284 Religiões no Brasil 6: TEM DE UM TUDO

 

Vitor de Athayde Couto

 

Ainda um pouco zonza, Ifé tenta ligar os fatos de hoje, que foram acontecendo na seguinte sequência:

Primeiro, Nanã aconselha ir ao serviço de perdidos e achados. Logo depois, encontra Antônio, seu padrinho de batismo na Igreja Católica, que recomenda procurar a empresa de ônibus. Na sede da empresa, Ifé conhece dona Antônia, que é evangélica, trabalha na limpeza, achou e devolveu o celular. Antônio e Antônia… Coincidência ou não, na tradição popular, Santo Antônio ajuda a encontrar objetos perdidos.

Ifé já conhecia obras de caridade praticadas por umbandistas, católicos e espíritas, mas não sabia que os evangélicos também praticam a caridade. Dona Antônia, além de ser pobre, é mãe solteira de três filhos. Restam agora duas filhas pequenas. Na igreja, conheceu outras irmãs evangélicas solidárias, que se ajudam na comunidade. Sem elas, é impossível trabalhar fora. Com quem deixar as filhas, que já não têm mais o irmão mais velho pra cuidar delas? Sua religião dá muita importância aos problemas da vida real que afligem os fiéis no dia a dia, e o seu pastor fala uma linguagem que todo mundo entende. Seria essa a explicação para o significativo crescimento dos evangélicos? – pergunta Ifé, prosseguindo, animada, com suas anotações:

Os fatos de hoje são uma aula de multirreligiosidade. Como acontece com as organizações sociais, as religiões também refletem a sociedade em que estão inseridas. Em todas elas, é possível encontrar pessoas boas e más, empáticas, indiferentes, caridosas, solidárias, egoístas, inclusive aquelas que só desejam prosperar individualmente. “Tem de um tudo”, como dizia vó Alika. Esse mundo de opções leva muita gente a migrar de uma religião a outra – conforme seus projetos e relacionamentos pessoais, que mudam ao longo da vida. Algumas pessoas aderem a diferentes religiões, uma por vez, respeitando as regras de cada uma. Essa devoção temporária explica a mobilidade religiosa não simultânea (em tempos diferentes), e remete para outra questão importante:

O que leva seguidores temporários à mobilidade religiosa? Em outras palavras, por que eles estão sempre pulando de uma religião a outra?

(CONTINUA)

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