SALIÊNCIAS

 

Vitor de Athayde Couto

 

Onde fica Parnasia? Quem é Mani? E Anaïs? Onde as conheceu? Recebo estas e outras perguntas de leitores que querem saber até se eu frequentei mesmo cabarés, quando menino. Ora, como é que eu vou me lembrar? Faz tanto tempo.

 

Quando escrevo na primeira pessoa, como agora, não significa que o personagem seja eu. Já criei até personagens, aparentemente femininas, para distrair o leitor e me incluir fora do enredo, como se diz na Bahia. Quando me dei conta, descobri que uma delas fica repetindo “Diabéisso?”. Coitada, deve ter aquela mesma mania do Chicó, no Auto da Compadecida, que responde o tempo todo “não sei, só sei que foi assiim”. Confesso que tentei acabar com isso, mas agora é Anaïs quem manda em mim.

 

Por que esses nomes? Ora, só porque acho bonito. Conheci Anaïs nas Galerias Lafayette, em Paris, quando estava comprando um perfume da Cacharel, que me encomendaram. Tempos depois, encontrei Anaïs Nin no Delta de Vênus. Agora, pronto, vai começar tudo de novo. Vão querer saber se eu estive mesmo em Paris, se Anaïs é bonita e sabe fazer a dança do ventre, se foi um príncipe do Marrocos, etc. Mas eu não sei nada disso. Só sei que todo mundo tem direito ao sonho. Qualquer pessoa pode entrar numa loja Boticário e perguntar se tem perfume Anaïs. Olha, cheira, diz “obrigado” e vai embora. É de graça.

 

O certo é que a modalidade crônica oferece mil possibilidades narrativas, inclusive a onisciente. Como eu não entendo dessas coisas, misturo tudo, me perco e me divirto. E tento divertir também.

 

Felizmente tenho leitores que são cronistas natos. Alguns talvez nem saibam disso. Fazem comentários muito interessantes. Esses comentários deverão integrar a próxima que será a crônica das crônicas. Por quê? Porque cada um deles demonstra ter o mesmo sentimento, em todo tempo e lugar.

 

Cada leitor tem a sua Parnasia particular, que fica em qualquer parte do mundo e no seu coração. E se me perguntarem por que “Saliências”, só existe uma resposta: “não sei, só sei que foi assim”. E continua sendo.

 

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Escute o texto com a narração do próprio autor: