Prata da casa não faz milagre ou como regionalizar o voto por uma representação parlamentar
O conceito de região é polissêmico e por esta razão torna-se necessário clarificar a respeito do que entendemos por região e regionalização. O conceito de região é um dos mais importantes da geografia e foi desenvolvido como uma forma de entender o espaço geográfico a partir de sua fragmentação em particularidades detentoras de características relativamente homogêneas e/ou identificáveis. Das regiões naturais, passando pelas regiões homogêneas e depois pelas regiões funcionais, o “desenho” de regionalizações foi tido como uma forma de compreender, ordenar e planejar o território. (Boscariol)
O tema da regionalização do voto desperta interesse de alguns e repulsa de outros. A abordagem vai na direção da dispersão eleitoral, no culmina com a falta de representação, na Câmara Federal, no Senado e no legislativo estadual, da micro região do litoral piauiense. Essa micro região é composta por 14 municípios, quais sejam: Bom Princípio do Piauí, Buriti dos Lopes, Cajueiro da Praia, Caraúbas do Piauí, Caxingó, Cocal, Cocal dos Alves, Ilha Grande, Luís Correia, Murici dos Portelas, Parnaíba, Piracuruca, São João da Fronteira e São José do Divino. Isso significa que, até o momento, foi incapaz de construir uma agenda regionalizada, com vistas ao seu desenvolvimento econômico e social.
A micro região tem uma população estimada em cerca de 320.982 pessoas (IBGE/2020) e, nas últimas eleições, apresentou um eleitorado de 237.036 eleitores, representando cerca de 74,0% da população.
Nas eleições de 2018, o que foi disputado: 2 vagas para o Senado Federal, 10 vagas para a Câmara Federal e 30 para a Assembleia Legislativa. Impressiona a dispersão do eleitorado ou, a incapacidade dos candidatos regionais em levar aos eleitores, mensagens que despertassem interesse, ou melhor, propostas que pudessem significar retorno para a região ou do local em que vivem.
Este comentário tem origem no seguinte trabalho: eleições 2018, consultado o resultado eleitoral dos 14 municípios da micro região do litoral piauiense; a partir desse resultado foi verificada a votação dos 10 deputados Federais e Estaduais mais votados; constatado o resultado, observa-se uma tragédia regional isto é, os candidatos que “aparentemente” representavam a região, tiveram um desempenho sofrível.
Para compreensão do texto, entende-se como candidato regional aquele que se apresentou representando um dos municípios da região. Nesse sentido, foram candidatos a deputado Federal – Juliana Moraes e Souza e Samarone. Para deputado estadual foram os seguintes os candidatos: Dr. Hélio, Zé Filho, Deusimar Tererê e Joaozinho Unimagem de Parnaíba. Para comprovar a afirmativa de desempenho sofrível, apresento, por município, o encontrado:
Bom Princípio do Piauí
Para a votação de deputado Federal 2 nomes da região ficaram entre os 10 mais votados. Um ficou com o terceiro mais votado e a candidata em décimo lugar.
Para a votação de deputado Estadual os candidatos ficaram em quinto, sexto e décimo lugar.
Buriti dos Lopes
Para a votação de deputado Federal apenas a candidata ficou entre os dez mais votados e, assim mesmo em quinto lugar.
Para a votação de deputado Estadual somente dois candidatos ficaram entre os dez mais votados. Um em terceiro e o outro em quarto lugar.
Cajueiro da Praia
Para a votação de deputado Federal 2 nomes da região ficaram entre os 10 mais votados. A candidata ficou como a quarta mais votada, enquanto o candidato ficou em nono lugar.
Para a votação de deputado Estadual os candidatos ficaram em terceiro, quinto e décimo lugar.
Caraúbas do Piauí
Para a votação de deputado Federal apenas a candidata ficou em décimo entre os 10 mais votados.
Para a votação de deputado Estadual apenas um candidato ficou entre os 10 mais votados.
Caxingó
Para a votação de deputado Federal a candidata foi a segunda mais votada e o candidato foi o sétimo mais votado.
Para a votação de deputado Estadual os candidatos ficaram em segundo, oitavo e décimo lugar.
Cocal
Para a votação de deputado Federal 2 nomes da região ficaram entre os 10 mais votados. A candidata ficou como a quarta mais votada, enquanto o candidato ficou em nono lugar.
Para a votação de deputado Estadual os candidatos ficaram em terceiro, quinto e décimo lugar.
Cocal dos Alves
Para a votação de deputado Federal nenhum nome, da região, logrou qualquer voto.
Para a votação de deputado Estadual apenas um candidato foi votado, e ficou no décimo amis votado.
