Sapateiro de Parnaíba mantém viva a tradição e transforma couro em memória há mais de meio século
Na Rua Merval Veras, no bairro Nossa Senhora do Carmo, em Parnaíba, funciona uma oficina simples que guarda mais do que ferramentas e pedaços de couro. Ali, há 55 anos, o sapateiro Antônio Carlos transforma calçados em verdadeiros relicários de histórias e afetos. Com habilidade, criatividade e amor pelo ofício, ele preserva uma tradição que resiste ao tempo.
Desde jovem, seu Antônio se dedica ao trabalho com couro. A trajetória profissional começou em fábricas do ramo, passou por Fortaleza e Belém, e ganhou raízes definitivas em Parnaíba, onde ele se estabeleceu de forma independente. “Voltei pra cá em 1987, comecei a fabricar minhas peças ali no Joaz, e depois mudei pra cá em 2001. Fiquei porque já tinha uma clientela formada”, relembra.
Nos tempos de maior produção, sua oficina chegou a fabricar entre 300 e 350 pares por semana, com uma equipe de até 12 profissionais. Mas o mercado mudou, e a moda, segundo ele, “vem e vai”. Aos poucos, a produção diminuiu e os colegas seguiram outros caminhos. Antônio, no entanto, permaneceu firme. “É o que eu sei fazer, é o que eu gosto de fazer. Eu amo a profissão.”
Mais do que consertos, ele realiza um trabalho artesanal completo. Domina desde a modelagem até a montagem, costura e acabamento. “Me especializei em toda a área do calçado. Se for preciso, eu mesmo crio o modelo. Só deixo isso aqui quando morrer mesmo”, diz, com orgulho.
A paixão de seu Antônio pela profissão é reconhecida por quem o procura. É o caso de Raimundo, cliente assíduo há pelo menos três anos. “Profissionais assim são poucos. Quando o profissional é bom, ninguém larga”, afirma.
Mesmo com a redução na demanda, ele segue trabalhando com dedicação. O foco está nos calçados de couro, material que conhece bem e que resiste melhor ao tempo e ao reparo. “Aqui a gente conserta de tudo, menos sapato de plástico que já vem de fábrica. Nosso forte é o couro mesmo.”
E para muitos parnaibanos, como ele mesmo afirma, o trabalho segue enquanto houver paixão: “É o que eu faço de melhor. E enquanto eu tiver força, continuo aqui.”