mais uma oportunidade na vida foi transformador. “Eu chegava a sonhar com a ligação de que tinham conseguido um órgão compatível, durante algumas vezes fui chamada, fiz o teste, mas os anticorpos não deram certo, apenas na quinta vez que deu certo.
Com a notícia eu chorei, sorri, ao mesmo tempo que ficava angustiada pela perda da família do doador”, conta. Siriaco ainda detalha o alívio que sentiu em abandonar a hemodiálise. “Tinha chegado minha vez de sair dos aparelhos, tanto que nunca pensei que a cirurgia daria errado”, completa.
As informações mais recentes da Central apontam que em 12 anos foram realizados no Estado 1.407 transplantes, incluindo córnea (924), coração (17), rim de doadores vivos (291) e rim de doadores falecidos (175). A Central de Transplantes funciona num espaço anexo ao Hospital Getúlio Vargas, Centro-Sul de Teresina.
Fonte: Meio Norte