Ilha Grande
Para a votação de deputado Federal apenas a cândida foi votada, ficando com a sexta votação, entre os dez mais votados.
Para a votação de deputado Estadual os candidatos ficaram em primeiro e quinto lugar, entre os dez mais votados.
Luís Correia
Para a votação de deputado Federal os 2 nomes da região ficaram entre os 10 mais votados. A candidata ficou como a quinta mais votada, enquanto o candidato ficou em sexto lugar, mais votado.
Para a votação de deputado Estadual os candidatos ficaram em segundo e terceiro lugar.
Murici dos Portelas
Para a votação de deputado Federal somente a candidata foi contemplada com oitavo lugar, entre os dez candidatos mais votados.
Para a votação de deputado Estadual os candidatos ficaram em sexto e non lugar, entre os dez mais votados.
Parnaíba
Para a votação de deputado Federal a candidata ficou como a mais votada e o candidato como o quinto mais votado, entre os 10 mais votados.
Para a votação de deputado Estadual os candidatos da região, que foram quatro, e foram os quatro mais votados entre os dez mais votados.
Piracuruca
Para a votação de deputado Federal somente a candidata foi votada, tendo a quarta votação entre os 10 mais votados.
Para a votação de deputado Estadual somente um candidato quinto lugar entre os dez mais votados.
São João da Fronteira
Para a votação de deputado Federal, neste município, os candidatos da região não tiveram votação que permitisse ficar entre os 10 mais votados.
Para a votação de deputado Estadual da mesma forma, isto é, os candidatos não tiveram votação suficiente que ficassem entre os dez mais votados.
São José do Divino
Para a votação de deputado Federal, neste município, os candidatos da região não tiveram votação que permitisse ficar entre os 10 mais votados.
Para a votação de deputado Estadual apenas um candidato foi votado, sendo o nono, entre os dez mais votados.
Após esse aprofundamento do que aconteceu nas eleições de 2018, algumas observações podem ser tiradas, entre elas estão:
- A falta de uma liderança, de peso regional, que possa agregar e conduzir um conjunto de propostas regionais e que possam se estender para o estado;
- Essa dispersão, caracterizada pelos votos obtidos por candidatos fora da região, favorece, e muito, a falta de compromisso com causas regionais;
- Caso se faça um apanhado das propostas apresentadas, poucas ou nenhuma, retrata os anseios da coletividade;
- As lideranças regionais não se preocuparam em construir uma agenda regional que pudesse abarcar as principais questões que dizem respeito aos 14 municípios;
Em termos reais entende-se que, na representação parlamentar, tanto na Câmara Federal quanto no legislativo estadual, a região está no pior dos mundos, visto que, apenas existe um representante no legislativo estadual.
Faz diferença? Sim. No mundo político, essa falta de representação, a região jamais será ouvida. Projetos estruturantes ou outros projetos mais localizados, não serão reivindicados, visto que essa ausência de representantes fez com que a região fosse esquecida.
Casos concretos podem ser trazidos à tona e, pode-se citar:
- Porto de Luís Correia – projeto estruturante que, ao longo de mais de um século, é falado, comentado, e só é lembrado por sua ineficiência ou quando surrupiam os recursos públicos;
- Barragem dos Algodões – construída no município de Cocal, represando o rio Pirangi, rompeu, em maio de 2009, quando acumulava mais de 50 milhões de m³ e, até hoje, não entrou na agenda de nenhum governante;
- Infraestrutura – aqui tem-se um campo aberto como: energia elétrica altamente oscilante; sistema de esgotamento sanitário altamente deficitário; sistema de abastecimento de água potável, também deficitário; telecomunicações, no mesmo diapasão; turística, com ampliação do fluxo, isso fica a mercê; ferrovia, que cobrisse o trecho Picos/Teresina/Parnaíba/Luís Correia, nos aspectos de passageiros e de carga; e, finalmente, melhoria dos acessos rodoviários.
Este é o momento para que unidades suprapartidárias entrem em ação. A Universidade Delta do Parnaíba, campus da Universidade Estadual, Universidades particulares com seu papel inovador e transformador, dispõem de um amplo campo para construir uma AGENDA que reverbere para toda a microrregião do litoral piauiense. Nesse sentido os Clubes de Diretores Lojistas e outros segmentos da sociedade civil organizada que possam participar livremente.
É mais que urgente e necessário que a construção dessa AGENDA dissemine na região um sentido de unidade. Não há preocupação com defecções. O é importante que haja disposição para a construção dessa AGENDA.
As forças da sociedade civil que estão aí, precisam colocar o bloco na rua e, mais uma vez, evitar que a região fique a mercê de representantes de outras regiões e que não traga retorno em investimentos, desenvolvimento econômico e social.
Flávio Sousa – administrador e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana.