Concentrada com as colegas de seleção brasileira de judô, Sarah Menezes pode até não olhar o calendário, mas certamente deve levantar da cama, nesta quinta, em Mangaratiba, no Rio de Janeiro, com doces lembranças do ouro em Londres 2012 martelando a mente – epopeia cristalizada no baú de memórias da atleta. A campeã olímpica completa quatro anos do feito inédito no esporte brasileiro em meio à euforia contida de uma nova missão sobre os ombros. Afinal, pode voltar a cerrar os punhos no alto do pódio mais uma vez caso fature o bicampeonato nos Jogos Rio 2016. A ligeiro compete no dia 6 de agosto na Arena Carioca 2, no Parque Olímpico da Barra da Tijuca.
No relógio restavam apenas 53 segundos para o fim da disputa do ouro na final da categoria até 48kg quando a piauiense conseguiu um yuko sobre a romena Alina Dumitru, campeã olímpica à época. Contudo, nem mesmo a ligeira vantagem domou a fome da brasileira. O golpe aplicado na adversária, logo em seguida, rendeu a Sarah um wazari que sacramentou a conquista da segunda medalha dourada feminina em esportes individuais do Brasil na história dos Jogos – Maurren Magi foi campeã no salto em distância em Pequim 2008.
O desempenho no ciclo olímpico de Sarah Menezes antes de desembarcar em Londres deu pinta de que existia, sim, uma candidata à medalha entre as mais leves judocas do mundo. Número 2 do ranking da Federação Internacional de Judô na ocasião, a brasileira foi cabeça de chave e iniciou uma escalada até o ouro: vitória na estreia sobre a Ngoc Tu Van, do Vietnã; triunfo sobre a francesa Laëtitia Payet, nas oitavas; e a chinesa Wu Shugen foi a vítima nas quartas de final. A derrota da japonesa Tomoko Fukumi na outra semifinal do chaveamento para a rival romena aumentou a esperança verde-amarela de pódio. Não deu outra: vitória por um yuko sobre a belga Charline Van Snick na semi, presença confirmada na decisão e um dos gritos de emoção mais altos no primeiro dia de provas em Londres.
Depois de escalar o degrau mais alto da carreira, Sarah Menezes virou o centro das atenções. Fotos, entrevistas, viagens e muita, muita fama. A brasileira chegou a ficar 624 dias na liderança da categoria e reinou absoluta. Até que caiu de produção, despencou no ranking – chegou a ser 14ª colocada – e ligou o sinal de alerta. Depois de ver a compatriota Nathália Brígida ameaçar a vaga na Rio 2016, Sarah acordou e reapresentou às rivais a fúria da campeã olímpica.
A eliminação precoce no Mundial de Astana, em 2015, se contrastou com o bronze no Grand Slam de Tóquio no fechamento da temporada passada. Desde então, Sarah Menezes acumulou pódio em todas as cinco competições disputadas no ano olímpico: ouro no Grand Prix de Havana, bronze no Grand Slam de Paris, bronze no Grand Prix de Samsun, ouro no Pan de Havana e a prata no World Masters, em Guadalajara, principal termômetro antes dos Jogos Olímpicos.
Na Rio 2016, Sarah Menezes encabeça a lista de principais apostas na busca do ouro ao lado de Urantsetseg Munkhbat (Mongólia), Paula Parto (Argentina) e Ami Kondo (Japão), as três últimas campeãs mundiais da categoria. A expectativa da Confederação Brasileira de Judô é que a brasileira encontre a rival mongol nas semifinais e pegue, caso chegue à final, quem se sair melhor no outro quadrante do chaveamento, que terá a representante japonesa e argentina.
O sorteio das chaves e a pesagem oficial serão no dia 4 de agosto, na véspera da cerimônia de abertura. Sarah Menezes chega à Vila dos Atletas dois dias antes de entrar nos tatames para se tornar a primeira brasileira dona de dois ouros olímpicos.
Fonte: Globo Esporte