Em 2023, o Brasil registrou o menor número de nascimentos em quase cinco décadas, desde 1976. Segundo dados divulgados nesta sexta-feira (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país contabilizou 2,52 milhões de nascimentos no ano passado, uma queda de 0,7% em relação a 2022. Este é o quinto ano consecutivo de recuo na taxa de natalidade.

A principal redução de óbitos foi observada entre idosos com 80 anos ou mais, com uma queda de 7,9%, o que representa cerca de 38 mil mortes a menos. No total, pessoas com 60 anos ou mais concentraram 71% dos óbitos no país, somando pouco mais de um milhão, embora com uma redução de 5,7% em relação ao ano anterior.

De acordo com os especialistas do IBGE, o controle da pandemia, com o fim da emergência global da Covid-19 declarado pela OMS em maio de 2023 e o avanço da vacinação explicam em grande parte essa queda. Somente os óbitos relacionados a doenças virais não especificadas, como a própria Covid-19, diminuíram em 55,7 mil casos.

A redução dos nascimentos foi observada em quase todas as regiões do Brasil, com exceção do Centro-Oeste, que teve um aumento de 1,1%. Rondônia (-3,7%) e Amapá (-2,7%) apresentaram os maiores recuos, enquanto Tocantins (+3,4%) e Goiás (+2,8%) foram os destaques de crescimento.

No caso das mortes, todas as regiões apresentaram queda, especialmente o Sul (-8%) e o Nordeste (-5,3%). A menor redução foi no Norte (-2,3%). Entre os estados, Paraíba (-11,8%) e Rio Grande do Sul (-10,2%) lideraram a diminuição dos óbitos.

A maternidade tardia tornou-se uma tendência clara em 2023. Mães com 30 anos ou mais representaram 39% dos nascimentos, enquanto os nascimentos de mães adolescentes caíram para 11,8%, uma queda acentuada em relação aos 20,9% registrados em 2003.

Segundo Klivia Brayner de Oliveira, gerente da Pesquisa de Registro Civil, muitas mulheres têm postergado a maternidade para priorizar os estudos e a carreira.

Outro destaque positivo foi a redução do sub-registro de nascimentos (aqueles que não são formalizados em cartório), que atingiu o menor nível da série histórica: 1,05%. O Norte ainda lidera em sub-registros, mas foi a região que mais avançou, com uma queda de 5,14% para 3,73%.

O número de casamentos formais caiu 3% em 2023, somando 940,8 mil registros. A exceção foi o Centro-Oeste, que não seguiu essa tendência de queda. No entanto, Klivia ressalta que isso não significa necessariamente que as pessoas deixaram de formar casais:

“A queda nos registros de casamento pode refletir uma preferência por uniões estáveis, que não exigem oficialização em cartório”, explicou.

Em contraste, os divórcios aumentaram: foram 440,8 mil em 2023, um crescimento de 4,9% em relação aos 420 mil registrados no ano anterior.

O cenário demográfico brasileiro está a passar por transformações significativas. A população envelhece, os casais têm menos filhos e mais tarde, e a mortalidade apresenta sinais de estabilização após os picos causados pela pandemia. Estes fatores apontam para desafios relevantes no futuro, especialmente nas áreas da saúde, previdência social e políticas de apoio à infância.