SAMBA DO CRIOULO DOIDO
Vitor de Athayde Couto
SAMBA DO CRIOULO DOIDO I
Sérgio Porto, cronista carioca, viveu apenas 45 anos. Isso me leva a pensar no que ele seria capaz de fazer se tivesse durado tanto quanto um Ruy Castro, que ainda está ativo, para o bem da literatura brasileira. A comparação mais do que procede. A obra de ambos exala bom humor, apesar das agruras políticas e perseguições vividas. Até parece que o bom humor é filho do sofrimento. Mas o lado bom é que Sérgio Porto, ou melhor, Stanislaw Ponte Preta, morreu dois meses antes do AI-5 e não chegou a conhecer aquela que foi uma das maiores tragédias brasileiras. Em vida combateu a ditadura militar sem perder o bom humor. Na sua obra, destaca-se uma das mais divertidas e sérias criações, o FEBEAPÁ, ou seja, o Festival de Besteira que Assola o País.
SAMBA DO CRIOULO DOIDO II
Neste ano de 2023, o escritor, jornalista, radialista, teatrólogo, e compositor Sérgio Porto completaria um século de existência. Para comemorar o seu aniversário, nada melhor do que ler a notícia da extinção gradual do Pecim, uma “pécima” ideia, com apelido “cívico-militar”, que onerou significativamente os cofres do Ministério da Educação. Como se isso não bastasse, o Tribunal de Contas da União (TCU) quer anular R$7,2 bilhões de liberações suspeitas da gestão do governo passado na área de educação, onde se incluem desde obras sem licitação até propinas em barras de ouro.
SAMBA DO CRIOULO DOIDO III
Talvez a obra mais conhecida de Sérgio Porto seja mesmo o samba do crioulo doido (ouça aqui). Analisando as letras dos sambas-enredo das escolas cariocas, ele observou a mistureba que é feita quando os compositores contam a história do Brasil, na Marquês de Sapucaí, de acordo com suas cabeças, drogas e cachaças. Daí surgiram o casamento da princesa Leopoldina com Tiradentes, a aliança do vigário dos índios com Dom Pedro, e foi proclamada a escravidão. Daí a Leopoldina virou um trem que está sempre atrasado ou já passou, isto é, um trem que só chega na hora quando é o de ontem. E o trem é o Brasil, exceto em Diamantina, onde tudo é trem, menos o trem.
SAMBA DO CRIOULO DOIDO IV
O turista francês costuma ler sobre os lugares que visita, antes mesmo de começar a viagem. Não raro procura conhecer a história, gastronomia, folclore, artesanato… e até mesmo algumas palavras e frases no idioma local, por mais estranho que lhe possa parecer. Chegando ao Brasil, agendou um domingo para percorrer o centro histórico. Ao passar pela Praça Central, observou um grupo de pessoas ajoelhadas, vestindo camisa da seleção com as cores da casa de Orleans e Bragança, rezando diante da estátua de um senhor de escravos. À noite, jantou comidas típicas feitas por um chef pós-graduado no Canadá. O seu hotel tem o nome de um escravo fugido, precedido de um título nobiliárquico espanhol da Idade Média. Definitivamente, o Brasil não é para principiantes.
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