Este ano, a nova era do Ensino a Distância (EAD) no Brasil completa 10 anos. Durante esta década os cursos nessa modalidade estão cada vez mais presentes nas instituições de Ensino Superior do Brasil.
Somente no Estado, a Universidade Federal do Piauí (UFPI) conta com mais de 11 mil pessoas estudando através do computador e no Instituto Federal do Piauí (IFPI) passam dos 10 mil inscritos.
Surgido dos antigos cursos por correspondência há 20 anos, a modalidade a distância só tomou força no Brasil, em 2004, depois que o então presidente Lula incentivou as universidades públicas a democratizarem a educação.
Dessa forma, o Ensino Superior atingiria pessoas onde a universidade não chegava. A ideia era que os o programa formasse mais profissionais da área da educação que estava em déficit para o ano 2005.
Com o avanço tecnológico e o empenho das mais de 70 instituições públicas, o EAD progrediu no país, através da Universidade Aberta, e transformou a realidade de cidades no interior dos estados brasileiros.
A professora Marizete Silva Santos, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Gestão em Educação a Distância, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), conta que a expansão desse tipo de ensino trouxe avanços por conta do menor custo e da qualidade educacional.
“É perceptível como o EAD transformou a vida das pessoas no país. Exemplo disso é em Afrânio, uma pequena cidade na fronteira de Pernambuco, que não tinha perspectiva de crescimento, depois que a oferta de cursos chegou por lá o município se desenvolveu, houve uma dimensão maior na economia. Outro caso semelhante aconteceu na Bahia onde uma aluna nos relatou a experiência”, revela.
A professora ainda ressalta que o sucesso do EAD aconteceu devido a parceria entre as instituições que compartilham componentes fundamentais para esse tipo de ensino como material pedagógico, tecnologia e estrutura. O preço para manter os alunos também foi fator determinante para o avanço.
Enquanto um estudante presencial custa R$ 8 mil reais aos cofres públicos, um aluno que se gradua a distância possui um investimento bem menor.
“A versatilidade da modalidade a distância é grande, nessas cidades pequenas, por exemplo, podemos utilizar uma estrutura física de escolas de Ensino Médio, onde adaptamos e ajustamos às necessidades do aluno.
Isso não quer dizer que estamos substituindo as modalidades de curso, são formas diferentes de ensino, mas ambas possuem o mesmo comprometimento e qualidade”, completa Marizete.
WorkTec discute Ensino a Distância no Brasil
Esta semana, o Campus Teresina Central do IFPI sediou o IV WORKTEC – Workshop em Tecnologias na Formação de Professores. O evento discute a qualidade do Ensino a Distância no Brasil e compartilha as pesquisas, pedagogias e as tecnologias que são utilizadas na área.
Ao todo mais de 500 pessoas dentre professores da Educação Básica, professores universitários, estudantes de graduação e pós-graduação, profissionais da área e pesquisadores participaram nos três dias de feira.
Durante o evento foram apresentados trabalhos científicos, palestras, mesas-redondas e oficinas com temas voltados a essa modalidade. O Workshop foi organizado pela Unidade Acadêmica de Educação a Distância e Tecnologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e pelos servidores do IFPI mestrandos em Gestão e Tecnologia em Educação a Distância.
“Trazer o WorkTec para o IFPI foi muito importante para disseminar e amadurecer mais ainda as noções, os aspectos, a evolução no que se refere às tecnologias aplicadas à educação, mais especificamente na educação a distância.
Com o evento todos nós ganhamos, inclusive a a instituição, os estados envolvidos e o país pois aqui estamos trocando conhecimentos que ajudarão a avançar com a educação”, explica Tiago Sousa, membro da organização do evento.
Os desafios do Ensino a Distância no Brasil
Dados do Ministério da Educação (MEC) apontam que 75% das universidades públicas já oferecem cursos de graduação e técnico pelo modo a distância, nas faculdades particulares é apenas de 3%.
Entretanto, a iniciativa privada disparam na frente em termos contingenciais por conta do capital estrangeiro que é injetado nessas instituições, fazendo com que esses cursos sejam mais populares nessas faculdades.
Isso significa que apesar dos avanços da EAD nas universidades brasileiras serem bem expressivos, esse tipo de ensino ainda tem muito a evoluir, é o que afirma Márcia Luiz, professora do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Gestão em Educação a Distância, o primeiro e único curso especifico da área do EAD no país.
“Nós temos muito o que melhorar nessa modalidade no Brasil, apesar dos avanços da Universidade Aberta ainda estarem engatinhando se compararmos com o que é feito em Portugal há mais de 30 anos.
Lá existe uma instituição de ensino superior somente para o EAD diferente daqui onde nosso ensino é pulverizado em polos espalhados por todo o país”, explica.
A professora ainda ressalta que esses desafios são muitos, como a resistência de professores com a utilização das novas tecnologias e o aprimoramento do Ensino a Distância. Entretanto, o principal empecilho é a qualidade da internet no Brasil cuja banda larga ainda é cara e o sinal no interior dos estados é franco.
Para a professora Marizete, a falta de investimento nos cursos de pós-graduação em EAD é um problema para a modalidade no país. “Apesar de estamos há 10 anos dessa etapa, só temos um curso de pós graduação, se tivéssemos um investimento maior teríamos outros.
O curso foi aprovado em 2012, já estamos na quarta turma e temos resultados positivos. Através desse curso é que iremos melhorar a qualidade da modalidade no país, mas infelizmente nós somos o primeiro e único programa de mestrado”, finaliza.
A evolução do ensino fora da sala de aula
Os pesquisadores afirmam que o Ensino a Distância é um caminho sem volta, no WorkTec não faltou exemplos da força da internet como veículo de transformação educacional. Foi através de vídeos no YouTube que a designe L’Hosana Céres de Miranda está ensinando costura para milhares de pessoas no mundo.
A professora de Tecnologia da Costura no IFPI conta que percebeu que as alunas que gravavam os ensinamentos de costura tinham um maior desempenho do que os outros estudantes que apenas observavam.
Então, com a ajuda do técnico do laboratório elaborou um planejamento de aulas para que todos os alunos também pudessem aprender mais rapidamente.
O resultado das aulas em vídeos foi que mais de 500 mil pessoas interessadas nas técnicas de costura e modelagem começaram a aprender e conseguiram mudar de vida.
“Depois de vimos que os vídeos estavam fazendo sucesso criamos um blog chamado Bêabá da Costura e de repente gente do mundo inteiro começou a mandar mensagens.
Sem querer eu entrei nessa área, eu não sou professora dessa modalidade, mas acabei entrando sem perceber. Pelos relatos, as pessoas me falam que estavam sem trabalho e aprenderam a costurar para trabalhar, outras conseguiram se aprimorar”, relata.
Fonte: Meio Norte