Às voltas com cortes, e assombrada por sucesso de Londres, comitê organizador tenta alavancar venda de ingressos e interesse pela competição.
Os bem-sucedidos Jogos Paraolímpicos de Londres colocaram um desafio não apenas para o Rio de Janeiro, mas para qualquer cidade que tenha pensado em sediar a competição irmã da Olimpíada depois de 2012.
A capital britânica encantou o mundo do esporte para pessoas com deficiência ao realizar um evento de casa cheia e “abraçado” pela mídia local. O britânico Phillip Craven, presidente do Comitê Paraolímpico Internacional (IPC), sabia que a tarefa de repetir tal sucesso seria mais difícil no Brasil. Só não imaginava quanto.
A pouco mais de duas semanas da Cerimônia de Abertura, no Maracanã, o IPC faz, junto com o comitê organizador da Rio-2016, malabarismos para tentar fazer com que a versão “enxuta” da primeira Paraolimpíada na América do Sul não seja um passo atrás na luta por mais visibilidade e reconhecimento.
Em meio a um programa de cortes de última hora, o evento corre contra o tempo para atrair o interesse de um público que, mesmo para os padrões brasileiros, tem mostrado apatia na corrida para as bilheterias.
O Comitê Rio-2016 informou, na última quarta-feira, que apenas 12% dos ingressos haviam sido vendidos, ou seja, 300 mil entradas. Dois dias depois, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse que “praticamente nenhum” ingresso havia sido vendido até então, mas que esperava que o cenário mudasse à medida que os jogos se aproximem.
Durante a entrevista coletiva, Paes também admitiu que a prefeitura poderá fazer um aporte de cerca de R$ 150 milhões para o evento, explicando que parte do déficit se deve à pouca procura por ingressos.
‘Pacote de austeridade’
A cúpula do IPC realizou uma entrevista coletiva no Parque Olímpico da Barra em que anunciou um “pacote de austeridade” para reduzir os custos da Paraolimpíada. Além da transformação do Centro Olímpico de Deodoro em arenas independentes, sem as áreas comuns, e da redução da força de trabalho nas instalações, o comitê organizador reduziu drasticamente a oferta de ingressos. A carga inicial de 3,1 milhões foi reduzida para 2,4.
“Nunca nos 56 anos de história do movimento paraolímpico enfrentamos uma situação como essa. Tivemos sérios problemas, mas ao menos estamos conseguindo ver algum tipo de luz no fim do túnel. As autoridades brasileiras tomaram medidas para possibilitar que ofereçamos a atletas e a espectadores a melhor experiência possível nesses Jogos”, disse Craven.
O dirigente se referiu especificamente à injeção de caixa prometida pela prefeitura do Rio de Janeiro e pelo governo federal, totalizando US$ 250 milhões e que, segundo a Rio 2016, compensarão problemas de caixa causado pela venda baixa de ingressos até agora e por buracos no orçamento único olímpico/paraolímpico causados por despesas de emergência como os reparos na Vila dos Atletas.
A verba também será fundamental para fazer o repasse das verbas de ajuda de custo de viagem para uma série de países, atrasada há três semanas e que poderá impedir a vinda de pelo menos dez nações ao Rio. Pelo menos por enquanto, tanto o IPC quanto a Rio 2016 descartaram qualquer redução no número de competições.
Os próximos esforços estarão centrados na venda de mais ingressos. Os organizadores esperam chegar ao menos a 2 milhões de entradas vendidas e, para isso, não vão hesitar em pegar carona no apelo do Parque Olímpico. O centro nervoso dos Jogos na Barra atraiu mesmo espectadores que não estavam dispostos a assistir partidas, e que buscaram ingressos mais baratos somente pela chance de passear pelo complexo.
Além de oferecer ingressos de até R$ 10, a Rio 2016 estuda até abrir os portões do parque para permitir o livre trânsito de visitantes fora da arenas.
“Essa é uma das alternativas que estamos estudando. É claro que isso envolve estudos relacionados à logística e à segurança, mas o público brasileiro ficou encantado de vir ao Parque Olímpico e foi uma das lições que aprendemos durante a realização da Olimpíada”, explica o diretor de comunicações da Rio-2016, Mario Andrada.
Chamariz
A ironia em tudo isso é que, no caso do Brasil, a Paraolimpíada proporciona uma experiência recompensadora para quem quer ver medalhas. Nos Jogos de Londres, por exemplo, o Brasil conquistou 43 medalhas, 21 delas de ouro, e fechou na sétima posição geral no quadro geral. A Paraolimpíada conta com mais categorias por modalidade para acomodar os diferentes tipos de atletas cegos, com paralisia cerebral e deficientes físicos.
Para o presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro, Andrew Parson, esse desempenho é um chamariz à parte.
“Não estamos convidando, mas sim convocando os torcedores brasileiros para assistir à Paraolimpíada. Temos um dever com esses atletas, que são um símbolo de superação. Em respeito a esses atletas, temos que encher essas arenas. Até porque, com base em nossos resultados, teremos pelo menos um pódio por dia nesses Jogos. Isso é até a base de nossa campanha nas redes sociais”, explica Parsons, que também é vice-presidente do IPC.
Fonte: Uol