Religiões no Brasil 7: MOBILIDADE RELIGIOSA

 

Vitor de Athayde Couto

 

O que leva seguidores temporários à mobilidade religiosa? Em outras palavras, por que eles estão sempre pulando de uma religião a outra?

Nos seus estudos sobre história das religiões, Ifé descobre uma surpreendente variedade de crenças. Elas envolvem quase todos os povos do mundo, etnias e culturas em geral. Crenças são redes de poder, e operam como redes sociais. Pelas redes de poder, crentes internautas interagem com deuses, seja um deus único (monoteísmo), sejam vários deuses (politeísmo), cada um na sua função. Sem uma boa variedade de crenças não existe mobilidade religiosa.

Ifé não questiona se a variedade de crenças é boa ou ruim. Ela simplesmente identifica e analisa, reconhecendo a sua diversidade como expressão humana, que também se revela na literatura, nas artes, nos costumes, na gastronomia, nos códigos linguísticos etc. É na diversidade, e por causa dela, que emergem os conflitos humanos:

Não gosto da sua comida. Não gosto das suas roupas, do seu cabelo, da sua dança, da sua língua, do seu cheiro, da sua alegria, da sua preguiça, do que você fala e escreve, enfim, não gosto da sua religião. Por quê? Muitas vezes, porque meus antepassados também não gostavam.

Assim nasce e se reproduz a intolerância. É nos seus piores momentos que ela se manifesta coletivamente e, no limite, faz cada vez mais guerras e menos amor.

A mobilidade religiosa pode ser privada ou pública, de iniciativa individual ou coletiva. Um exemplo clássico é quando duas pessoas se apaixonam. Se há barreiras religiosas entre elas, com regras muito rígidas, uma das duas vai ter que abrir mão da sua religião e aderir à da pessoa amada. Se se trata de um casal hétero, na maioria dos casos quem cede é a mulher, em silêncio. Esse tem sido o tema central de muitos dramas e tragédias que alimentam o teatro e a literatura.

Mas há exceções, principalmente quando uma relação envolve riqueza e outras formas de poder. Um casamento entre dois nobres pode ter impactos coletivos importantes. Pode somar e ampliar exércitos. Pode até definir o resultado de uma guerra. Pode ampliar domínios territoriais, riqueza… Pode até redefinir costumes e valores, inclusive religiosos. Portanto, não é exagero dizer que a mobilidade religiosa pode alterar o próprio curso da história da humanidade.

(CONTINUA)

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