ANCARA, TURQUIA – Os chefes das finanças dos países do G-20, que engloba as 20 maiores economias do mundo, convenceram a China a participar de um pacto estrangeiro de paz cambial enquanto eles tentam conter as tensões desencadeadas pelo tumulto no mercado acionário chinês e as desvalorizações do yuan em agosto.
Os ministros e os presidentes dos bancos centrais divulgaram uma declaração que inclui o compromisso para evitar “desvalorizações competitivas”. É a primeira vez que o G-20 utiliza tal termo desde 2013.
A China está na defensiva já que a desaceleração de sua economia e a turbulência no mercado acionário tem impacto nos mercados emergentes enquanto os Estados Unidos se preparam para elevar a taxa de juros. O documento cita ainda a recente volatilidade dos mercados financeiros e a necessidade de monitorar possíveis transbordamentos, além da promoção da transparência.
A delegação chinesa presenta na cúpula do G-20 foi o principal foco do evento de dois dias, afirmou o ministro da Economia da Espanha, Luis de Guindos.
— Eles explicaram que a economia chinesa está em um período de transição — disse Guindos à imprensa. — Eles estão na direção de uma nova situação normal para eles, que será de crescimento em torno de 6% ou 7%.
A decisão surpresa da China de depreciar o yuan enquanto tentava conter a agitação no mercado de ações levou a maior queda da moeda em 21 anos em agosto, o que levou a reduções cambiais em outros países emergentes preocupados com os danos que o yuan mais fraco poderia causas às exportações para China.
‘NÃO FOI SUFICIENTE’
Zhou Xiaochuan, chefe do banco central chinês, afirmou que o país teve que lidar com a ruptura da bolha do mercado de ações enquanto ele descrevia os planos dos legisladores, segundo o ministro das Finanças do Japão, Taro Aso.
— Não foi suficiente — afirmou Aso. — Eles tentaram ser construtivos, mas não detalharam o suficiente.
A equipe econômica chinesa disse que estava tentando restringir o rompimento à medida que a economia migra para um modelo de crescimento diferente, de acordo com a autoridade chinesa que estava nas discussões. A delegação afirmou que tentava reduzir o endividamento e planejava medidas para regular oscilações no mercado. A bolsa de Xangai caiu cerca de 40% desde que alcançou a máxima de três anos em junho.
— A China está tentando fazer um papel construtivo definitivamente — declarou o ministro das Finanças do Canadá, Joe Oliver, em entrevista. — É a segunda maior economia do mundo e, portanto, quando desacelera, há implicações globais. É isso com que acho que estamos lidando.
As consequências da queda no mercado acionário chinês serão relativamente limitadas tanto para Pequim como para o resto do mundo, disse o presidente do Banco Central Alemão (BCE), Jens Weidmann, neste sábado.
“As consequências econômicas diretas da queda dos preços das ações na China serão relativamente limitadas para a própria China e para o mundo”, disse Weidmann, que também integra o Conselho do Banco Central Europeu (BCE), após encontro dos líderes das finanças dos países do G20 na capital turca, Ancara.
PREVISÃO DE ESTABILIDADE
A equipe chinesa afirmou que o movimento cambial não foi uma tentativa de roubar exportações dos competidores internacionais, o que foi aceito pelos ministros das outras nações, de acordo com uma autoridade internacional.
— Ninguém pode prever exatamente a volatilidade do mercado, mas estou confiante de que a taxa cambial da China será mais ou menos estável em torno do nível de equilíbrio — afirmou o vice-presidente do banco central da China, Yi Gang, em entrevista. — Os fundamentos da economia chinesa estão bem.
O governo chines agiu para prevenir a “queda livre” do mercado acionário mesmo que seja um ajuste “normal”, afirmou Zhu Jun, diretor-geral do banco central da China neste sábado em Ancara.
— Acho que estamos bem perto do fim — disse Jun, em referência à volatilidade do mercado. — Em alguma extensão, a influência no mercado tem sido reduzida substancialmente e nós achamos que não haveria risco sistêmico.
Os chineses pediram que referências específicas aos problemas chineses fossem deixadas de lado da declaração final do G-20, afirmou um assessor da zona do euro.
O secretário do Tesouro americano, Jacob Lew, disse a Lou Jiwei, ministro das Finanças da China na sexta-feira que é imporante para o país sinalizar que vai permitir o yuan subir ou cair. A China deve evitar desalinhamentos persistentes da taxa cambial e se abster de desvalorizações competitivas, disse Lew em uma declaração do Tesouro.
A desaceleração da China acontece enquanto o Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) considera a elevação da taxa de juros pela primeira vez em nove anos. O vice-presidente Stanley Fischer expôs os prós e contras da elevação, afirmou Guindos.
Fonte: O Globo