Localizado na zona Sudeste de Teresina, o Bairro Dirceu já ocupou algumas vezes as páginas policiais dos jornais. Mas uma iniciativa inesperada ganha destaque: a Estação Piauí Digital vem possibilitando o acesso da população carente ao mundo da internet por meio de cursos de informática e da utilização gratuita de computadores. Até agora, centenas de pessoas já foram beneficiadas e o número não para de crescer.
Na Estação Digital as portas estão abertas para quem precisar. Além do acesso livre, cursos de digitação e informática são oferecidos gratuitamente para a população, que se sente ainda mais preparada para o mercado de trabalho. São dez computadores ligados em rede, funcionando na sede com o papel de apresentar a rede mundial de computadores para os moradores da região. Entre os visitantes, os estudantes são maioria. Muitos deles têm contato com a internet pela primeira vez.
É o caso do estudante Francisco Washington. Aos 20 anos de idade, ele busca uma oportunidade para vencer na vida. Mesmo após concluir o ensino médio, ele faz um cursinho preparatório que o ajudará a passar em um vestibular. “Estava no Exército, mas larguei tudo para continuar os estudos, pois meu sonho é cursar Direito. Hoje me inscrevi em dois vestibulares e a Estação Digital salva minha pele, pois não tenho dinheiro para pagar lan house.
Aqui eu faço pesquisas, trabalhos e procuro novas formas de aprender”, detalha. O telecentro hoje tem 20 alunos matriculados em duas turmas distintas onde cada aluno assiste às aulas em seu próprio computador. O número reduzido de aprendizes se dá por conta da quantidade de máquinas e dos instrutores.
A Estação formou quatro turmas ano passado e cada curso tem carga horária de 40 horas. Em pouca mais de um mês de aula, os moradores recebem um certificado emitido pelo centro. Eles aprendem Introdução ao Processamento de Dados, Windows, Word, Excel, Power Point, Internet e Digitação.
A dona de casa Miliana Pereira de Gois, de 34 anos, também aproveita a oportunidade. Desempregada há um ano e concurseira de carteirinha, ela utiliza os serviços da Estação sempre que possível. “Hoje vim conferir o gabarito de uma prova que fiz no final de semana. No restante do tempo, faço atividades como assistir aulas virtuais, pego provas de concurso para treinar em casa e entro em contato com os amigos distantes. Não tenho computador em casa e essa é uma oportunidade de ouro para me manter conectada no futuro”, revela.
A procura da comunidade é tão grande que a direção do centro planeja dobrar o atendimento no próximo ano. “É um serviço aprovado pela comunidade que recebe grande volume de visitantes. Já entramos em contato com nossos parceiros, fizemos o pedido de mais dez computadores e instrutores para auxiliar no curso de informática”, informa o coordenador José Francisco do Nascimento.
A Estação Digital pretende ampliar os serviços para pessoas da terceira idade, pois, segundo Francisco, eles cobram por cursos especiais. “Estamos estudando estender nosso horário de funcionamento até a noite, pois quem trabalha pela manhã também terá uma oportunidade de mudar de vida ao se capacitar melhor para o mercado de trabalho”, completa o coordenador.
Estação já foi centro de emissão de documentos
Inaugurado em 2003, a Estação Piauí Digital nasceu com a missão de emitir documentos como a Carteira de Identidade e CPF, uma função bem diferente de hoje. Só depois o centro se transformou de fato em uma estação digital. O coordenador José Francisco conta que há poucos anos atrás os computadores eram defasados e davam muito problema. Foi quando eles fecharam a parceria com a SASC e a Agência em Tecnologia da Informação, que entregaram 10 máquinas novas em folha e arcam com as despesas de manutenção e pagamento de instrutores.
“No início o prédio era bem diferente de hoje. Os computadores viviam dando problema e a população ficava revoltada porque não conseguia usufruir de um bem público. Com a parceria esperamos dobrar a capacidade de atendimento e ampliar o horário de funcionamento, que só vai até às 18 horas”, detalha José Francisco.
