Vitória Strada fala de vaidade, espiritualidade e intimidade: ‘Sou certinha demais!’
Dedicar-se ao protagonismo de uma novela num único papel já é uma baita responsabilidade! O que dizer, então, de se desdobrar em quatro personagens num só trabalho? A gaúcha Vitória Strada tem só 22 anos e já estrela sua segunda novela das seis de época na Globo. Depois de “Tempo de amar” (2017), a moça brilha em “Espelho da vida” ao interpretar a atriz Cris; Julia Castelo (última encarnação de Cris, em 1930); Cris vivendo Júlia num filme rodado dentro da novela; e Beatriz (encarnação de Cris anterior a Julia, no século 18). Pode parecer um tanto confuso para quem não acompanha com afinco a trama de Elizabeth Jhin. Mas nem é preciso mergulhar na história espiritualista para se render ao talento de Vitória — numa cena de surto, há um mês, ela foi tão elogiada nas redes sociais, que disseram merecer até o Oscar.
De aparência delicada, semelhante à da atriz britânica Audrey Hepburn — que completaria 90 anos em 4 maio, se viva ainda fosse —, Vitória também é ligada a estilo, moda e beleza, já tendo trabalhado como modelo. Para a sessão de fotos desta matéria, ela reviveu a personagem mais icônica de Audrey no cinema, no clássico “Bonequinha de luxo”. E, mais uma vez, viajou no tempo… Agora, até fins dos anos 50.
Bonequinha
“No meu quarto, em Porto Alegre, tenho um quadro com a imagem de Audrey. As pessoas têm falado muito que estou parecida com ela… Imagina, é um ícone! Com meus 15 anos, não havia nada igual. ‘Bonequinha de Luxo’ tem um lugar muito especial no imaginário das pessoas. Adoraria ver uma série com a personagem!”.
De luxo
“Amo pedras preciosas! Mas gostar é bem diferente de gastar com, não estou podendo (risos)! O lugar mais estonteante em que já estive foi um hotel em Portofino, na Itália, quando trabalhava como modelo. Nunca vi nada igual àquilo! Eu me sentia em outra dimensão”.
Consumismo
“Não sou de exageros. Meu pai é economista e me ensinou a lidar com dinheiro de forma consciente desde cedo. Ele me pagava uma mesada, e eu já separava um pouquinho para a poupança. Ainda tenho vários sonhos de consumo, mas tudo chega a seu tempo. Ter a minha casa e o meu carro não são prioridades no momento. Ultimamente, tenho gastado com bons restaurantes. Amo comer! Também sou louca por miniaturas de produtos de beleza para levar na bolsa. São cremes e mais cremes, para tudo quanto é lugar do corpo, e maquiagens que me permitem me expressar de diversas maneiras”.
Um mundo na bolsa
“A gente que mora nos Estúdios Globo tem tudo na bolsa (e vai tirando os itens e mostrando)… Chicletes, porque tem que beijar na boca em cena e não precisa fazer o coleguinha desmaiar; óculos escuros, para não assustar os fãs antes da maquiagem; uma lata de refrigerante (quente), se baixar a pressão; canudo reciclável; água com gás (quente também); fone para ouvir o áudio da amiga gritando no celular e não chocar as pessoas; carteira; crachá; balas… eu sou a louca das balas; uma beauty blender (esponja de maquiagem em formato de gota), melhor anti-idade da vida; vitaminas; carregador de celular; comidas, como bananada e sementes; fio dental; três pedras — a preta para captar as energias negativas do ambiente, a lilás para transmutá-las, e a branca, que me protege —; sabonete em folhas; lencinhos antioleosidade para o rosto; homeopatias; e uma colher, se precisar, para a marmita”.
