Todos nós já contamos aquela “mentirinha” inofensiva para nos livrarmos de uma bronca da mulher ou do chefe, por demorar na cerveja com os amigos, ou chegar atrasado ao trabalho.
Apesar de serem contra as regras morais e educacionais da sociedade, estas desculpas podem até ser saudáveis para que treinemos nossa capacidade de jogo de cintura nas agruras do dia-a-dia.
Mas e quando o mentir torna-se hábito e não mais se consiga viver sem que algo escape à verdade?
É normal que as crianças mintam. Esse comportamento fantasioso faz parte do universo infantil, quando o amadurecimento pessoal começa a ser formado.
Porém, o que parece uma atitude ingênua pode tornar-se um problema sério na juventude, quando a pessoa começa a se assumir como indivíduo e passa a sustentar relacionamentos sociais adultos.
A “síndrome de Pinóquio” pode se expressar de duas maneiras. A primeira é a mentira compulsiva, em que são inventadas histórias para livrar-se de problemas. Neste caso há consciência sobre aquilo que está sendo feito, porém, o mentiroso encara o hábito como uma “mentira boa ou inofensiva”.
Já a mitomania, originalmente conceituada em 1905, pelo médico e psiquiatra francês Ernest Dupré, é uma tendência patológica à fabulação. As histórias imaginárias do mitômano são, às vezes, pitorescas, bem concatenadas e induzem à convicção. Quem sofre do mal cria uma realidade paralela tão boa que passa a acreditar que vive nela.
Nota-se que em ambos os casos, no mentir compulsivamente ou patologicamente, há a necessidade de inventar fatos para sentir-se bem e equilibrar o humor. O mentiroso goza das histórias que deixam sua vida mais interessante, agitada e prazerosa e com isso recebe do outro destaque e atenção.
Dessa forma, essas doenças surgem como sintomas de outras questões psicológicas, como a depressão e outros problemas emocionais.
Apesar de bem elaborada as histórias fantásticas criadas por mentirosos compulsivos, é possível manter-se atento a alguns relapsos e com isso identificar o mentiroso:
1# Necessidade de atenção
Há pessoas que precisam ser o centro das atenções onde quer que estejam. A fim de manter sua popularidade em alta, logo começam a construir uma imagem de si através de mentiras mais leves. Essas mentiras rapidamente se tornam parte de suas personalidades.
2# Contador de histórias
Eles precisam sentir-se superiores aos demais e, para isso, contam histórias de sua bravura, popularidade e grandes feitos. Eles compõem grandes histórias sobre si mesmos, mas correm o risco de perder seu encanto quando a verdade vem a tona. Sabe aquela história de pescador?
3# Esconder-se
Quando um mentiroso compulsivo fica preso a sua teia de mentiras, irá inventar outra história sobre como é falsamente incriminado, escusando-se de qualquer culpa ou responsabilidade.
4# Mesma história, personagens diferentes
Para manter sua “vida grandiosa” aos olhos dos outros, têm de adotar o plágio como uma parte integrante do seu comportamento. Ao contar uma mentira após a outra, podem não perceber que disseram a mesma mentira para a mesma pessoa mais de uma vez. Cada vez que se conta a mesma mentira, o conceito básico irá permanecer, sendo apenas os personagens, local e data da ocorrência mudados.
5# Baixa auto-estima
Baixa auto-estima é uma das principais razões que os torna mentirosos compulsivos. Um complexo de inferioridade impulsiona a pessoa a inventar histórias, o que o faz pensar que é mais importante e apreciado.
6# Déficit de Atenção e Hiperatividade (DDA)
Este é um caso mais comum em crianças, mas há também adultos com DDA que sofrem de um temperamento impulsivo e com isso exibem sintomas de mentirosos compulsivos.
7# Transtorno Bipolar
Pessoas que possuem o diagnóstico de transtorno bipolar sofrem com mudanças drásticas de humor que oscilam entre a depressão e grande agitação (comportamento maníaco). Durante o período maníaco, seu comportamento impulsivo abre caminho e isso, por vezes, os leva a mentir.
8# Dependências
Pessoas dependentes de drogas e jogos, frequentemente apresentam estes sintomas. Eles podem mentir para escapar de situações difíceis, sair de problemas financeiros ou esconder a verdade sobre si da família e amigos.
9# Negação da realidade
Pessoas que são incapazes de enfrentar a verdade, ou estão vivendo em negação da realidade são verdadeiros mentirosos compulsivos. Eles podem começar um jogo emocional elaborado que leva a atenção deles e dos outros para longe da realidade em que vivem.
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Aposto que lendo este texto já diagnosticou aquele seu amigo falastrão, sua sogra, ou até mesmo você como mentiroso compulsivo não é mesmo? Quem não gosta de aumentar um ponto naquele conto?
Deixando de lado as mentiras (quase) inofensivas que os homens contam, o diagnóstico dessa patologia deve ser minuciosa e atentamente realizado. A mentira patológica acomete pessoas com transtornos de personalidade narcisista, histriônica (excesso de emotividade e busca de atenção) e anti-social.
Essas características são notadas a partir de observações criteriosas, e quando tratadas prematuramente, diminuem o risco de evolução da doença.
Por Patrícia Vaz EL HOMBRE
Edição: Costa Norte