Separata do Município de Parnaíba do livro O Piauhy no Centenário de sua Independência 1823 – 1923

(Parte III)

INDÚSTRIAS – Como todo o Norte do Brasil, o Piauhy não é industrial.

O município de Parnahyba por sua vez também não o é.

A agricultura limita-se à cultura extensiva e rudimentar do milho, arroz, feijão e mandioca. O café é cultivado fracamente na fronteira com o Ceará e é vendido em Parnahyba ele, como cearense. O principal produtor parnahybano é o valle do Arco.

A indústria do sal é incipiente.

A cera de carnahuba é conseguida com impuresas pelo methodo creado pelos índios primitivos.

A palha, que podia ser aplicada a chapéos ou para fabricar papel, perde-se toda.

Fibras de melhor espécie ficam sem aproveitamento.

As espécies vegetaes da fharmacopéa não têm cotação porque não há quem n’as saiba colher e tratar, bem como não há um exportador especializado neste ramo de negocio. O mesmo com o fumo.

A obra de maior vulto industrial no município, e quiçá no Estado, é a fabrica de óleos da firma Cortez.

Em 1912, apareceu aqui em visita ao nosso Estado o Sr. Commendador Francisco Gonçalves Cortez., importante industrial, com uma grande fabrica de óleos vegetaes no Porto, Portugal, e que visitava os Estados do Norte do Brasil em procura de um Estado onde abundassem sementes oleaginosas  de reconhecido valor, afim de poder avaliar si lhe conviria transferir a sua fabrica de Portugal para aqui, visto que as perseguições politicas a que foi sujeito aquelle cavalheiro em Portugal, o levaram ao extremo de pensar em abandonar o seu paiz, mudando para aqui a sua importante indústria e residência.

Na sua viagem subindo o Rio Parnahyba pôde ver e analyzar o côco babassú, que existe em grande quantidade no Piauhy e do lado do Maranhão, para que logo se convencesse de que tinha entre as mãos uma semente rica, não só em rendimento de óleo, como este seria de optima qualidade.

Depois de se entender com o Sr. Dr. Miguel de Paiva Rosa, então Governador do estado do Piauhy, sobre se lhe seria dada uma concessão por alguns anos de privilégio e isenção de impostos, e recebendo uma  afirmativa, juntou cerca de uma tonelada de côco babassú, e partiu para a Inglaterra afim de mandar analysar tal semente, sobre o valor do seu óleo, em rendimento e qualidade.

Os resultados das analyses foram bons e obteve desde logo também o valor comercial para a venda de tal semente em Inglaterra.

Assim armado por sua iniciativa, voltou ao Piauhy e aqui obteve o privilégio do fabrico de tal óleo e de todos os óleos vegetaes ainda não explorados no Estado, com isenção de impostos, com a obrigação de transferir para aqui dentro do praso de dois anos a fabrica que ele possuía em Portugal.

Cumpriu aquelle senhor a sua obrigação para com o Estado e assim já hoje se póde admirar, na boca do Igarassú, braço do rio Parnahyba, que vai desaguar na Amarração, uma fabrica, com outros edifícios anexos, dando um aspecto agradável a um sitio que antes era inhabitado.

Hoje a sua fabrica já produz, mensalmente mais de 100 toneladas de sementes e logo que o Governo Portuguez permita que sejam retiradas de Portugal as restantes machinas pertencentes áquelle industrial, e que por medidas geraes da guerra européa haviam sido prohibidas sahirem de Portugal, a fabrica Cortez será um dos primeiros sinão o primeiro estabelecimento a fabricar para mais de 500 toneladas de sementes oleaginosas em cada mez, no valor de cerca de trezentos contos.

A fabrica que actualmente ocupa uma área de 2500 metros quadrados, occupará, quando todos os mecanismos estiverem no Piauhy, cerca de 10000 metros!

Presentemente ocupa no seu trabalho cerca de 100 operarios.

Outras manufaturas há: de sabão, calçado, chapéos, cortume, cerâmica, etc. Mas são todas em pequena escala. No emtanto as possibilidades industriaes de Parnahyba são assombrosas.

Conforme amostras que remeto para a Exposição de Theresina, o município é rico de minereos. Há indícios de carvão de pedra, salitre e cobre na fronteira com o Ceará, onde são conhecidas as minas de Pedra Verde e Ubatuba.

Calcareos riquíssimos dão cal com porcentagem suficiente para a fabricação de cimento.

Veios de manganês têm sido achados. Magnesio também, como exemplares que remeto aquella Exposição. As salinas, seis mezes sob o nordeste e com a possibilidade de se estenderem por grande parte do litoral, em mar com 25° e salinidade de 3°,5, podem somar uma produção de sal que escenda a alguns milhões de alqueires.

Plantas taniferas, além dos mangues variadíssimos e do crioli, dariam matéria prima para tinturaria e cortume.

Grande produtor de algodão e canna, o município facilmente daria compensador resultado a quem aqui montasse usina de tecelagem.

A indústria principal da cidade, por sua situação especial de chave do rio Parnahyba, é a indústria do commercio e da navegação fluvial.

Póde-se dizer que o Piauhy é conhecido economicamente pelo trabalho parnahybano.

De facto a exportação feita pelas outras fronteiras do Estado nem impostos lhe pagam: assim até o produtor vai concorrer para o engrandecimento dos Estados visinhos com prejuízo da sua própria circumscripção.

Gordas rendas á nossa custa têm ido desse modo favorecer o desenvolvimento e cultura da Bahia, Pernambuco, Ceará e Maranhão.

No meu relatório da borracha tornei isso claríssimo, aliás com subsídios dos relatórios da Fazenda do Piauhy. Creado o porto de Amarração e restringindo o contrabando nas outras fronteiras, as rendas piauhyenses augmentarão, favorecendo o bem estar, as garantias e a cultura do piauhyense.

Dos últimos annos de exportação e importação podem ser vistos os dados a pag. 138 do livro Pro-Piauhy. Quanto aos annos de exportação e importação pela Alfandega de Parnahyba tem sido a que damos nos quadros que seguem como apenso e dos quaes se vê que ella representa o melhor do esforço útil da comunidade piauhyense no terreno econômico. 

Estatística de 1920

Exportação geral dos gêneros embarcados em Parnahyba pelos portos de Tutoya e Amarração

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Estatística de 1921

Exportação geral dos gêneros embarcados em Parnahyba e sahidos pelos portos de Tutoya e Amarração

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(continua na Parte IV)