Franzino, de canelas finas e cara de menino. Apelidado de panturrilha de mosquito por motivos óbvios. Habilidoso. O segundo raio da Vila Belmiro. Mais forte do que o fenômeno natural. Mais intenso do que o simples lampejo de segundos visto no céu. A ponto de iluminar um Santos coberto por trevas há 18 anos e de eternizar uma geração de Meninos da Vila na história. Rei das Pedaladas. Símbolo dos dez anos da redenção do título Brasileiro de 2002, reconhecido por ele como o mais importante da carreira. Robinho.
O garoto de São Vicente nasceu com a missão de despertar um gigante adormecido. No momento em que recebeu passe de Léo e correu na direção de Rogério, então lateral-direito do Corinthians, sua única missão era o gol. Mas ele conseguiu muito mais do que isso. Aos 35 minutos do primeiro tempo, Robinho arrancou do campo para a história. Sete segundos do domínio de bola ao pênalti. Seis pedaladas (nem ele sabe dizer ao certo quantas foram) e uma ginga final. Na hora, o menino de 18 anos, mesmo período do jejum de títulos importantes do Peixe, não sabia a dimensão do que acabara de fazer. Hoje, o homem de 28 anos, com dois filhos e passagens por Real Madrid, Manchester City, retorno ao Santos, duas Copas do Mundo com a Seleção e atualmente no Milan, sabe o que tudo aquilo representou.
Mais maduro e consciente, Robinho quer jogar no Brasil em 2013. Ele entende que retornar na próxima temporada seria importante para aumentar as chances de voltar à Seleção e disputar a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Com Felipão, sua esperança se renova. Neste contexto, a rota natural seria de Milão para Santos, onde o filho retornaria para sua casa. Anunciar o jogador no dia 15 de dezembro de 2002, dez anos depois da redenção do título consumado após o 3 a 2 sobre o Corinthians, seria o cenário perfeito para os dois lados. Ele voltaria a atuar com Neymar, de quem é ídolo, como em 2010. Aliás, Robson Júnior, filho do Rei das Pedaladas, idolatra o craque.
– O Junior é corneteiro. O mais novo (Gianluca) não liga muito para futebol, mas o Junior sabe tudo. Ele fala toda hora do Neymar. “Olha lá, pai, ele deu chapéu e fez gol”. É fã de carteirinha. De natal, pediu a camisa da Seleção do Neymar. Falei que se for bem na escola vai ganhar. Ele pede para fazer o moicano e eu falo: “Ney, corta logo esse cabelo ridículo” (risos) – conta Robinho.
O amor pelo Peixe está vivo, mas os italianos não querem vendê-lo. As conversas entre clubes são difíceis e o profissionalismo fala mais alto. Por isso, o jogador admite ter propostas de mais equipes e não descarta a possibilidade de vestir a camisa de outro time brasileiro na próxima temporada.
Ídolo volta?
– Comigo é a parte mais fácil. É mole, em um minuto acertamos.
A frase de Robinho deixa claro que fechar salários com o Santos não é nem de perto o maior empecilho para concretizar a sua volta para a Vila Belmiro. O Peixe já tem tudo conversado com o ídolo da torcida sobre as condições de pagamento e as partes mantêm contato constante, mas nas tratativas com os rossoneros outros clubes estão à frente. Grêmio, Atlético-MG, São Paulo e Flamengo são alguns dos interessados em tirá-lo do Milan, que não tem desejo de vendê-lo e pede aproximadamente 12 milhões de euros (R$ 32 milhões).
Uma pessoa ligada a Robinho critica a diretoria do Santos, pois a considera devagar para alinhar as conversas com o Milan, parte mais importante da negociação. “Quem quer, tem de correr atrás. Se não apertar, não vai conseguir”, resume. O jogador, por sua vez, garante que não vai brigar para sair do time italiano, clube com o qual tem vínculo até junho de 2014.
– O Milan não tem intenção de me vender e não vou brigar com o clube que me abriu as portas e me deu oportunidade. Tenho história no Santos e acertar comigo é fácil. Existem outros times brasileiros conversando com o Milan e comigo. Meu amor pelo Santos vai existir sempre, mas sou profissional e vou analisar o que for melhor – afirma.
Além do desejo do Milan de segurar Robinho e de mais times concorrendo pelo atleta, outro problema para o Santos é que os italianos já descartam a possibilidade de uma troca dele por Felipe Anderson, como recentemente foi cogitado. Serginho, olheiro, e Ariedo Braida, diretor esportivo dos rossoneros, observaram o garoto de 19 anos na Vila Belmiro em novembro, mas uma negociação nestes moldes não deve ocorrer. Assim, o investimento teria de ser integralmente em dinheiro, sendo que o Alvinegro dispõe de aproximadamente R$ 20 milhões em caixa, número divulgado como superávit do clube em 2012.