Sem férias
“Assim que terminei o ensino médio, fui direto para a Europa trabalhar como modelo. Quando voltei, ingressei na faculdade de Teatro. Aí, já fui fazer ‘Tempo de amar’. Sem descanso, emendei com ‘Espelho da vida’. As oportunidades surgiram, e eu agarrei todas. Então, não tenho férias há uns bons anos. Quando finalmente acontecer, acho que vou precisar ter aulas de como fazer nada (risos). Depois do fim da novela, quero tirar um tempo para ir ver minha família e viajar para conhecer lugares com calma. Tenho vontade de ir a Nova York, por exemplo, nunca estive lá”.
‘Cabeça de velha’
“Eu sou certinha demaaaaaaais (enfatiza)! Estou trabalhando para mudar isso, inclusive. Nunca dei barraco, nunca fiquei bêbada, nunca experimentei droga alguma. Tenho só 22 anos, mas a cabeça é de velha. Sempre fui mais responsável e madura que as meninas da minha idade, funcionava como a ‘mãe’ da situação. A minha arte é onde eu extrapolo, é o meu vício, me liberta, funciona como uma terapia. É onde eu consigo sofrer, amar e viver intensamente, falar verdades, gritar. Estou desgastada, cansada, minha saúde está reclamando… Mas, se chegassem agora para mim perguntando se eu toparia emendar uma outra protagonista, eu diria: ‘Vou!’. Eu me jogo de cabeça”.
O surto de Cris
“A cena bombou! O Twitter me deu um superapoio, meu celular não parou de receber mensagens. Eu sabia que era uma cena marcante e estava ansiosa por ver no ar. Tivemos que gravar em duas partes. Primeiro, o surto inteiro com os personagens vestidos de época. Depois, tudo de novo, com os trajes contemporâneos. Eu tinha um texto de seis páginas, e o diretor me deixou criar as nuances do surto. Terminei meio surtada também (risos). Estou tão dentro desta novela, me entrego tanto a este trabalho, que eu já tinha tudo dentro de mim para colocar para fora. Vivo mais a vida das minhas personagens do que a minha, atualmente”.
Intuição x técnica
“Gosto de assistir à novela pelo GloboPlay e me observar. Apesar de ter feito duas protagonistas seguidas, estou me entendendo agora como atriz, percebendo como funciono em cena. Não tenho muita técnica de pensar para qual câmera olhar, vou muito pela minha intuição. Justamente por isso eu me entrego tanto. Eu me emociono muito, vou fundo”.
Espiritualidade
“Fui batizada no catolicismo, mas acredito em ideias de várias religiões. Já fui muito a centro espírita tomar passe, por exemplo, porque creio no poder da energia. Espíritos não me causam medo, mas curiosidade. Acredito no inexplicável e não julgo quem diz que já viveu situações sobrenaturais. Minha mente está mais aberta por causa desta novela. O mais legal é que pessoas de várias crenças têm suas teorias sobre a história. Beth (Elizabeth Jhin, autora) não é espírita, mas fez uma trama falando de reencarnação, deixando abertura para várias interpretações. Até física quântica eu já ouvi para explicar outras dimensões. Escuto tudo e absorvo. Somos muito pequenos neste mundo para aceitar uma coisa só e excluir tantas outras possibilidades”.
Sobre outras vidas
“É tão difícil falar sobre isso… (ela faz uma longa pausa antes de responder). Acho que a gente está aqui para evoluir e ajudar os outros a evoluírem também. Se vamos para algum outro lugar depois e que lugar é esse, eu não sei. Nunca passei por regressão nem hipnose, mas tenho vontade. Não imagino quem eu tenha sido numa outra vida, mas em que estágio da minha evolução eu estava. Talvez eu estivesse aprendendo a não ser tão consumista e, por isso, hoje sei lidar bem com isso. Só não estou preparada para a morte. Tenho medo do sofrimento que ela causa”.
Esoterismo
“Acredito em mapa astral. Fiz o meu, e muita coisa fez sentido. Sou puramente libriana, muito indecisa, e odeio injustiça em qualquer grau. Também pondero as palavras, me explico demais, não consigo ser sucinta. Ganhei um quadro de uma fã que é a foto do céu do dia em que nasci, como as estrelas estavam posicionadas”.
