Piauí terá primeiro ambulatório voltado para travestis e transexuais
Olhar no espelho e não se reconhecer com o gênero que reflete certamente causa frustrações e uma série de transtornos. No Piauí, o procedimento cirúrgico de transição de gênero ainda não é realizado. Contudo, o Estado passará a oferecer um suporte especializado para quem deseja se submeter ao procedimento através do Ambulatório de Atenção Especializada no Processo Transexualizador da Saúde Pública Estadual.
O espaço funcionará no Ambulatório Integrado Dirceu Mendes Arcoverde – Prédio Azul, no Hospital Getúlio Vargas (HGV), e contará com uma equipe multiprofissional composta por médicos endocrinologista e psiquiatra; assistente social, enfermeiro e psicólogo. A data de inauguração está prevista para o dia 29 deste mês e será um local destinado à atenção especializada para o atendimento humanizado a lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais – LGBTT. A ação pioneira é parceria entre a Fundação Hospitalar (Fepiserh) e a Secretaria de Estado de Saúde (Sesapi).
“No ambulatório vamos atender travestis e transexuais, e os profissionais darão informações e apoio, orientando quanto aos seus direitos, das infecções sexualmente transmissíveis, do autocuidado. O endocrinologista irá tratar sobre a hormônioterapia e orientações, assim como o ginecologista”, comenta Maria Hilda Santos, fisioterapeuta e diretora do Ambulatório.
“Se essa população precisar de outras especialidades médicas, esses médicos irão encaminhar. É importante lembrar que as consultas devem ser marcadas nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), tanto de Teresina como no interior do Estado. Após isso, é que será direcionado para o ambulatório”, frisa a diretora.
Para Maria Hilda Santos, a criação do ambulatório é um divisor de águas para o Estado. “É um ambulatório que não existe no Piauí e a demanda é bastante grande, sendo que essa população não tem esse tipo de atendimento direcionado e específico. De alguma, esse serviço irá promover educação, saúde e prevenção”, acrescenta.
Resolução reduz idade mínima para fazer cirurgia de afirmação de gênero
O Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou, no início do mês, uma resolução que reduz de 21 para 18 anos a idade mínima para que pessoas transgênero possam realizar cirurgias de afirmação de gênero. A nova norma, que atualiza as regras de 2010, foi divulgada no Diário Oficial da União e traz à tona o desejo da transição de gênero de pessoas que não se reconhecem com o gênero de nascimento, garantindo também atendimento básico para transgêneros.
Segundo a norma, transgênero ou incongruência de gênero é a “não paridade entre a identidade de gênero e o sexo ao nascimento, incluindo-se neste grupo transexuais, travestis e outras expressões identitárias relacionadas à diversidade de gênero”. Além da mudança na faixa etária para acesso às cirurgias, a norma passa a incluir regras para acesso a terapias hormonais e uso de medicamentos para bloqueio da puberdade, que até então não havia uma regulamentação sobre o tema, que era definido apenas por meio de pareceres específicos.
O texto inclui esse procedimento e define as diferentes etapas de atendimento e cuidados à saúde de pessoas transgênero. De acordo com a resolução, crianças e adolescentes devem receber tratamento de equipe multiprofissional e interdisciplinar, vetando qualquer tipo de intervenção antes do início da puberdade.
Apoio psicológico é essencial
Para Maria Hilda Santos, fisioterapeuta e diretora do Ambulatório, o apoio psicológico para pessoas transgêneros é fundamental, especialmente com a nova norma do Conselho Federal de Medicina, que reduz a idade para cirurgia transgênero de 21 para 18 anos. Ela enfatiza que muitos jovens ainda têm dúvidas com relação à identidade de gênero e que buscar auxílio profissional pode ajudar a tirar dúvidas ou tomar decisões que possam se arrepender posteriormente.
“No ambulatório vamos ter psicólogo para dar esse apoio. Muitos pacientes relatam que têm crises de pânico e ansiedade por vários fatores, seja porque a família não aceita ou a sociedade é preconceituosa, então esse apoio psicológico, até mesmo para essa questão da cirurgia, vai ajudar. Até porque, muitas pessoas com 18 anos ainda estão criando seus conceitos e não estão tão maduras. O ambulatório vai ser um local de tirar dúvidas e apoiar”, enfatiza Maria Hilda Santos.
No Serviço de Atendimento Ambulatorial será feito o tratamento hormonal. Segundo a resolução do Conselho Federal de Medicina, a idade mínima para acesso a terapias hormonais será de 16 anos. Antes, a idade mínima prevista era de 18 anos. A medida segue parecer da Organização Mundial de Saúde, que retirou, em 2018, a transexualidade da lista de doenças mentais na nova versão da Classificação Internacional de Doenças, a CID-11. A transexualidade, porém, continua na CID, mas como incongruência de gênero, dentro da categoria de condições relativas à saúde sexual. O objetivo era garantir que cuidados à saúde dessa população continuassem a ser oferecidos na rede de saúde.
Fonte: Portal O Dia
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