As conversas de crianças e adolescentes na internet podem ser bem mais adultas do que o natural para a idade delas. Um levantamento feito pela ONG Safernet, especializada em segurança na rede, revelou que 40,5% das denúncias de crimes virtuais estão relacionadas com a pornografia infantil.
A notícia serve como um alerta aos pais. Proteger crianças e adolescentes dos abusos sexuais ficou mais difícil com a popularização da internet. As redes sociais, sites e salas de papo on-line oferecem risco constante para quem ainda está em processo de desenvolvimento da sexualidade.
Segundo a especialista em psicologia infantil, Sara Cavalcante, o processo de maturidade dos seres humanos começa a partir dos 6 anos, quando tem início o desenvolvimento da consciência social. “Antes disso, elas não conseguem discernir o que é certo ou perigoso”, explica a psicóloga.
Dos 10 até os 13 anos, acontece o desenvolvimento da consciência moral. Nessa fase da pré-adolescência, as regras sociais já foram assimiladas.
“Mas, para que isso aconteça, a criança ou adolescente deve ter sido orientado para tomar as decisões certas”, disse Sara. Isso significa que o acompanhamento dos pais ou responsáveis vai reduzir a probabilidade de os menores se tornarem vítimas de pessoas mal-intencionadas na internet.
Uma pesquisa realizada pela polícia inglesa mostra que 48% dos casos de abuso sexual infantil tem alguma conexão com pornografia on-line. As principais vítimas são adolescentes de 15 anos, que são encorajadas a enviar fotos com nudez para estranhos ou abordadas por adultos através de redes sociais.
Fazendo-se passar por uma adolescente de 14 anos, a reportagem do Jornal Meio entrou em uma sala de bate-papo de Teresina e pôde comprovar que os jovens da capital também estão vulneráveis às abordagens de cunho sexual pela internet.
Mesmo tendo expressado claramente a idade através do nick, muitos adultos tentaram conversar sobre sexo ou incentivar a prática sexual on-line com a suposta adolescente.
Um homem de 38 anos chegou a passar o e-mail para que fosse enviada uma foto na qual a jovem estaria apenas de calcinha.
Fantasia com menores revela desvio de comportamento
O que parece apenas uma brincadeira ou algo que não passaria de conversa virtual esconde desvios de comportamento perigosos. A fantasia sexual de um adulto por adolescentes, quando aliada à curiosidade de quem está se descobrindo sexualmente e não tem maturidade suficiente, põe em risco o desenvolvimento natural e até a integridade física das vítimas.
Segundo a psicóloga Clara Noleto, o sexo naturalmente é um assunto que desperta o interesse de todas as pessoas, mas questões éticas e de valores humanos não podem ser distorcidas. “Se o adulto tem princípios e sabe que está conversando com uma criança, não vai conduzir o assunto para questões sexuais. Isso é um desrespeito”, afirma a psicóloga. O problema é que não se pode confiar no bom senso de quem está do outro lado da tela do computador. Por isso os pais devem ficar vigilantes, estabelecendo limites e diálogo com os filhos. “É preciso conversar sobre todos os assuntos e falar sobre riscos e ofertas que os adolescentes vão encontrar na internet”, orienta Clara Noleto.
35% das denúncias envolvem menores de 10 anos
O segundo maior tipo de violência praticada contra crianças de 0 a 9 anos é a sexual.
O percentual é de 35% das denúncias. Em primeiro lugar estão os casos de negligência e abandono, com índice de 36%. O levantamento é do sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA) do Ministério da Saúde.
Os dados apontam também que 22% do total de registros envolveram menores de 1 ano e 77% foram na faixa etária de 1 a 9 anos. Na faixa etária de 10 a 14 anos, a violência física é o principal crime praticado contra menores, embora 10,5% das denúncias envolvam violência sexual.
Na idade entre 15 e 19 anos, a violência física responde por 28,3% dos registros, a psicológica tem índice de 7,6% e a sexual diminui para 5,2%.
As principais vítimas são do sexo masculino e 64,5% das agressões acontecem dentro de casa. Em relação ao meio utilizado para agressão, a força corporal/espancamento foi o meio apontado em 22,2% das denúncias.
Em 45,6% dos casos o provável autor da violência era do sexo masculino. Grande parte dos agressores são pais e outros familiares, ou alguém do convívio muito próximo da criança e do adolescente, como amigos e vizinhos.
Fonte: meionorte.com