A ABELHA E A MOSCA
Vitor de Athayde Couto
Na minha crônica “Crítica construtiva”, postada no dia 26/01/2024 (leia/ouça aqui), referi-me à crítica como postulado científico. Em outras palavras, a crítica é o ponto de partida para novas descobertas. Sem a crítica do velho é impossível produzir conhecimento novo. E, sem conhecimento novo, não há atividade científica, só arquivos e a repetição do conhecimento velho. Quanto mais radical for a crítica, mais inovador será o conhecimento novo, único capaz de destruir e recriar paradigmas.
O conhecimento vulgar, também conhecido como senso comum, ignora, e, por isso mesmo, despreza a crítica científica. Infelizmente, por falta de uma boa escolaridade, o senso comum domina a maior parte da população, com apoio da grande mídia e de outros pregadores que só toleram a crítica adjetivada, como é o caso da famosa “crítica construtiva”. Esse tipo de crítica não transforma nada, pois ela é apenas uma crítica acrítica, ou seja, uma crítica não crítica. No limite, a ignorância induz muita “gente boa” a afirmar que quem critica está apenas “falando mal”. Assim, todos se bastam, felizes, e continuará “tudo como dantes no quartel de Abrantes”.
Um grande pensador e filósofo do século XIX afirmou que “a repetição constante de um fato social [ou de uma frase] acaba virando verdade”. Verdade que se vai incorporando, lentamente, ao patrimônio das culturas provincianas, bem ao gosto da mídia mais medíocre, como é o caso do “falar mal”.
Mês passado estive acamado por razões de saúde. Sem poder fazer coisa melhor, maratonei a série Bee and fly, no telão da tevê. Foram muitas temporadas e episódios protagonizados por uma abelha da classe operária. Em vão, ela tentava convencer uma mosca de que mel é melhor do que bosta. No final da série, a mosca ficou tão enraivecida na sua santa ignorância que acabou se aliando ao escorpião, e, juntos, mataram a abelha. Afinal, ninguém gosta de ouvir críticas, principalmente uma mosca, né? Mas a prosa ainda não chegou ao fim. Em toda história que tem escorpião, ele é sempre o último que mata, e, portanto, o último que morre. Assim como a nossa história, de vida, dívida e morte. E novamente de vida. Bye bye fly – esse deverá ser o título da próxima série, ansiosamente aguardada nas grandes navegações da internet.
MORAL DA HISTÓRIA – Se a mosca tá comendo bosta e gostando, não se meta, deixe a mosca em paz. Ela tem todo o direito de ser feliz e exercer a sua liberdade de expressão.
ADVERTÊNCIA – Não procure Bee and fly, nem Bye bye fly, nas plataformas de streaming. Essas séries não existem e eu nem tenho telão haha.
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