Religiões no Brasil: NOTAS DE LEITURA 1

Vitor de Athayde Couto

Recebi comentários de leitores que gostariam de continuar acompanhando os estudos de Ifé sobre religiões no Brasil. Assim reacendeu algum interesse sobre esse importante tema, ora esquecido pelas instituições científicas, ora ideologizado por falsos estudiosos, cujo objetivo é apenas divulgar supostas verdades – as suas verdades.

Falar de religiões supõe antes de tudo respeitar todas elas, sem exceção, principalmente os seus devotos e seguidores. Eles buscam suprir as carências que a vida lhes impõe, enquanto a espiritualidade apascenta os seus medos, inclusive da morte e da pós-morte. Sendo muito polêmico, esse tema requer método científico seguro e adequado.

Em primeiro lugar, chama atenção a grande diversidade de pontos de vista, que não se verifica apenas entre representantes e líderes das diferentes religiões, mas também no interior de cada uma delas. Ifé deparou-se com essa dificuldade logo nas primeiras entrevistas. Felizmente guardei algumas notas manuscritas em fichas de leitura e roteiros que a doutoranda produziu desde a revisão bibliográfica.

Essa mesma diversidade também se observa quando médiuns recebem entidades em geral, cujas orientações são divergentes. Daí a necessidade de algumas casas estabelecerem uma hierarquia rigorosa, deixando a última palavra para a entidade mais importante e protetora da casa.

Em uma das fichas encontrei o relato de um dos fatos mais corriqueiros, relacionado com santos de cabeça. Por exemplo, se um devoto consulta várias ialorixás de diferentes casas, os búzios quase sempre indicam diferentes santos de cabeça. A explicação clássica muitas vezes apoia-se na ocorrência de brigas de santo, quando as entidades disputam o monopólio da orientação do devoto consulente, para adoção.

Em outra ficha lê-se: “a umbanda é a única religião brasileira”. Mas, logo ao lado dessa frase, está sublinhada a palavra “discutível”. Mais adiante, as anotações prosseguem com as seguintes perguntas:

De onde vem a palavra umbanda? Religião brasileira com nome angolano? Onde e quando a umbanda começou?

A última pergunta remete para uma controvérsia exacerbada depois do uso da internet. São os próprios sites e estudiosos da umbanda que divergem quanto à sua origem. Para uns, a umbanda foi introduzida no Brasil pela calunduzeira angolana Luzia Pinta, na primeira metade do século XVIII. Luzia já estabelecia contato com o sobrenatural para fins de cura e magia. Primeiro, na Bahia, depois, em Minas Gerais, Luzia foi agregando entidades de povos originários do Brasil, sugerindo um processo sincrético.

Outros sites umbandistas remetem a origem para Zélio de Moraes, em 1908, no Rio de Janeiro, ao incorporar o caboclo das Sete Encruzilhadas. Mais outros atribuem a origem às macumbas da região Sudeste. Mas é na década de 1930 que a umbanda emerge como uma nova religião, influenciada pelo processo de urbanização e substituição de importações de produtos industriais no Brasil. Até então, os pejis domésticos eram rurais, típicos de uma sociedade agrária.

(CONTINUA)

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