De quatro atletas marcadores convocados no início do trabalho, técnico aproveita lesão de Elias e chega a apenas dois ao “recuar” melhor jogador do último Brasileirão.
Por mais que Dunga tente minimizar, uma mudança de conceitos na Seleção atingiu seu auge na convocação da última quinta-feira, para as partidas contra Uruguai e Paraguai. O técnico anunciou a lista de 23 jogadores com o menor número de volantes de uma história nem tão recente assim, seguindo uma tendência que teve início no segundo semestre de 2015: Luiz Gustavo, Fernandinho e Renato Augusto.
Na prática, só os dois primeiros atuam, de fato, nessa posição. Renato Augusto passou quase a totalidade da carreira sendo chamado e jogando como meia, às vezes bem próximo ao gol adversário, quase um atacante. Na Seleção, ele caminha para trás.
Em outubro do ano passado, para as duas primeiras participações brasileiras nas Eliminatórias, contra Chile e Venezuela, Renato Augusto substituiu o lesionado Rafinha, do Barcelona. Este, por sua vez, havia herdado o lugar que ficara com o volante Casemiro na Copa América de 2015. Ou seja, Dunga foi cedendo a vaga a jogadores cada vez mais ofensivos.
O técnico relativiza a importância do nome da posição ou do número da camisa. Diz que volantes e meias, cada vez mais, executam funções semelhantes. Todos defendem e atacam.
– É que eu tinha que botar no papel aqui, tinha que preencher as posições. Os jogadores têm que saber exercer várias funções. No Corinthians, o Elias às vezes era o jogador que ia ao ataque, enquanto o Renato fazia a recomposição. Não existe defesa, ataque ou meio, é recomposição de espaço. Eu poderia ter colocado o Oscar, que já jogou nessa função. Não podemos nos prender a nomenclaturas, temos de ver o futebol mais globalizado – afirmou.
Renato Augusto, agora no Beijing Guoan, da China, ganhou importância na seleção brasileira na última partida. Em novembro, sua escalação proporcionou ao treinador adotar esquema tático semelhante ao do Corinthians: 4-1-4-1.
Na vitória por 3 a 0 sobre o Peru, Renato, autor de um gol, e Elias eram os meias, à frente de Luiz Gustavo, com Douglas Costa e Willian abertos, e Neymar o homem mais adiantado, um centroavante de movimentação que se convencionou chamar de “falso 9”.
Ter encaixado uma boa atuação com um sistema consistente pesou muito para que Dunga mantivesse o “meia-volante” na lista, mesmo após sua transferência para a China.
– Lá atrás, jogávamos com um volante e dois meias que ajudavam na recomposição. Não falo marcação, senão dizem que sou retranqueiro. O Renato sabe fazer isso, o Douglas Costa sabe, o Willian sabe. Em alguns momentos do jogo, quando meus laterais sobrem, eu abro os zagueiros e coloco o Luiz Gustavo no meio deles, e nem por isso ele é zagueiro. É a função que ele exerce naquele momento – explicou o técnico.
Como manteve 19 dos 23 jogadores da última convocação, Dunga transmitiu a ideia de repetição. Dos titulares de Salvador, apenas Elias, lesionado e fundamental no funcionamento do meio com Renato Augusto, não estará à disposição. Veja como o técnico poderá armar a Seleção no mesmo sistema, mas sem o volante do Corinthians.
BRASIL X PERU
Contra o Peru, em novembro do ano passado, Dunga emulou o 4-1-4-1 do Corinthians de Tite, mas com adaptações. Como Willian e Douglas Costa eram mais agudos que Malcon e, principalmente, Jadson, o Brasil em muitos momentos teve um 4-3-3. Entrosados, Renato Augusto e Elias dominaram o meio-campo, se alternaram entre a recomposição que Dunga insiste e a criação, e foram bons suportes a Neymar, ainda não totalmente à vontade na função de homem mais adiantado.
COM FERNANDINHO
Dunga pode optar por Fernandinho na vaga de Elias. Embora na Seleção ele seja mais defensivo, recentemente, no Manchester City, o volante foi escalado mais adiantado, tendo o xará brasileiro Fernando e o craque marfinense Yayá Touré mais atrás. Nessa função, Fernandinho fez o gol na final da Copa da Liga Inglesa contra o Liverpool, no último domingo. O fato de ter sido meia no Atlético-PR, no início da carreira, facilita sua adaptação.
Só que, nesse caso, o técnico teria um problema: nenhum volante no banco de reservas.
OSCAR
Na entrevista coletiva da convocação, Dunga mencionou que Oscar já atuou com a responsabilidade de conduzir o meio-campo do Chelsea, sendo marcador e armador. Se ele for o escolhido, alternaria as tarefas com Renato Augusto, e deixaria a seleção brasileira naturalmente mais ofensiva do que com Fernandinho, que ficaria no banco de reservas como opção de versatilidade ao técnico, podendo entrar tanto no lugar de Luiz Gustavo como mais à frente.
Fonte: Globo Esporte