Desta forma, o Peixe precisaria de parceiros para conseguir a contratação. O clube tem crédito e poderia viabilizar o restante do montante necessário, mas internamente o investimento gera dúvidas, pois dificilmente daria retorno financeiro. Por outro lado, parte da torcida protesta exigindo a volta de Robinho. Na vitória por 3 a 1 sobre o Palmeiras, na última rodada do Brasileirão, inclusive, alguns disseram que repatriar o ídolo virou obrigação. Os fãs não esquecem os feitos do craque há dez anos.
“Mas que Robinho, Zito?”. Esta foi a resposta dada pelo então técnico Celso Roth ao eterno volante e capitão do Santos, ídolo da década de 60, quando perguntado sobre o motivo da ausência de um garoto franzino entre os escolhidos para serem promovidos ao time profissional. Leandro (lateral-esquerdo), Wellington (meia), William (atacante), Douglas (atacante) e Diego (meia) foram observados durante a Copa São Paulo e aprovados por Roth. Banco do time da base, Robinho não pôde ser avaliado pelo técnico, pois não jogava. Mas para a sorte dele, do Santos e de toda a torcida, Zito o conhecia – o ídolo do Peixe, aliás, também tem participação crucial na carreira de Neymar.
– Se o Zito não pede, eu não teria visto o menino jogar e ele seria perdido. Foi por insistência dele. Foi fundamental. Ele me falou para observá-lo por uma semana nos treinos. No segundo dia, avisei que ele ficaria conosco e não voltaria mais aos juniores. Até hoje damos risadas disso. Ele diz: “Gaúcho, se eu não tivesse falado… (risos) – conta Roth.
O eterno camisa 7 do Peixe confirma a história e reconhece os méritos de Roth na sua carreira. Mas vê mais importância na participação de Leão, com quem teve oportunidades de jogar e se firmar.
Logo quando subiu, Robinho não sentia nas costas o peso dos 18 anos sem títulos de expressão do Santos. Na concentração de uma partida da base, ele acompanhou pela televisão a eliminação traumática na semifinal do Paulistão de 2001, com gol de Ricardinho no último minuto, garantindo a classificação do Corinthians. Ficou com muita raiva. Mas só depois de virar titular e vivenciar as cobranças no alambrado, além das famosas faixas viradas de cabeça para baixo, é que tomou ciência da pressão.
Tudo isso não o inibiu. Robinho nunca abdicou de mostrar em campo seu jeito moleque fora dos gramados. A orientação de Leão era repetitiva e simples: pega a bola e vai para cima. O treinador “enchia o saco” do atacante, segundo ele próprio. Tanto que na finalíssima diante do Timão, antes de protagonizar o lance que o eternizou, ele ouviu o mesmo pedido na lateral esquerda. A intenção não era dar tantas pedaladas, mas Rogério colaborou. A jogada, segundo Leão, não foi fruto do acaso.
– É repetição de treinamento. O Robinho era o craque da individualidade. O refúgio dele e o medo da defesa é dentro da área. Eu o fazia ir para cima. As pedaladas foram criadas por ele, mas não foi por acaso. Ele tinha liberdade e o dever de fazer isso, sempre de forma progressiva – afirma.
– O Leão sempre enchia o saco pedindo: “Vai para cima”. Naquele momento, pensei em entrar no gol. Não imaginei tantas pedaladas. Pensei que seriam duas ou três, para driblá-lo e depois o Fabio Luciano, na cobertura. Mas ele foi recuando e eu continuei. Quanto mais ele recuou, mais bonito o lance ficou. Se tivesse parado, complicava. O movimento era para fazer o gol, aí ele fez o pênalti – recorda Robinho.
Leão definia no vestiário um jogador como prioridade, mas dava liberdade a quem tivesse mais confiança no momento para bater o pênalti. Aos 31 anos, Robert era o mais experiente do elenco do Santos e pegou a bola quando Robinho foi derrubado dentro da área. Abusado, ele tomou o objeto de volta (conheça o lado de Robert na história no capítulo de sexta-feira) e falou:
– Panturra (forma como Robert era chamado, pela panturrilha avantajada – conheça os apelidos dos 11 titulares no capítulo de sábado), deixa que eu bato. Ele respondeu: “Não, neguinho. Calma, eu vou bater”. Quando era jogo normal, todo mundo se apresentava, mas nessa só o Robert veio. Todo mundo correu (risos). Se estivesse mal, não iria. Mas eu estava confiante e jogando bem, aí fica mais fácil de ter personalidade para pegar a bola e bater. Tinha certeza que faria o gol – garante.
O final da história todos conhecem. Robinho entende que o título ficou marcado por ser sobre um arquirrival, com um longo jejum de conquistas importantes e por ter características do DNA do clube.
– Foi bem típico do Santos, marcado pelos Meninos da Vila – completou Robinho, que naquele dia da conquista, até cantou (assista ao vídeo ao lado).
Fonte: meionorte.com