Não queira saber o que é passar um dia, horas mesmo, num desses postos de saúde de bairros bem afastados pra se saber como sofre o coitado de um pobre. Fui um dia desses assim tomando chegada somente pra ver o que se passa com aquela gente, os tipos de doenças mais comuns e o atendimento que é dispensado. Não que eu estivesse precisando, graças a Deus. Mas fui pra ver e sentir de perto como é o padecimento de quem procura algum conforto pra sua saúde.
Horrível aquilo. Coisa de, sem querer ser pedante e mal agradecido, arrenegar da hora que nasci. Aqui do meu lado, uma mulherzinha com uma criança de colo dizia pra quem quisesse ouvir que havia chegado de madrugada com o filho ardendo de febre. Mais aqui do outro lado outra senhora, mais puxada na idade, resmungava pra outra mais nova sobre uma dor no peito. Á minha frente um velho, barba por fazer e com a calça muito suja, fedendo a cigarro, queria porque queria ser atendido na frente.
Outro sujeito, cara de quem havia voltado da farra do domingo pra segunda, bafo de pinga, acompanhava a mulher e uma filha, menina de seus cinco anos, ainda sonolenta e choramingando. Ele dizia que estava desempregado e estavam passando necessidades vivendo com o pouco ganho do Bolsa Família. E pelo adiantado da hora a fila foi aumentando e mais gente espalhada por aquele cubículo e lá fora por debaixo de uns pés de paus. Se alguém soltasse um peido que fosse ali dentro seria um Deus nos acuda! Coisa de morrer uns cinquenta e outros trinta ficarem feridos debaixo dos escombros. O quadro geral era de penúria e que eu espero que agora mude.
E eu ali acompanhando toda aquela arrumação, aquela presepada, me pus a imaginar depois como anda o Brasil. O Brasil está doente e a coisa é grave. Pra morrer falta pouco. Vi e ouvi todo tipo e toda sorte de reclamações e sofrimentos. Em fila pra qualquer coisa couro de político sofre. Desemprego, atendimento à saúde, intolerância, violência, falta de compromisso com a população, falta de vergonha dos políticos quando deixam a situação chegar a esse ponto.
Chegar o Brasil ao ponto de, um grupo de mulheres no Espírito Santo baterem o pé e não deixarem policiais militares, seus maridos, saírem pra o trabalho. Por quê? Salários atrasados, condições de trabalho e insegurança. Antes a situação ficou da cor de café no Rio Grande do Sul e depois chegou ao Rio de Janeiro. Um ex-governador preso e levado pra penitenciária, feito ladrãozinho de celular.
Governadores com as mãos na careca em tempo de correrem doidos e sem saber o que fazer pra levar de volta pra casa aquelas desordeiras! Eu fico com medo de toda essa avalanche de revolta vir lá de cima pra cá embaixo e acabar derrubando um monte de casas ali pros lados do São Vicente de Paulo, onde mora a população mais pobre e mais sujeita à violência. Desemprego no Brasil nem se fala! Treze milhões de pessoas com a cara pra cima sem saber o que fazer da vida. A gente vai dar uma volta na praça da Graça, é uns olhando pra cara uns dos outros e outros se danando a entregar papel pra gente o dia todo!
Mas toda a culpa desse ônibus pegando fogo é a baixa política. Governadores, prefeitos, presidentes de assembleias legislativas, ministros, juízes, secretários, empresários roubando e deixando roubar, corrompendo e sendo corrompidos. Gente com os pés dentro da sala do presidente Temer, sendo citada em atos de corrupção! Ele próprio, assim como tentou fazer sua antecessora, fazendo de um tudo pra defender um aliado e agora ministro?
“Acidentes” em que morrem autoridades que detinham informações e decisões importantes sobre uma operação da Polícia Federal?! Aquela minha visita a um posto de saúde de periferia serviu pra ver como o Brasil está por uma peinha de nada. Seguro por apenas alguns fiapos. Onde se viu uma coisa dessas?! Eu ir a um posto de saúde somente pra ver como funcionava e de tanta coisa feia que vi e ouvi acabei foi voltando doente.