Raul Velloso: “O Brasil está parado e o tarifaço de Trump é mais uma bomba”
Em entrevista exclusiva à TV Costa Norte, o economista Raul Veloso analisa impacto das tarifas dos EUA, o envelhecimento da população e a paralisia do investimento público.
Em meio à tensão diplomática provocada pela decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre as importações brasileiras, um dos mais respeitados economistas do país fez um alerta contundente: “Essa é mais uma bomba em uma economia que já está parando há décadas”. A declaração é de Raul Velloso, ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento, doutor em Economia pela Universidade de Yale e um dos maiores especialistas em contas públicas do país.
Velloso concedeu entrevista exclusiva à TV Costa Norte, diretamente de Brasília, e não poupou críticas à condução econômica e política que, segundo ele, deixou o Brasil vulnerável em dois eixos centrais: a falta de investimentos em infraestrutura e o crescimento explosivo dos gastos previdenciários.
“O tarifaço é um gesto político e não econômico”, afirmou. “Os Estados Unidos têm superávit nas relações comerciais com o Brasil. Não haveria justificativa racional para impor essa tarifa. Isso é uma retaliação política, muito provavelmente ligada ao tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados.”
Na avaliação de Velloso, caso a medida seja efetivada e não haja um esforço diplomático de contenção, os impactos serão sentidos no preço final de produtos que chegam ao consumidor, inclusive alimentos.
“Vai ter efeito cascata. Os preços vão subir, e os consumidores, claro, vão comprar menos. A economia, que já está comprimida, será ainda mais afetada”, alertou.
Embora seja um tema de política internacional, o economista defende que a sociedade brasileira deve pressionar seus líderes a encontrar caminhos diplomáticos. “Essa é uma questão que está nas mãos do topo da administração pública. Mas o povo precisa cobrar estratégia e competência na condução dessa crise.”
Para além da conjuntura internacional, Raul Velloso apontou um problema estrutural que, segundo ele, “vem sendo ignorado pelos políticos”: o envelhecimento acelerado da população brasileira e os gastos crescentes com a Previdência, que têm drenado recursos públicos e paralisado investimentos em áreas fundamentais para o crescimento econômico.
“Ninguém vai deixar de atender as demandas das aposentadorias. Mas, ao fazer isso no ritmo atual, o país parou de investir. E não investindo, não cresce. Não crescendo, não há emprego para absorver os jovens que chegam ao mercado de trabalho. É um ciclo perverso.”
Velloso lembra que o Brasil é um dos países com maior aceleração no envelhecimento populacional no mundo, e que os gastos com benefícios previdenciários já consomem parcela significativa do orçamento federal.
“Essa é a grande trava do desenvolvimento brasileiro. E ninguém parece disposto a encarar essa realidade de frente.”
Raul Velloso não apenas traça um diagnóstico severo da situação brasileira, como reforça que a saída passa por um redesenho da política fiscal, com foco em destravar os investimentos públicos. E que, para isso, será preciso coragem e maturidade política.
“Se os dirigentes públicos não acordarem, o futuro do Brasil estará comprometido. Não só para nós, mas para nossos filhos e netos. Há muito o que fazer. E o tempo está correndo contra nós.”
A entrevista completa foi exibida no Jornal da Costa Norte – Edição do Meio-Dia, desta quarta-feira (10), e pode ser assistida pelo canal da TV Costa Norte no YouTube, no link abaixo: