Ao iniciar este depoimento sobre Jefferson Rodrigues Moreira logo me vem à memória a imagem do cidadão exemplar, oficial do Exército brasileiro que integrou a Força Expedicionária Brasileira na Itália durante a Segunda Guerra Mundial.
Médico psiquiatra, bacharel em direito, professor de Medicina Legal na Universidade de Brasília, membro do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Parnaíba, Jefferson Moreira nasceu em Santa Quitéria-MA em 1912 e faleceu em Brasília em 2000.
É sabido que todos os homens, inclusive os que se destacaram em sua época, estão predestinados ao esquecimento, cabendo ao escritor ou historiador difundir-lhes os feitos e as virtudes aos mais jovens, aos que ainda têm o ideal de um destino a ser cumprido.
Na década de 1950 Jefferson Moreira foi em duas legislaturas deputado estadual no Maranhão, fazendo oposição aos caciques políticos Vitorino Freire e José Sarney.
No início dos anos 60 fixou residência em Parnaíba para dar apoio à minha família, profundamente traumatizada com o assassinato de seu cunhado e meu pai Alcenor Rodrigues Candeira, na praça da Graça, em 11 de outubro de 1959, dia da padroeira de Parnaíba – Nossa Senhora da Graça -, antecipado inexplicavelmente, em 1992, pelas autoridades eclesiásticas e legislativas para o dia 8 de setembro.
Jefferson Moreira e sua esposa Aldenora Moreira foram incansáveis na luta para que a justiça fosse feita com a condenação dos quatro assassinos, o que acabou não acontecendo na forma esperada: Clodoveu Cavalcante foi absolvido em julgamento realizado em Piripiri-PI, em 1964, enquanto seu filho caçula Veudacy Cavalcante foi condenado em Teresina, em 1966, a apenas seis anos de reclusão. Os outros dois réus – Jamacy e Clodoveu Filho – nunca foram julgados.
Na página inicial de meu livro O CRIME DA PRAÇA DA GRAÇA, publicado em 2008, fiz a seguinte dedicatória:
“Para minha mãe e tios
Maria de Lourdes Castelo Branco Candeira
Aldenora Candeira Rodrigues Moreira
Jefferson Rodrigues Moreira
– que em momentos difíceis tiveram a coragem de lutar por justiça
e a grandeza de perdoar.
Para meus irmãos
Carlos José Castelo Branco Candeira
Ana Maria Candeira Alencar
Tânia Maria Candeira Correia
– que também souberam perdoar.
Durante o tempo em que residiu em Parnaíba, entre início e fins da década de 1960, Jefferson Moreira exerceu a profissão de médico e foi secretário de planejamento na administração de Lauro Andrade Correia (1963-1966).
De junho a dezembro de 1965 trabalhei sob seu comando na secretaria de planejamento. Recordação inesquecível: numa sexta-feira do mês de julho, época de férias escolares, eu não conseguia datilografar corretamente expedientes de rotina administrativa por ele ditados e com a sensibilidade de quem era capaz de aprofundar-se nos segredos da alma humana bateu no meu ombro e disse: “Vá embora. Seu pensamento está na Pedra do Sal. Corra para lá, que na segunda-feira prosseguiremos nos trabalhos!”
Nesse período manteve permanente colaboração no jornal FOLHA DO LITORAL (cujo arquivo lamentavelmente não foi conservado), no qual publicou dezenas de textos sobre a segunda guerra mundial, de que participou ao lado dos Aliados como oficial-médico do Exército e integrante da Força Expedicionária Brasileira, força militar aero-terrestre constituída por 25.834 homens e mulheres sob o comando do General João Batista Mascarenhas de Morais. Jefferson Rodrigues Moreira foi, assim, testemunha presencial da participação do Brasil na Campanha da Itália em suas duas últimas fases – o rompimento da Linha Gótica e a Ofensiva Aliada final.
Segundo a enciclopédia Wikipédia, “o Brasil perdeu nesta campanha, mortos em ação, quatrocentos e cinquenta e quatro homens do Exército, e cinco pilotos da força aérea. A divisão brasileira ainda teve cerca de duas mil mortes decorrentes dos ferimentos de combate, e mais de doze mil baixas em campanha por mutilação ou outras diversas causa incapacitantes para a continuidade no campo de batalha”.
Durante todo o tempo em que residiu em Brasília Jefferson Moreira participou com muito orgulho dos desfiles militares do dia 7 de Setembro no pelotão dos Veteranos da FEB.
Concluindo: este testemunho é a homenagem que devo ao meu tio e padrinho de batismo Jefferson Rodrigues Moreira, chamado pelos familiares de Detinho. São palavras de quem muito admirava e estimava o tio que sempre ensinou que o estudo e o trabalho são o maior legado que se pode deixar às gerações mais novas.
Era casado com a única irmã de meu pai – professora universitária Aldenora Candeira Rodrigues Moreira – com quem teve quatro filhos: Jefferson Júnior (falecidos poucos dias depois do nascimento), Liana, Sônia e Maria de Jesus, todas profissionais de nível superior e residentes em Brasília.
Por Alcenor Candeira Filho
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