Nascida em 12 de outubro
“É o dia de Nossa Senhora Aparecida. Minha mãe sempre foi devota, e eu carrego uma imagem da santa comigo. Minha fé nela é intrínseca, é uma guardiã minha. Usava um colar com a imagem, mas guardei para não perder durante as gravações. Ela está na cabeceira da minha cama. E 12 de outubro também é o Dia das Crianças. Tenho uma criança viva aqui dentro de mim. Um pouco dessa ironia, dessa coisa de falar bobagem, de não me levar a sério e fugir desse meu jeito certinho de ser, vem daí. Gosto dessa leveza, de rir de mim mesma”.
Nada é por acaso
“Acredito que o personagem escolhe o ator. Meus pais têm os mesmos signos dos pais de Cris. Teve uma cena em que Flávio (Ângelo Antônio), pisciano, falava para Ana (Julia Lemmertz): ‘Você é bem mãe leonina mesmo, preocupada, defende a cria até a última gota’. Já eu e Cris temos em comum o senso de justiça. Entendemos que cada um tem a sua história e as suas justificativas para viver o que está vivendo, e ninguém tem o direito de julgar”.
Reta final
“Minha curiosidade não é sobre quem matou Julia Castelo, mas sobre como foi. Acho que esse assassinato tem as mãos de mais de uma pessoa. Elizabeth escreve tão bem que, no fim, vai surpreender ainda mais. Eu não tenho uma suspeita nem como telespectadora. E prefiro não tomar um partido”.
Repercussão
“Recebo muitas mensagens emocionantes pelas redes sociais. Percebo que a novela consegue tocar o público, transmitir coisas positivas. Hoje em dia, com tanta violência no mundo, não é bom mostrar só a maldade pela maldade, tem que vir com algum ensinamento. Quando Cris perdoou Américo (Felipe Camargo), pai dela, uma seguidora me falou pelo Instagram que não via seu pai há muito tempo e que não conseguia ter um diálogo com ele. Depois da cena, os dois se reaproximaram. Rede social é espaço de confissão. As pessoas se sentem tocadas e me tocam também”.
Cantadas
“Pela internet, eu recebo muito: ‘Casa comigo?’. Como é que eu vou casar com uma pessoa que não conheço, gente (risos)? Não gosto nem de ficar com estranhos! O engraçado é que recebo mensagens de homens e mulheres. Mas na ‘vida real’ os homens não se manifestam. E isso não mudou depois da fama… Eles já não chegavam muito em mim, sabe? Na escola, eu era magrela, alta, enquanto as meninas já tinham o corpo definido. Então, eu sempre era vista como a ‘amiga legal’”.
Um namorado para chamar de seu
“Meus dois namorados da vida eram mais velhos que eu, e a gente convivia como se tivéssemos a mesma idade. Prefiro homens mais maduros. Estou solteira há uns dois anos, desde que comecei a fazer novelas. E percebo uma necessidade de as pessoas me arrumarem um namorado. Eu e João (Vicente de Castro) achamos graça disso. Se veem uma foto nossa abraçados, dizem: ‘Assumiram!’. Gente, se eu assumisse namoro com cada pessoa que eu abraço, estaria casada com o Brasil! E eu estou bem tranquila… Quando menos se espera, o amor aparece. Nunca usei aplicativo de relacionamento, e não me daria bem com isso. Minha atração pelo outro tem muito a ver com o papo, com a maneira que ele trata as pessoas. A beleza é o de menos. Acho que é porque trabalhei muito tempo como modelo e lidava com homens lindíssimos e sem conteúdo”.
Família postiça e autoestima
“Chamo Julia Lemmertz de mãezinha e o Ângelo Antônio de pai. Irene Ravache é engraçadíssima! Aos 74 anos, tem um espírito mais jovem que o meu! Ela me ensina muito sobre empoderamento, vaidade… Autoestima é um trabalho diário, né? A minha nunca foi lá em cima. Não me acho bonita antes da maquiagem, me acho funcional (risos)”.
Fonte: Extra