A ajuda deu resultados: a população está usando, se aprofundando e se familiarizando com a informática através das Estações. Nas EPDs, qualquer pessoa tem acesso e uso livre aos computadores, além de um instrutor para tirar dúvidas. Lá elas podem criar e-mail, utilizar serviços do governo e fazer trabalhos. Essa é uma forma de inclusão social. Em 2012 os cursos de planilhas eletrônicas e editores de texto foram implementados e iremos crescer ainda mais”, assegura o coordenador.
Caminhão Digital muda a vida de comunidades carentes
Outro projeto que vem abrindo novas perspectivas profissionais para comunidades do interior é o Caminhão Digital, uma escola móvel que oferece cursos de informática gratuitamente para jovens e adolescentes que precisam se qualificar para o mercado de trabalho. Implantado em 2006, o caminhão tem o objetivo de proporcionar a inclusão digital para a população que vive em condições de vulnerabilidade.
A escola itnerante foi projetada para ajudar famílias em situação de vulnerabilidade e atende 360 pessoas em 45 dias, o período de duração do curso. O caminhão já percorreu mais de 70 municípios e faz sucesso por onde passa.
“Por se tratar de uma novidade, todo mundo quer participar. Não existem cursos de informática na maioria dos municípios do interior e as pessoas de lá enxergam como uma oportunidade que contará a seu favor, pois saber manusear o computador é uma exigência do mercado de trabalho”, fala José de Ribamar Silva, gerente de Inclusão Produtiva da SASC.
Para levar a inclusão digital ao maior número de pessoas, o projeto conta com 02 unidades móveis: uma para a região Sul do Estado e outra para a região Norte. Para se inscrever no programa, é necessário ser maior de 16 anos, ter cursado ou estar cursando a 5ª série do ensino fundamental e ser contemplado pelo Bolsa Família. Os interessados em participar do curso devem apresentar cópia de documento de identidade e preencher a ficha de inscrição disponibilizada por eles. A quantidade de critérios não afasta os interessados e, segundo José de Ribamar, as vagas são preenchidas em tempo recorde.
Neste ano os municípios de Lagoa do Piauí, São José do Divino, Passagem Franca, São João da Serra, Tanque do Piauí, São João da Varjota, Colônia do Piauí e Santa Rosa do Piauí foram contemplados com o curso, que capacitou 2880 alunos. “Agora os jovens do interior não precisam se preocupar, pois nossa meta é cobrir todo o Piauí nos próximos anos. Os jovens do interior esperam por algo que melhore a sua vida e o Caminhão Digital é a solução”, declara o responsável pelo programa.
Estação Digital afasta menores da criminalidade
Os novos horizontes proporcionados pelo mundo virtual têm ajudado crianças carentes da região do Dirceu e Renascença a se distanciarem de problemas contemporâneos como o vício em drogas e criminalidade. De acordo com o coordenador José Francisco, em vez de desperdiçarem tempo nas ruas, os jovens aproveitam o tempo livre navegando na internet e absorvendo experiências construtivas.
José parece estar certo. O pequeno Luís Müller, de 11 anos, utiliza as máquinas ao menos duas vezes por semana.
Ele gosta de navegar na rede mundial de computadores para aprender coisas novas e também para se divertir nos jogos virtuais. “Meus amigos disseram que a gente podia vir aqui quando quisesse; vim pela primeira vez e não parei mais”, brinca. “Venho aqui toda semana e uso para conversar no Facebook, jogar e fazer os trabalhos da escola. A internet é rápida e os computadores novinhos em folha”, conclui o aluno.
José de Ribamar explica que o projeto busca acabar com essa história de analfabetismo digital. Se antes um computador era artigo de luxo, hoje em dia todos podem ter acesso a um. “Pretendemos aumentar o número de turmas para agregar mais pessoas atendidas. Mesmo não sendo nossa intenção prioritária, sabemos que estamos ajudando crianças a tomarem decisões certas e continuaremos assim”, pontua o gerente Inclusão Produtiva.
Fonte: meionorte.com