A MÚSICA E A FLORESTA
Vitor de Athayde Couto
O Deus do Velho Testamento, ao sentenciar que Adão e Eva teriam de viver do suor do próprio rosto, também quis dizer o seguinte:
“Quereis ouvir música? Então, cantai! Correi atrás dos juncos, colhei paletas, cortai bambus, fazei flautas e estudai os instrumentos do naipe de madeira e dos metais. Com troncos de árvores e peles de animais, executai a percussão. Das tripas e crinas, fazei as cordas. Para vos inspirardes, escutai a natureza, repleta de ritmos e melodias. E, sobretudo, observai o tempo!”
Note-se que Deus mencionou apenas a voz e os quatro naipes de uma orquestra imaginária (madeira, metais, percussão e cordas). Para nos testar, delegou ao livre arbítrio a harmonia musical, e, por extensão, a harmonia entre os homens.
Os tantãs são o naipe mais antigo. Com eles os povos africanos da floresta criaram os primeiros ritmos e nos legaram tambores mensageiros do sagrado. Batidas de mãos calejadas no rum, contrarrum, rumpi e lé evocavam alegria, dança e paz. Milhares de anos depois, os misteriosos pigmeus, muito à frente do seu tempo, criaram a polifonia vocal e a harmonia entre os homens.
Essa é a história ancestral da música – que os líderes ocidentais insistem em ignorar, ou por ignorância, ou pelo desejo mefistofélico de dominar o mundo. Seguindo esse caminho, eles vão transformando tantãs em brinquedos de uma guerra há muito tempo perdida, pelo simples fato de não haver ganhadores.
Nas grandes guerras que se prenunciam, a falta de sobreviventes será a principal consequência do atual progresso técnico açodado e das inovações sem limites. Quem atribui a esse progresso perde-perde o conceito de “desenvolvimento” deve estar agindo sob a influência de Mefistófeles. Se for mesmo assim, só resta pedir a Deus, para que Ele nunca desista de nós.
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