alberto_silvaEmbora por circunstâncias partidárias nunca tenha votado em Alberto Tavares Silva, não posso deixar de prestar-lhe justa e merecida homenagem no centenário de seu  nascimento.

Nasci e cresci em casa onde a política esteve sempre muito presente. As mais remotas lembranças são de 1950, quando com três anos de idade vi bem de perto o então candidato a presidente da república Getúlio Vargas, que se hospedou na residência  do dr. João Orlando de Moraes Correia, que disputava a prefeitura pelo mesmo partido. Tive acesso à casa em que estava hospedado o grande líder trabalhista por ser amigo e vizinho de João Orlando.

Em 1950 Alberto Silva estava concluindo o mandato de prefeito, iniciado em 1948, e apoiou no pleito municipal o candidato de seu partido Acrísio de  Paiva Furtado (UDN), que foi derrotado  por João Orlando.

     Foi a partir dessa época que comecei a ouvir falar de Alberto Silva e de seu irmão João Silva Filho, também grande líder político na cidade, que administrou por duas vezes com muita competência.

     Há poucos meses, três filhas do dr. João Orlando (Fátima, Francisca e Joana Rita) postaram  nas redes sociais, com ampla repercussão ,  fotografias tiradas durante a histórica visita de Getúlio a Parnaíba, em agosto de 1950. Essas fotos revelam que quatro eminentes brasileiros que viriam a presidir o país estavam presentes no banquete oferecido por João Orlando: Getúlio Vargas (1951-1954), Café  Filho (1954), João Goulart (1961-1964) e Castelo Branco (1964-1967).

        Como prefeito municipal Alberto Silva esteve presente nesse almoço e aparece em vários retratos.

       Recordo-me também  da campanha eleitoral de 1954 em que Alberto Silva, sempre pela UDN, foi eleito novamente prefeito municipal, derrotando o petebista José Alexandre Caldas Rodrigues. Nessa eleição meu pai Alcenor Rodrigues Candeira foi eleito vereador pelo PTB, exercendo o mandato no período da segunda administração  de Alberto Silva (1955-1958).

     Nos anos 50 minha família costumava passar as férias do mês de julho na praia da Pedra do Sal, então um pequeno povoado de pescadores, muita frequentada pela família Silva.  Foi nessa bela praia que passei a conhecer melhor o dr. Alberto.

     A partir de 1959, com o trágico falecimento de meu pai, a política deixou de ser assunto interessante para mim e para minha família.

     Mesmo temporariamente desiludido ,  nunca deixei de acompanhar a vida política da cidade e aplaudir as grandes ideias e obras.

     Em fins de 1965, concluindo o curso científico e com mala arrumada para ir estudar direito no Rio de Janeiro, assisti no auditório do SESC em Parnaíba a um importante debate entre dois grandes engenheiros que viriam a governar seus Estados: César Cals (CE) e Alberto Silva (PI). O cearense achava que o problema da energia elétrica  na cidade seria resolvido com a conclusão das obras da barragem de Boa Esperança, enquanto Alberto Silva entendia que a solução imediata, embora provisória, seria trazer desde logo a energia elétrica de Paulo Afonso, que poderia noutra etapa, como de fato ocorreu, ser substituída pela da Boa Esperança. Com a posição assumida e que acabou prevalecendo, Alberto Silva antecipou em alguns anos a solução do problema.

     De 1966 a 1971 passei a morar no Rio de Janeiro, deixando de acompanhar a vida política de Parnaíba.

     Quando  regressei à terra natal, em 1972, Alberto Silva exercia o primeiro mandato de  governador do Piauí, quando construiu muitas obras em todo o  estado: estradas, escolas, hospitais, instalação do Polo Petroquímico em Teresina,  ampliação do sistema elétrico e da rede de abastecimento de água, Estádio Albertão, Zoobotânico de Teresina, ponte Simplício Dias da Silva em Parnaíba e muitas outras.

     No plano cultural o governo Alberto Silva foi também rico de realizações: instituição do Plano Editorial do Estado, início da reforma e ampliação do Teatro 4 de Setembro, construção do Monumento aos Mortos do Jenipapo e o Museu do Jenipapo, criação da secretaria estadual de cultura.

     No livro “100 Fatos do Piauí no Século 20”, diz o jornalista e escritor Zózimo Tavares:

                                      Com criatividade e arrojo, Alberto Silva realizou

                                         um governo desenvolvimentista, aliado a um ambicioso

                                        plano de “marketing”. Trabalhou a auto-estima dos

                                        piauienses. Tirou o Piauí do anedotário nacional. Ficou

                                       conhecido como um tocador de obras e tornou-se um mito

                                       político. O Piauí experimentou no seu governo um surto de

                                       progresso, embalado pelo chamado “milagre brasileiro”.

                                      (…) Seu governo contou com o irrestrito apoio do piauiense

                                      Reis Velloso, o então todo-poderoso ministro do

                                     planejamento.

     Alberto Silva é o político parnaibano recordista no exercício de cargos eletivos, com cerca de 38 anos de mandato:

– prefeito de Parnaíba: 1948-1950 e 1955-1958

– deputado estadual: 1950 (renunciou)

– governador do Piauí: 1971-1975 e 1987-1991

– senador: 1979-1986 e 1999-2006

– deputado federal: 1994-1997 e 2007-2009.

     Se acrescentarmos nessa conta os vários e relevantes cargos públicos não eletivos que desempenhou ( CENORTE, POLONORDESTE, EBTU), concluiremos que Alberto Silva (1918-2009) dedicou-se à vida pública durante quase setenta anos.

     Alberto Silva era casado com dona Florisa com quem teve vários filhos.

     Todas as pessoas, inclusive as que se destacaram em sua época, estão predestinadas ao esquecimento, cabendo ao escritor  ou historiador proclamar e  difundir seus feitos  aos mais jovens, aos que ainda têm o ideal de um destino a ser cumprido.

     Eis, portanto, a razão pela qual presto este depoimento sobre Alberto Silva no centenário de seu nascimento.

Por Alcenor Candeira Filho