UM, DOIS, FEIJÃO COM ARROZ

 

Vitor de Athayde Couto

 

CERVEJA SÓ

O Brasil não conhece o Brasil. Como a maioria dos brasileiros desconhecem cambica, chibé, sembereba de urupema, vinho da jurema, garapa com raiz de pega-pinto, aluá de milho e casca de abacaxi, caldo de cana azedo, garrafada de barbatimão e todo tipo de beberagens, pediram socorro ao Caisalamão. Como os espertos alemães ainda exportavam lúpulo da então Checoslováquia, desbancaram a cachaça e convenceram os brasileiros a adotar a cerveja como bebida nacional.

Depois que conheceram o açaí, os alemães passaram a beber cada vez menos cerveja. No primeiro semestre deste ano registrou-se a maior queda (-6,3%) no consumo das três últimas décadas. Entre outras coisas, a queda foi motivada por razões de saúde, acidentes e violência inclusive doméstica. Foi assim que os alemães ganharam de 7 a 1 e se tornaram campeões mundiais no consumo de cerveja sem álcool. Enquanto isso, os brasileiros lideram o consumo de álcool sem cerveja.

 

ÍNDIO QUER PIPOCA

Quando os americanos começarem a comer jiló com chá de boldo no cinema, muitos brasileiros irão abandonar a pipoca e o refrigerante energético zero.

 

UM, DOIS, FEIJÃO COM ARROZ

O brasileiro era forte, feito de feijão com arroz, mandioca e carne de periquito. Periquito tem a carne dura, não amolece nem pega tempero. Mas antigamente todo mundo gostava, ninguém reclamava.

Um, dois, feijão com arroz! Comer de mão, fazer capitão. Comer barato, comer no prato. Cinco, seis, falar francês. Sete, oito, comer biscoito. Nove, dez, comer pastéis.

Infelizmente, ninguém come mais capitão com a mão, nem fala francês. Monetizados pela mídia de negócios altamente lucrativos, milhares de chefs de cuisine invadiram as telinhas dos lares brasileiros, as ruas, os restaurantes gourmets, e assaram as batatas de Dona Benta e Tia Nastácia. Muitos chefs e poucos índios os males do Brasil são.

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